Capítulo II

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Inuyasha não esperaria pelo próximo dia de expediente.

Não, a situação era ruim o suficiente para que fosse justificável — claro, na opinião dele — bater na porta de Sango em plena madrugada e entrar xingando em seu apartamento enquanto ela lhe encarava da entrada, os olhos embotados de sono.

Ele achava que ela tinha rido o suficiente da história das vassouradas para poder encarar a situação atual com a seriedade necessária, mas não. Teve que esperar quase dez minutos para que a mulher se recuperasse, uma vez que estava passando mal de tanto gargalhar.

— Des... Desculpe... — Sango tentou dizer, por diversas vezes, mas suas falas eram sabotadas pelo riso. — Eu... Minha nossa, eu não tenho maturidade para lidar com isso — falou rapidamente, antes que outro acesso de gargalhadas a atingisse.

— Ria! Não é a sua bunda que é esfregada no chão cada vez que uma sacerdotisa doida grita "senta" — Inuyasha esganiçou.

— Pelo que você disse, é a sua cara — Sango pontuou, antes de seguir rindo.

— Sango! — Inuyasha estava prestes a perder o pouco de decoro que ainda lhe restava.

— Ok, ok, acalme-se — falou ela, acomodando-se em uma das poltronas individuais de sua sala. — Por que você não se senta? — perguntou, indicando o sofá cor creme, e embora seu tom fosse casual a princípio, não pôde evitar que os lábios tremessem e o riso recomeçasse ao perceber o que havia dito.

Inuyasha estreitou os olhos para ela.

— Não tem graça.

— Foi sem querer, eu juro! — garantiu, tentando se recompor. — Mas veja o lado bom, agora sabemos que o feitiço só funciona se for dito pela... Como é mesmo o nome dela?

— Kagome — lembrou, enquanto se acomodava no sofá de três lugares.

— Se for dito pela Kagome — Sango continuou. — Você poderá levar uma vida completamente normal mesmo que não consiga desfazer o feitiço, desde que mantenha-se distante dela.

— Mesmo que eu não consiga desfazer? — o hanyou parecia desesperado agora.

— Não que eu ache que isso vá acontecer! — a mulher tratou de acrescentar ao ver como o outro parecia miserável —, mas é bom saber que há uma maneira de manter os danos no mínimo — argumentou. — Por falar nisso, a pessoa que conjurou não deveria ser capaz de desfazê-lo? — questionou.

— Supõe-se que sim — Inuyasha respondeu, mas claro, essa não seria a sua situação.

Depois de usar o comando sentar ao menos mais meia dúzia de vezes e se convencer que não, Inuyasha não estava brincando, Kagome o arrastou para a cozinha dos Higurashi com a promessa desesperada que tentaria resolver o ocorrido. Ainda era fresca em sua memória a hora e meia que passou sentado na pequena mesa de jantar, enquanto a sacerdotisa recitava uma série de cânticos e versos sagrados destinados a quebrar feitiços e maldições, e ele usava de toda a sua força para tentar retirar o rosário pela cabeça ou arrebentá-lo com suas garras, os dois métodos produzindo efeito nenhum.

— E o que farão então? — Sango indagou, após ouvir atentamente a narrativa do amigo em relação às tentativas frustradas de livrarem-se do rosário.

— Kagome disse que amanhã, que no caso já é hoje, chamará um monge para ajudar — respondeu. — E é aí que você entra. Eu não sei o que infernos programou para o dia, mas limpa a porra da agenda, porque de jeito nenhum eu vou me submeter a dois espiritualistas sozinho.

Sango encarou o amigo, compadecida. Ela sabia que Inuyasha tinha uma coleção de experiências desagradáveis com todas as raças — humanos, espiritualistas ou não, e yokais — para não querer enfrentar qualquer ritual necessário desacompanhado. Intimamente, agradeceu por ser sábado, mas desmarcaria seus compromissos para acompanhá-lo mesmo que não fosse.

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