Prólogo

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— Não, não, não... — Sussurrou Tony para si mesmo. — Por favor, amor, agora não. Escuta o papai e espera mais uns meses... — As lágrimas escorrendo de seus olhos ao compasso que as contrações iam aumentando, tentava manter a respiração em um rítmo regular, com medo de ter um de seus ataques de pânico e prejudicar o bebê, não era a hora dele nascer, o queria... mas não podia.

Não quando estava sozinho e desprotegido. 

Estava assustado, não por ele. Jamais por ele, mas pelo pequeno que sequer nasceu, mas já era motivo de todo o seu amor e significava os melhores anos com o homem que amou. 

— Olá... Tony, certo? — Cumprimentou a enfermeira com um sorriso gentil. Tinha cabelos e olhos castanhos, jovem demais, com certeza uma residente.

— Você gosta de crianças? — Questionou Tony, sem se importar em ser gentil, precisava ser rápido, talvez esteja botando tudo a perder, mas era sua única opção.

— Gosto, amo crianças... pretendo adotar um dia. — Tony pôde perceber que ela era daquelas pessoas que falam antes de pensar.

— Adotar? — Ele inspirava com força e soltava devagar, como haviam pedido para ele fazer quando chegou ao hospital, ao menos acha que foi isso que ouviu, estava desesperado.

A moça pareceu ficar constrangida, mas Tony não se importou.

— É... eu não posso ter filhos, sabe? Eu até tentei com meu ex-namorado, mas não deu certo... — Ela se aproximou de si — Como está se sentindo? Os médicos já irão chegar, pelo que vejo o garotão já está quase na posição certa. — Tony extremeceu ao imaginar o seu bebê saindo daquele jeito, definitivamente não conseguiria, era impossível.

— Parto normal?! Não... não vai ser normal...

— Sério? Mas seu marido disse que seria, que era seu sonho. — É claro que tinha que ser idéia daquele idiota parado no tempo e com morais distorcidas. 

É claro que ele estava pouco se fodendo para como seria, só escolheu esse porque sabia que seria o que Tony mais sofreria. Ok, talvez Tony esteja mais irritado do que deveria e essa era realmente o que havia planejado, mas caralho... como doía.

Tony seria um covarde agora e não sente remorso. 

— Cesária... cesária... — Disse com dificuldade. A moça hesitou uns instantes antes de voltar a responder.

— Certo, vou avisar os médicos e já volto, eles estão se preparando para um natural.

Sua cabeça à mil, a moça parecia um tanto ingênua, precisava inventar uma história que ela acreditasse sem questionar... um marido abusivo?

— Não, não, não... meu marido... ele saiu, já voltou? — Tony achou que conseguiria fugir, mas ele o achou, estava mais fraco e com a barriga daquele tamanho não conseguiu se defender, tampouco podia sair do hospital, seria perigoso para o bebê.

— Ainda não... deseja esperar por ele?

— Não, NÃO! — Gritou ao sentir uma pontada aguda — Por favor, me ajuda... não deixa ele pegar o meu bebê... — Tony sentia como se todo o líquido de seu corpo estivesse sendo extraído e transformado em suor, grandes gotículas escorrendo por seu corpo e ensopando suas roupas e lençóis.

— Se acalme... — Disse segurando sua mão — se acalme, pense no bebê, respire.

— Por favor... — Ele puxou sua mão da dela subindo sua roupa de gestante, sem se importar em ficar exposto na frente de uma mulher ou o que ela fosse achar dele. — Ele fez isso... não posso deixar ele fazer o mesmo com meu bebê... — Havia uma grande cicatriz em seu peito, várias, na verdade. Não era uma total verdade, mas com certeza não era mentira, pela expressão de horror da moça, pôde perceber que ela havia acreditado em sua história.

— Meu Deus! Precisamos chamar a polícia... ele...

— Não, não... — Tony se perguntou quem era aquela menina e em que mundo ela vivia, como não os conhecia?! — Ele é militar, querida... — Se fosse apenas militar, teria sido mais fácil de se livrar. Tony tentando falar mais calmamente, a garota parecia cada vez mais horrorizada.. — Tem homens na polícia, eu consigo me virar, sabe? Mas não posso ficar com o bebê, não posso... 

Talvez o fato dela não saber pudesse o ajudar, seria melhor assim... 

— Não estou entendendo... — Ela estava pálida.

— O bebê tem que nascer morto.

— O quê?!

— Não grite... não quero matar o meu bebê. Não é isso... mas ele tem que achar que sim. Por favor... você já fez um parto sozinha?

— Você é louco!

— Sou... aquele homem me deixou assim. — Louco, ele sempre foi. Mas precisava ser extremista no nesse momento — Talvez você consiga o dar para adoção, talvez consiga cuidar dele...

— Eu seria despedida... pior, presa!

— Não, não seria. Eu juro que não vou deixar nada acontecer com você... — É difícil de acreditar, afinal, ele estava naquele estado... mas por seu filho ele faria qualquer coisa, pediria ajuda a antigos amigos.

— Eu não posso... desculpe.

— Eu preciso que me ajude, você não pode deixar ele a mercê daquele homem...

— Por que não o denuncia?

— Você não entende?! Você com certeza não é daqui... — Aquele homem era poderoso normalmente, mas aquele homem com toda a fortuna Stark para comandar... aaa esse sim era o demônio.  — eu juro que nada vai te acontecer, eu sei que é difícil, deve ter algum médico em quem confie, não? Se não tiver, eu não me importo, só salve o bebê...

— Por que eu?

— Você me parece ser uma boa pessoa...

— Eu poderia te entregar...

— Você pode decidir não me ajudar, mas sei que não vai fazer isso.

— Como pode ter tanta certeza?

— Eu sou casado com o pior dos homens há 1 ano, ele parece um anjo por fora... fui enganado uma vez, não vou errar de novo. — Não era totalmente verdade, mas ela não o conhecia, então era uma verdade absoluta

— Por que não tenta fugir?

— Eu achei que a gravidez fosse ajudar... — Mentiu — agora sei que não. Pretendo fazer isso, mas seria mais difícil com um bebê... — Tony a estava convencendo, ao menos queria acreditar que sim.

— Você viria atrás do bebê se conseguisse?

— Não serei hipócrita, querida... é tudo que mais quero. Mas imagino que se a família já estiver apegada a ele, seria injusto o tirar da família que o salvou, algo que eu não conseguirei. — Agora não só o suor o molhava, as lágrimas também, a moça perdeu toda sua postura ao ver as lágrimas escorrendo em abundância.

O bebê estaria mais seguro longe da bagunça que é a vida de Tony.

— Tudo bem... vou fazer isso. Vou te sedar... — Tony sorriu, o primeiro sorriso real lançando há meses. Por um milésimo de segundo, a moça desejou que ele sorrisse mais, era lindo quando sorria.

— Obrigado, obrigado... eu prometo que não será pega.

— Vou confiar em você, pretendo sair do hospital depois disso. — Avisou.

— Tudo bem... — Tony sentiu seu corpo ficando sonolento. Em um último raio de sanidade se pegou girando o anel no dedo anelar, torcendo para que chegassem à tempo.

— Aliás, se você conseguir fugir e quiser procurar por ele, eu me chamo-

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