Life and Death

Sozinhos

Mila e Germund haviam reunido todos na praia enquanto davam os toques finais a sua invenção que, de uma forma nua e crua, era um enorme canhão. Germund rolava uma espécie de esfera gigante de metal pelo chão e a encaixava em uma abertura na parte de trás do canhão enquanto a diabrete explicava sua máquina.

—É bem complicado, apesar de parecer simples, a gente vai entrar naquela bola de ferro e sentar nos assentos reforçados de segurança, o Germund vai calcular a rota certa e o canhão vai disparar a gente em direção a praia.—Os membros da equipe 11, as novas lendas de Olímpia, heróis de Ivory, todos calados, olhando Mila como se esperassem o fim de uma piada sem graça.

A diabinha, por sua vez, não tirava o sorriso confiante dos lábios.

—Relaxem, é completamente seguro.

—Calculei 75 por cento de sucesso e 25 por cento de uma morte agonizante por afogamento em um tiro errado no mar.—Germund dizia atrás dela, logo após, uma placa de metal se desprende da máquina e acerta a nuca do robô em cheio, tornando o silêncio das lendas ainda mais incrédulo.

—Ouviram? Só 25 por cento de chance da gente se foder!

Os semideuses continuavam em silêncio, nem mesmo Gallien ouvirá tamanho absurdo vindo de outro semideus, apesar da situação lhe dar uma sensação de déjà vu com um de seus antigos amigos, um anão ferreiro que só tinha ideias absurdas, mas que no fim, sempre deram certo. O silêncio só foi quebrado por Toga, com uma frase ainda mais absurda.

—Jaci me livre, eu não entro nesse troço nem que Tupã me acerte um raio.—Ela mal tem tempo de terminar sua frase antes de um raio realmente acertar o chão alguns metros a seu lado, fazendo-a saltar com a surpresa.—Eita porra!

Uma voz alta e poderosa pôde ser ouvida até mesmo na praia de copacabana, a algumas milhas de distância:

Joder, che ajapo peteĩ javy! (Cacete, errei!)

Vai, provoca os Deuses mesmo, sua jume-

O pensamento veio em sua mente na voz de Zakk e foi prontamente ignorado. Coisa que ambos haviam aprendido: ignorar o pensamento um do outro e bloquear o acesso às suas mentes. Pensamentos pervertidos?—dos quais eram mais comuns vindos da mente completamente obcecada de Zakk—Bloqueados. Cenários de assassinatos violentos?—outros que vinham da mente relativamente insana de Zakk—Bloqueados. Questionamentos e ideias tão estranhas que pareciam ter sido feitas a efeito de entorpecentes?—Estes vindos, desta vez, da mente (levemente retardada) de Toga—Bloqueados.

Podia até mesmo parecer o contrário, mas os pensamentos que iam e vinham na mente da orc podia fazê-la parecer uma boba alegre se fossem proferidos em voz alta.

—Zakk, cadê a Lillith?—Alexis, obviamente, foi o primeiro a perceber o paradeiro de sua irmã.

Naquele exato momento, um arrepio subiu pela espinha de Gallien. Um aperto tomou conta de seu peito. Nessa hora, ele já podia sentir, tinha alguma coisa errada.

—Ela ficou pra terminar uma coisa, mas logo virá.

—Reúnam-se na Yggdrasil—Gallien murmurou em um fio de voz, uma sombra caiu sobre seu rosto, impedindo que qualquer um dos presentes pudessem enxergar seu olhar—tem uma coisa que precisam ver.

Toga se aproximou com cuidado, apertando levemente seu ombro de uma maneira terna, o toque pareceu despertar o professor, de repente a sombra em seu rosto desapareceu e ele fitou a orc como se tivesse acordado de um sonho ruim e longo. O que se seguiu foi um sorriso, um sorriso fechado, calmo e sereno. 

—Professor… tá tudo be-

Toga se auto interrompeu.

Quando Toga encontrou o olhar do professor grudado ao seu, com aquele olho verde a fitando de maneira distante, vaga. Aquele olhar sorridente, alegremente triste, conformado… conformado com o que? Toga não sabia, ninguém sabia, mas o que sabiam era: era algo ruim, muito ruim. Foi nesse exato momento, nesse fatídico momento, que os poderes videntes da orc se ativam, de maneira tão repentina e vaga que a primeiro momento pareceu uma pontada de dor, uma sensação desagradável e desconcertante, algo que quando sentimos, não desejamos sentir nunca mais.