Capítulo IV

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As mortes de seu avô e mãe, deixaram Kagome em uma situação que ela jamais teria imaginado: empréstimos no banco pendentes, uma dívida astronômica com o hospital e a hipoteca da propriedade de sua família. Tudo isso acumulado com o fato de ser guardiã legal de um adolescente.

Nos últimos anos, essas haviam sido as preocupações persistentes da jovem, que sempre assombravam sua mente, em primeiro e segundo plano. Antes mesmo do avô morrer, durante o tratamento dele, ela havia trancado a faculdade, para diminuir gastos. Após a partida do idoso, não logrou retomar os estudos, tendo que conseguir um emprego em período integral — e alguns de meio período — para contribuir com a renda familiar, além de ajudar com as atividades do templo no pouco tempo livre. Por fim, na falta de sua mãe, ela se viu assumindo as atividades do templo em primeiro lugar, a fim de proteger o legado de sua família, encaixando os trabalhos de meio período nas horas vagas, até o limite de sua capacidade física.

Até mesmo seu irmão caçula, Souta, havia conseguido alguns empregos para ajudar com a situação, o que não a agradou no início, mas foi necessário, de qualquer maneira.

Viveram por meses em ritmo frenético de trabalho e contenção de despesas ao máximo, na intenção de fazerem seu melhor para salvar o santuário. No entanto, não importa quantas vezes Kagome colocasse as contas na ponta do lápis, o resultado era o mesmo: o dinheiro que entrava mal era suficiente para que pagassem as prestações dos empréstimos e a dívida com o hospital, os juros aumentando o débito exponencialmente, de modo que não conseguiam economizar para pagar a hipoteca. Eles perderiam o santuário, a menos que, por um milagre, a indenização pelo acidente de sua mãe saísse nesse meio tempo e fosse suficiente para custeá-la, mas embora tivesse parado o curso superior na metade, a jovem sacerdotisa havia estudado o suficiente para ter a noção que a morosidade da justiça frequentemente desamparava os necessitados.

Apesar de tudo isso, ela tentava ser positiva, dizendo a si mesma — e ao irmão — que ainda tinham um teto sobre suas cabeças, uma cama confortável para dormir e comida na geladeira. E se eles perdessem o santuário, ela se consolaria no fato que lutou até o fim, arrumaria outro emprego de período integral e alugaria um pequeno apartamento para viver com o irmão.

O otimismo de Kagome praticamente morreu no momento em que se viu com o problema que nunca teria calculado, o qual agravou sobremaneira todos os outros: ela estava grávida.

Grávida, não poderia manter as atividades do santuário.

Grávida, ninguém a contrataria para um emprego de período integral, e logo a deixariam de contratar para os de meio período.

As parcelas dos empréstimos acumulariam, os juros cresceriam e, para piorar, quando a criança nascesse, ela passaria meses tendo de priorizá-la. Sem poder trabalhar. Sem poder pegar uma babá.

Ainda assim, quando soube daquela criança, ela não pensou em interromper a gravidez. Tudo que ela pensou foi em como ela sobreviveria uma vez que ela estivesse em seus braços, em virtude de todos os problemas acumulados que já tinha.

O que percebeu, foi que sobreviveria sozinha, já que o pai do bebê manifestou abertamente sua surpresa por ela pensar em levar a gestação adiante.

Quando constatou as implicações das palavras de Inuyasha, Kagome decidiu, imediatamente, cortar relações com ele (algo que ela presumira que aconteceria de qualquer maneira, uma vez que desfizessem o encantamento da kotodama). Ela padeceu em desespero, passou dias chorando sem saber o que fazer, com a única certeza que não o queria por perto. Certo que ele sumiria por conta própria.

Então porque ele não parava de segui-la para todos os lugares?

— Kagome? É aquele homem de novo — Eri comentou.

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