'Cause it was never mine

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No outro dia não conversei com Neil, nem no outro, nem nos outros. Apesar de eu não concordar com esse tipo de atitude, eu estava tendo. Da minha parte eu queria adiar aquilo, da parte de Neil ele queria conversar e me procurava todas às vezes para isso, mas eu sempre adiava e dizia que não podia e quando estivesse pronto conversava. E dessa vez eu não podia escapar, pois eu não tinha para onde ir e Neil também não. Ainda que não tivesse aceitado o fato de precisar falar com ele, eu tive que fazer. Contra minha vontade, mas tive.

- Por onde quer começar?- eu perguntei me sentando no sofá

- Narcisista?- indagou irritado

- Desculpa- foi tudo que eu disse

- Como me chama de Narcisista e quer que eu aceite apenas desculpa?- argumentou. Ele tinha um ponto

- Você quer ter essa conversa? Ok- respirei fundo- Olha, você precisa reconhecer isso. Você não considera meus sentimentos na maioria das vezes. Tipo quando você queria ir para Paris e eu não. Eu estava mal e você só pensava nos croassit, museus e quanto iria se divertir lá

- Eu não sabia que você tinha ficado tão mal por aquilo- se sentou ao meu lado- Mas você concorda que é por que você esconde muitos seus sentimentos?

- Talvez

- Você só me contou isso dias depois.

- Eu sei, eu sei Neil. Eu prometo que eu vou tentar, mas você precisa prometer tentar também- Eu olhei para ele e ele sorriu. Por que ele tinha um sorriso bonito?

- Prometo- ele deu um beijo na minha bochecha, como se não fosse nada. Que saudades da gente.

Ele sorriu de novo e eu tampei seu sorriso com a mão. Não aguentava olhar para ele sem querer tentar voltar atrás. Mesmo sabendo que a beleza dele é um grande step para isso.

Neil prometeu parar de sorrir para mim, o que não deu muito certo porque quando ele me deixou no trabalho, ele sorriu de novo e eu pensei que ficaria com aquele sorriso pelo resto do dia.

No entanto, mesmo que Neil tenha quebrado sua promessa, eu não fiquei chateado.

Passei as últimas horas fazendo fichas e atendendo pacientes. Neil desenterrou uma memória reprimida que eu tinha, e eu não sabia como me sentia sobre isso. A perda de Zain, foi difícil para mim. Apesar de todos os esforços, ela não conseguiu aguentar. Zain tinha 12 anos e morreu a base de remédios. Sabe o que é mais engraçado sobre tudo isso? Uma semana antes de ela se matar, ela me contou sobre o caso do Heath Ledger. Acho que fui inocente em acreditar que Zain fosse ver algo que não fosse escuridão

Como psicólogo, é meu trabalho ajudar as pessoas a lidar com seus traumas e emoções difíceis, mas quando se trata da minha própria dor, eu muitas vezes me sinto impotente. A morte de Zain foi um dos momentos mais difíceis da minha vida, e a lembrança ainda me dói profundamente.

Às vezes, eu me pergunto se eu poderia ter feito mais por ela. Talvez eu pudesse ter sido mais insistente em procurar ajuda de outro profissional. Talvez eu pudesse ter desistido dela mais cedo. Mas, no final das contas, eu sei que a decisão de Zain foi dela e que a depressão pode ser implacável.

Quando penso nela, quando penso no fim do meu casamento, me pergunto o porque o sofrimento continua. Porque mesmo depois de sair de Londres, nada mudou. Minha dor, minha alma não ficou lá como achei, na verdade ela viajou comigo até Marlow, e ainda está aqui. Mudar de cidade, casar e conhecer alguém novo, não mudou nada no meu coração

Essa sensação de carregar o peso do passado consigo pode ser bastante angustiante. Mesmo quando tentamos seguir em frente, nossas emoções podem ficar presas em momentos dolorosos e difíceis. É como se estivéssemos constantemente lutando contra um fardo invisível que nos impede de encontrar a felicidade.

Between The Marrige And Love vol 2Onde histórias criam vida. Descubra agora