18: ele

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Lorena Castro

O mundo parou naquele exato segundo, meu corpo congelou e a única coisa que eu sentia era o medo exalando por cada canto do meu corpo. Me esconder atrás do Marechal me fazia pensar que ele iria me proteger, que nada iria me atingir, mesmo sabendo que era uma grande mentira. Mas ver ele, depois de anos parado na minha frente com os olhos cravados na minha pele, me fazia acreditar em qualquer coisa.

Seus olhos, seu rosto, o sorriso maldoso nos lábios continuavam exatamente igual. Como pode passar anos e ele continuar o mesmo? Como ele pode continuar vivo depois de todas as atrocidades?

—O que foi, Lorena? —Escutei a voz da Giovanna e como se fosse um passe de mágica o choro entalado na garganta foi solto. —Lorena?

—Eu não sei se eu tô alucinando, mas ele tá aqui, Giovanna. Me diz que eu só tô vendo coisas, me diz que não é ele parado ali. —Ainda distante apontei na direção dele.

—Ele quem? —Marechal perguntou colocando seus braços ao meu redor.

—Achei que nunca mais iria te ver, boneca. —Ele se aproximou e no mesmo segundo Marechal o empurrou.

—É melhor você se afastar! —Giovanna gritou se colocando na minha frente. —Pedro!

—O que tá acontecendo? —Haridade apareceu na porta do restaurante.

—Lembra do que eu te contei? Foi ele que fez isso com a Lorena. —Ele olhou para o homem e seus punhos se cerraram.

—É ele, Marechal. O desgraçado que matou tua família. —Levantei o meu olhar na direção do Marechal que ainda me segurava.

—Lorena, o que ele fez contigo? —Ele me soltou segurando apenas o meu rosto. —Me diz, o que ele fez contigo?

Apenas balancei a cabeça negando, eu não queria voltar naquele dia mais uma vez, não queria ter que explicar mais uma vez e sentir toda a dor e culpa me consumir.

Por que não voltei para casa mais cedo?

Por que eu saí de casa?

Por que me aproximei do carro?

Por que não lutei para sair?

Perguntas que martelam a minha cabeça desde que tudo isso aconteceu, há quase 5 anos. Marechal se afastou de mim indo na direção do homem dando um soco em seu rosto que caiu no chão quase apagado. Carros vieram e pararam ao nosso lado já pegando ele e jogando dentro do porta-malas. Respirei fundo tentando parar aquele choro, mas era como se eu não conseguisse, como se eu precisasse colocar tudo pra fora.

—Eu não consigo parar... —Eles me olharam enquanto eu me abaixava próximo ao chão. —Não consigo parar de chorar...

—Lorena... —Giovanna se aproximou me abraçando, o abraço que sempre me fez me sentir segura. —Tá tudo bem, pode chorar, coloca tudo pra fora.

Mõmae? Por que tá chorando? —Lucas também se aproximou junto com a Lalai me abraçando. —A senhora ficou tão triste porque eu também chorei?

Meu corpo se rejeitava até mesmo a abraçá-los, não conseguia ter controle algum. Apenas sentia um alívio em meu peito a cada lágrima derramada.

UM LANCE PERIGOSO (MORRO)Onde histórias criam vida. Descubra agora