15: o passado de Giovanna e Haridade

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Giovanna Cabral
20:55PM

Depois que a Lorena saiu fiquei algum tempo parada na porta de casa com o Lucas. Rio de Janeiro é um dos lugares mais quentes do Brasil, mas esse ano parece estar sendo o dobro de quente. Lucas começou a brincar na rua com algumas das crianças me fazendo ficar o observando dando risada. Mas logo a minha visão foi tampada por um abdômen levemente definido, com entradas que me levariam até o paraíso. Levantei o meu olhar lentamente passando por cada canto daquele corpo. Haridade não tem aquele corpo bombado, é um magro definido. Completamente gostoso.

—Olha se não é preta mais gata da nova maré. —Não consegui evitar soltar uma risada.

—Até que você é bonitinho, Haridade. —Balancei a mão apontando pra ele que logo se sentou na calçada do meu lado.

—Fala tu, não me esculacha não que sei que sou um gostoso. —Mais uma vez dei risada.

—Autoestima é tudo né? Mas se você diz, quem sou eu pra discordar. —Ele bateu nossos ombros me fazendo dar uma caída pro lado.

—Quando vamo dar uma volta como aquela de novo em? —Me virei o observando.

—Nem pensar. Aquela foi a única vez. —O observei arqueando as sobrancelhas no momento em que ele deu risada. —Eu to falando sério, Haridade.

—Por quê? —Neguei com a cabeça olhando na direção do Lucas que chutava a bola na barriga de uma das meninas. —Não posso saber o motivo?

—Lucas, pede desculpas! —Lucas se aproximou da menina que estava abaixada tocando as costas dela, mas ela não poupou tempo logo o empurrando e pegando a bola. —Essas crianças...

—Não foge do assunto, Giovanna. —Haridade me cutucou fazendo eu me virar.

—Tenho vários motivos... —Ele continuou me encarando como se esperasse que eu continuasse falando, me fazendo soltar um suspiro. —Eu não sei o seu nome, não sei quem você é, não sei quem é sua família, não sei da sua história... Ou seja, você é um ninguém pra mim, Haridade.

—Como assim? Você precisa saber disso por qual motivo? —Suspirei mais uma vez mordendo o meu lábio inferior.

Da última vez também começou assim, eu não sabia nada sobre ele, não sabia quem ele era. A única coisa que eu sabia era o vulgo e que ele era um dos chefes do tráfico. Abandonada pela minha família não pensei duas vezes em me apegar na primeira pessoa que me demonstrou afeto. Eu realmente pensei que aquilo era amor, na cabeça de uma garota de 14 anos aquilo realmente, realmente era amor.

Tudo começou no meio de uma baile funk, fui subindo pro camarote e de repente me deparei com ele, 2D. Ele era lindos aos meus olhos, um cara que me respeitava e me enaltecia. Não rendi com facilidade pra ele, gostava de como ele me colocava em um pedestal, em como ele gostava de me conquistar. Depois de quase 2 meses acabei cedendo ao desejo.

Um homem de quase 30 anos com uma garota de 14, todos diziam o quanto era errado e o quanto ele era uma pessoa ruim. Mas eu estava cega... Imaginava nosso futuro, nossos filhos e uma vida feliz. Tudo mera ilusão. Na primeira briga por motivos de ciúmes dele comigo e o próprio irmão, eu tomei a primeira porrada. Pensei que iria morrer no momento em que ele me deu o tapa.

Ao ver a minha reação ele se aproximou implorando por desculpas. No primeiro momento eu apenas sai de casa sem rumo algum, não tinha para onde ir, eu me vi no fundo do poço. Mas mesmo com 15 anos eu me ergui, comecei a trabalhar com alguns bicos e consegui morar sozinha. Mas tudo era um pesadelo, não conseguia sair de casa pois ele estava sempre me observando. Tudo piorou quando ele deixou de ser gerente da boca e assumiu cargo de chefe.

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora