01: liberdade

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Lorena Castro02 de maio de 202213:13PM

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Lorena Castro
02 de maio de 2022
13:13PM

Estou sentada e encarando meu bebê. Hoje eu e Lucas estávamos de mudanças. Estávamos saindo de São Paulo e indo para o Rio de Janeiro atrás de uma vida melhor, já que em São Paulo eu não conseguia sequer ter uma noite de sono tranquila. Sentia medo de que ele voltasse, que o tirasse de mim ou que tirasse nossas vidas.

Há quatro anos atrás tudo aconteceu e naquela noite Lucas foi me entregue. Ele é meu anjo, é minha luz no meio da escuridão. E agora com três aninhos eu sei o quão bem fiz em não tê-lo tirado de mim, de não ter abandonado ele em momento algum.

Eu não contei à ninguém, eu não conseguia dizer que havia sofrido abuso sexual. Escondi de todos, até mesmo da minha mãe e toda a família.

Quando descobri a minha gravidez, 4 meses depois, sentada no banheiro do meu quarto eu fiquei sem chão. Eu tomei remédio e tudo por medo disso acontecer, mas tudo saiu do controle. Sentada no chão abraçada com minhas pernas e sem entender o que eu faria depois disso eu me vi no fundo do poço.

O que eu iria dizer para todos? Uma garota de dezessete anos grávida. Fruto de um abuso sexual. Naquele momento eu só queria morrer mais uma vez... Eu queria tirar aquela dor de mim, eu não queria aquele bebê de forma alguma.

Mas respirei fundo tirando forças que eu nem sabia que existia em mim e encarei o espelho dizendo que ele não tinha culpa. Ele só era um bebê que não tinha nenhuma ideia que estava vindo por um meio negativo, mesmo o rejeitando eu me levantei dizendo a mim mesma que tudo iria ficar bem. E naquele momento eu vi que talvez seria a luz no fim do túnel.

Eu escondi por um tempo, mas quando a barriga foi aparecendo fui obrigada a contar. Minha mãe surtou, me xingou de todos os nomes possíveis, me colocando para fora de casa.

Você é uma vagabunda, grávida e nem sabe quem é o pai. Quero você fora da minha casa, agora mesmo! Nunca mais quero te ver, você é minha vergonha. Eu tenho nojo de você, Lorena, eu tenho nojo! Sai daqui agora. —Suas palavras me torturavam ainda mais.

Eu sabia quem era o pai, eu sabia que tinha que conta-lá, mas não consegui. As palavras simplesmente não saíram. Arrumei todas as minhas coisas e sai de casa sem rumo algum. Não sabia para onde iria, mas simplesmente deixei tudo para trás com o coração nas minhas mãos.

Por sorte encontrei alguém que me ajudou. Giovanna me abriu as portas da casa dela, me ajudou com a gravidez. Pela primeira vez contei a alguém tudo que aconteceu e ela me ajudou todas as noites quando eu acordava gritando com pesadelos ou quando começava a ter crises de pânico.

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora