Prólogo

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Bangkok - Tailândia, 1950.

A dor insuportável percorria meu corpo e se intensificava em minha garganta. Me debater já não era mais suficiente, era como lutar contra um inimigo invisível em uma batalha que já estava ganha. Me encolhi e tentei normalizar minha respiração. A sede por algo antes nunca experimentado me sucumbia aos poucos.

–Venha, minha doce criança!–A bela mulher caminhou em minha direção. Em seus lábios mantinham um belo sorriso, como se minha agonia lhe agradasse. Tocou em minhas costas e por mais que eu desejasse me afastar, não tive forças para tal feito.

–O que você fez comigo?–Minha pergunta mais parecia um choramingo. Minha vulnerabilidade e medo estavam expostos.

–Ora, pequena! Dei a você o que todos desejam: Força, agilidade, juventude e imortalidade.– O destaque na última palavra me fez tremer. Encarei seus olhos avermelhados e busquei uma resposta, mas nada encontrei. Ela segurou minha mão e me obrigou a ficar de pé.–Vamos com calma, um problema de cada vez.–Puxou-me junto com ela.–Você deve estar com sede.

Minha visão estava turva e aos poucos fui perdendo minha audição. Aquele casarão parecia nunca ter fim. Ela me carregava pelos corredores como uma boneca, até que entramos em um dos últimos quartos daquele andar. A dor em minha garganta duplicou, o cheiro no ar fez minhas forças voltarem. Ela sorriu aprovando minha reação.

No quarto havia três homens e um deles chorava desesperado enquanto os outros dois lhe seguravam pelos pulsos. Ao perceber a nossa presença, o mesmo gritou e debateu-se tentando se libertar.

O cheiro se intensificou e algo dentro de mim gritava, implorava para tomar o controle.

–Essa será a sua primeira refeição.–Ela iniciou sua explicação, virou-se em minha direção e tocou o meu rosto.–Seja leal a mim e essa dor nunca mais voltará.–Seus olhos eram assustadores, eu queria fugir.

Os acontecimentos que se sucederam foram os primeiros de muitos, regados a sangue e brutalidade. Ela amava ver e sentir isso. Já eu, desejava nunca mais presenciar o fim trágico dos inocentes que surgiam em nosso caminho.

–Acabe com a dor dele, Rebecca!–Ela dizia tentando aliviar o peso do meu ato.

O veneno fazia o homem debater-se no chão, seu corpo não suportaria por muito tempo e ela sabia muito bem disso. Infectá-lo era a intenção. Da ferida em seu pescoço escorria sangue, eu desejava sentir o gosto.

Não havia outra escolha, matar minha sede serviria de último alívio para aquele pobre miserável e assim ela estaria orgulhosa de mim.

Sorvi o líquido viscoso e algo dentro de mim sentiu um prazer indescritível. Eu queria mais e mais, meus olhos se fecharam enquanto sentia o corpo sob o meu ir perdendo as forças, os gritos cessaram até não restar mais nada.

Nada, a não ser uma garotinha indefesa e culpada, com suas mãos molhadas do sangue que ela não conseguiu ingerir. Um monstro ao lado de sua primeira vítima. 

Esse era o preço para ser imortal. Esse era o preço para me manter viva.

Give Me Your ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora