Capítulo VI

30 3 6
                                    

Kagome tinha a impressão que não estava apenas fodendo com Inuyasha, mas com tudo.

Afinal, ela simplesmente havia se deixado levar por seus hormônios em curto para envolver-se em um relacionamento (muito) sexual com o pai de seu filhote (oh céus, ela até mesmo estava falando como ele!).

A sacerdotisa tinha consciência, que aquilo poderia não ser saudável. Que tornaria a convivência indiferente um ao outro e focada nos interesses de sua filha, que tinha em mente inicialmente, muito difícil.

E a cada dia, ela se prometia que se controlaria e tentaria voltar com ele aos termos anteriores de seu relacionamento. O que, claro, não funcionaria se ela continuasse pulando nele a cada oportunidade em que ficavam sozinhos.

Em questão de gravidade, esse era seu terceiro maior problema (o segundo sendo as dívidas e a hipoteca do santuário e o primeiro algo que ela sequer gostava de definir em palavras, mesmo mentalmente), então ela buscava ignorá-lo sempre que não tentava se convencer a agir de maneira diferente.

Entretanto, era difícil ignorar quando se tinha alguém ao lado que insistia em trazê-lo à tona sempre que possível.

— Vocês deviam apenas namorar de uma vez — Sango opinou, ocupando sua boca em seguida do canudo que usava para sorver seu milkshake de morango. — Na verdade, vocês já estão fazendo isso, de qualquer maneira. Apenas não admitem.

Kagome revirou os olhos.

— Não é preciso namorar para ter sexo casual, Sango — contestou, aliviada por estarem em uma área suficientemente isolada da sorveteria, para que ninguém escutasse a conversa inadequada.

— É assim que se chama um relacionamento estável com o homem que te engravidou? Sexo casual? — argumentou a mulher de cabelos castanhos, mal se importando com o olhar feio que a outra lhe lançou. — Kagome, vocês literalmente pularam um monte de fases e atingiram o passo final do relacionamento da maioria dos casais. Se fosse meramente acidente e vocês apenas assumissem a responsabilidade pela criança e permanecessem indiferentes um ao outro, eu entenderia — apontou. — Mas vocês nitidamente se gostam. Pelo que vejo, poderiam muito bem pular o namoro também e ao menos começarem a morar juntos. Ah não, espera: ele já não dorme na sua casa todas as noites? — ironizou.

— Não — a sacerdotisa respondeu entredentes, se sentindo um tanto arrependida em ter aceitado o convite de Sango para um sorvete. "Temos que aproveitar que o inverno acabou", disse ela, quando na verdade a atraira para uma armadilha, onde poderia encher sua cabeça longe da curiosidade de Miroku e Souta, ou da audição aguçada de Inuyasha.

— Ah, certo. Não é porque ele transa com você todos os dias que ele necessariamente passe a noite — zombou.

— Sango! — Kagome exclamou, irritada, para em seguida enfiar uma grande colher de seu sorvete de baunilha na boca.

Porque ela não tinha argumentos contra aquilo.

Sango suspirou, tentando retomar a paciência que havia perdido. Observar os dois amigos vacilarem um ao redor do outro quando tinham tudo para construir um relacionamento sólido estava deixando-a louca.

— Olha Kagome, eu nem acho que precise pensar com tanto cuidado a respeito. É fácil ver que vocês tem "algo". Vocês tem química, o sexo é ótimo e vão criar uma filha juntos. Por que não tentar?

A sacerdotisa nem pestanejou em responder:

— Se nós nos separarmos, será difícil para ela — alegou, levando ambas as mãos ao indisfarçável ventre expandido, que abrigava seu bebê de vinte semanas.

— E crescer com ambos os pais em relacionamentos diferentes não será? — contestou. — Ou vocês pretendem permanecer solteiros em prol da criança? — seguiu argumentando. — Eu sei que muitos pais separados criam seus filhos, e está tudo bem. Mas vocês dois nitidamente se gostam e sequer estão dispostos a tentar dar uma família ao bebê — concluiu, ciente que já havia juntado argumentos o suficiente para que a outra refletisse.

Sentimentos são para Construir Onde histórias criam vida. Descubra agora