Distant Lover

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Minha respiração estava alterada, minha camisa molhada pelo meu suor enquanto meus dedos seguravam firmes, a ponto de doer, o cobertor sobre minhas pernas. Era a oitava noite em que eu acordava naquele estado e eu sabia o porquê, infelizmente.

Respirei fundo, tentando me acalmar, apenas a luz fraca do abajur iluminava parcialmente o quarto. Não queria acordar minha mãe e Ethan mais uma noite seguida, eles mereciam descansar. O relógio sobre a minha estante marcava duas horas e dezoito minutos da manhã.

Eu devia estar acostumada, mas essa não era a minha realidade. Todas as vezes a dor e o pânico eram maiores. O pesadelo voltava a ser frequente durante aquele mês. Todos os anos isso acontecia, sem atrasos ou antecipações Todos os anos no mesmo mês, desde que meu pai foi morto.

Empurrei o cobertor para o lado e me levantei da cama. Estava um pouco mais calma após o pesadelo mas meu sono tinha ido embora. Puxei a cadeira próxima a minha escrivaninha e sentei, encarando meu antigo diário. Além de lembranças, aquele diário guardava as únicas fotos que restaram de meu pai.

Homem é morto após ataque de urso.

Li novamente o pequeno recorte do jornal. A treze anos atrás essa era a frase destacada na pequena manchete de um dos jornais locais de Bangkok. O homem em questão era meu pai.

Nunca soube muita coisa sobre ele a não ser o que minha mãe e meus avós paternos relataram. Eu não lembrava do seu rosto ou da forma como ele me tratava.

Meus pais se divorciaram quando eu tinha dois anos de idade, após minha mãe descobrir as inúmeras traições por parte do meu pai. Meus avós tentaram limpar a imagem do filho, usando justificativas machistas.

Fechei o diário e debrucei-me sobre o mesmo. Eu estava com meu pai no dia do ataque mas não me lembrava de nada. Fechei meus olhos e tentei buscar algo em minha mente relacionado ao dia.

Meus esforços foram ineficientes, apenas consegui dormir novamente. Talvez meu cérebro tenha bloqueado essa parte da minha vida, mas por quê?

MANHÃ SEGUINTE...

Apesar de todo ressentimento e dor, minha mãe sempre rezava no dia do aniversário de morte de meu pai. Nos primeiros anos não entendia o porquê disso, já que ele a fez sofrer por um longo tempo. Mas, com o passar dos anos, entendi que isso mostrava muito mais sobre ela do que qualquer outra coisa.

Lhe abracei quando ela abriu seus olhos novamente. Ao contrário dos outros anos, esse ela estava diferente, como se estivesse...Em paz.

Apesar de não haver, de certa forma, o luto em nossa religião, eu me sentia a pior pessoa do mundo por não sentir absolutamente nada em relação ao dia e ao acontecimento. Era como se algo barrasse todos os meus sentimentos e a ânsia em sentir algo me fazia ter crises.

Aqueles foram os piores dias da minha vida, até Ethan aparecer e explicar o que eu sentia, além de mudar o dia fúnebre.

-Estão prontas?-Ele perguntou ao se aproximar de nós. Minha mãe assentiu, segurou minha mão e seguimos Ethan até o carro.

Ethan entendeu que o dia era pesado, cansativo e simbólico para minha mãe e eu. Então, propôs uma mudança completa, iríamos à praia e escreveríamos pedidos na areia, até as ondas do mar apagá-los. Era como se nossos pedidos fossem capturados e logo seriam atendidos. Lá podíamos chorar, gritar ou expressar qualquer sentimento que desejássemos.

De certa forma, ele estava certo. A brisa do mar acariciava meu rosto, o sol quentinho parecia me abraçar. Aquela sensação era impagável!

Afinal de contas, eu precisava daquele momento. Ah, como eu precisava...

Give Me Your ForeverOnde histórias criam vida. Descubra agora