Trevas III

1.8K 255 144
                                    

"Mas, ainda que a situação fosse muito difícil, José não se rendeu aos desejos da carne. Antes, ele se lembrou do quanto era importante sua comunhão com o Senhor, e pensou: "Como poderia eu, então, cometer algo tão perverso e pecar contra meu Deus?".

Gênesis 39:9

Soraya correu em uma velocidade absurda, quase inexplicável.

Adentrou a casa com pressa; sua respiração estava bastante ofegante e descompassada, o peito subia e descia com força, em uma robusta evidência do seu nervosismo.

Virou-se para o lado, observando seu pai sentado sobre o sofá branco de couro, folheando a bíblia.

— O que houve, Soraya? — a entonação foi grave, mostrando certa chateação, mas aquilo não incomodou a loira.

— Só fiquei nervosa, papai. — disse com sinceridade, regulando a respiração.

— E por que estava tão nervosa? — a sobrancelha foi-se arqueando, bem levemente; o reverendo tirou o óculos de leitura, que dantes encontrava-se em seu rosto, fitando-a.

— Simone me contou que você mente. — o sorriso inocente nos lábios finos cortava o clima causado pelas palavras ditas.

O Pastor Hector ficou imediatamente desnorteado, sem jeito algum. Aquilo soou como uma ameaça indireta, delicada e ácida, proferida da boca inocente de sua filha.

— E você acreditou? — tentou não modificar o timbre, nem demonstrar o baque causado.

— Ora, papai, todo mundo mente.

Soraya era casta em um nível imoral.

Ela costumava falar o que dava-lhe na telha, responderia qualquer pergunta que lhe fosse feita e usaria de toda sua sinceridade.

A Thronicke não fazia parte do círculo de pessoas, as quais mentem com frequência. Ela não mentia, afinal, será mesmo que todo mundo mente?! O senhor Thronicke ficou aflito, o coração palpitou, gelou, quase tremeu. Soraya o fitou, com os olhos calmos e um sorriso angelical, passando um pouco de segurança.

— Vou subir. Avisa para a mamãe que já cheguei. — disse a frase de forma alta, enquanto subia as escadas correndo, ouvindo o ranger alto da escadaria.

Adentrou seu quarto com rapidez, jogando-se em sua cama, que parecia mais confortável do que o normal.

Embolou-se por todo lado, enfim virando-se e fitando o teto, onde havia pequenas estrelas coladas.

Por mais que Soraya fosse ingênua, ela não era burra.

Guardou bem as falas ditas por Simone, mesmo que isso fosse sua menor preocupação naquele momento.

— Deus, e se Simone não quiser mais falar comigo? — A voz tímida, quase sussurrada, era direcionada a um monólogo vicioso com Deus. Só ela entenderia sua preocupação.

Ao contrário do que muitos pensam, a Diaba, diferente de Deus, não é onipresente. Isso quer dizer que ela não está em todos os lugares, como muitos dizem. E naquele exato momento, a Tinhosa estava em um belo racha.

Aquela máquina negra não corria, voava; estava prestes a vencer pela milésima vez.

Era de praxe Lúcifer ser a vencedora, a não ser que o racha fosse com Deus. Aí, ela já não garantia nada.

— Simone, desacelere, sério! — A expressão nervosa e amedrontada de Abigail fazia Tebet abrir um riso enorme. — Simone! — O tom estridente satisfazia-a. Adorava brincar com Abi, principalmente daquela forma.

No Limiar do InfernoOnde histórias criam vida. Descubra agora