P.o.v Maria Luíza
Nossos olhares se repeliam cada vez que se encontravam acidentalmente. Aquela situação estava se tornando incômoda e eu me perguntava por quanto tempo ficaríamos assim. Talvez mais um dia?
Não estávamos sem nos falar. Mas toda vez que eu falava sobre a excursão que faríamos no Rio de Janeiro, Júnior expelia o ar pela boca, chateado, e desviava de assunto. Eu sabia que a notícia o pegara de surpresa, que ele tinha planos para nós três, que ele queria comemorar nosso aniversário de casamento na nossa casa à margem da represa de Itupararanga, no condomínio Veleiros de Ibiúna, mas eu era bailarina e tinha que honrar meus compromissos com o Ballet São Paulo. Eu tinha que viajar para o Rio de Janeiro. Eu era a primeira bailarina da companhia.
Júnior se serviu de uma xícara de café e pôs leite, tomando-a devagar ao mesmo tempo que seus olhos se atentavam aos seus investimentos, pelo iPhone. Sua gravata, para variar, estava amassada. Eu teria arrumado com todo o deleite, como fiz ontem de amanhã, como fiz anteontem, como fiz na semana passada, como eu sempre fazia. Mas naquela manhã, não. Não enquanto ele não sorrisse pra mim.
— Você leva o Pedro Henrique para a escola ou eu levo? — ele perguntou, se focando por um instante nos meus olhos.
Mordi o lábio inferior, pus manteiga na minha fatia de pão quentinho, que eu comprara a pouco na padaria defronte ao nosso prédio.
— Você leva — respondi. — Hoje vou de moto à companhia e tenho medo de levá-lo na garupa.
— Está bem — Júnior assentiu.
Esbocei um meio sorriso. Júnior retribuiu, mas sem entusiasmo. Doía em mim que ele não estivesse feliz como eu estava me sentindo. A coisa que eu mais queria era poder ver em seus olhos azuis o brilho de jovialidade, que me encantou quando nos conhecemos há oito anos, quando eu era uma garota de dezesseis anos e era solista da Promoarte.
Foi um clichê. Fui há uma festa de aniversário de uma amiga e ela me apresentou seu primo. Conversamos, rimos, trocamos um selinho, começamos a namorar depois de alguns meses, e dois anos depois, nos casamos na Catedral da Sé. Pedro Henrique nasceu como fruto de um amor entre dois jovens que prometeram se amar até o fim.
Éramos felizes, apesar da minha profissão de bailarina exigir de mim compromisso e disciplina. Se quando era adolescente minha rotina era puxada, agora, aos vinte e quatro anos e principal dançarina de uma das principais companhias do Estado de São Paulo, eu tinha que me virar do jeito que dava para estudar, dar aula, dançar e ser mãe e esposa.
Júnior sabia que se casar com uma bailarina exige sacrifícios. O balé era parte integrante da minha vida e eu queria que ele entendesse isso e me desse apoio.
Pedro Henrique irrompeu na cozinha gritando.
— Mãe, já tô pronto! — um dos dentes dele havia caído, deixando uma janelinha linda.
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Contos eróticos de bailarinas ousadas
ContoSexo. Se o tema por si só desperta interesse, imagine feito por bailarinos que desconhecem o significado da palavra pudor. Em cada conto uma história picante, narrado por Danielle, Duda, Antonella, Bombom e todas as principais bailarinas da cronolog...