A escuridão da noite envolveu Tonsberg como um manto de veludo, substituindo o céu que outrora se apresentava deslumbrante na sua tonalidade azul e radiante. A queda da neve, densa e delicada, acrescentou uma camada de beleza a todo o cenário, especialmente ao cobrir com a sua alvura imaculada o piso de pedra que sustentava majestosamente o palácio da cidade.
Dentro desses muros de pedra e história, um momento de contemplação desenrolou-se. Rowan, figura central neste quadro, tomou a iniciativa de deslizar a luva da sua mão esquerda, permitindo que os seus dedos entrassem em contacto direto com um floco de neve que dançava em direção ao parapeito da janela aberta. Cada detalhe do floco, cada intricado padrão, foi apreciado por um breve instante.
O cuidado meticuloso com que esse ato foi realizado indicava a reverência de Rowan pela natureza e pela própria efemeridade da beleza que se desdobrava diante dele. Após esse momento íntimo, a luva retornou à sua posição de proteção, garantindo o aquecimento contínuo provido pelo ambiente cuidadosamente aquecido através do crepitar da lenha na lareira próxima.
Ah, como a vida é naturalmente bela — pensou ele.
A passos lentos e medida elegância, ele deixou a varanda, mantendo uma postura que ecoava a dignidade inerente à realeza. O seu braço direito estava habilmente oculto atrás das suas costas.
Cada movimento era calculado, cada gesto era um reflexo consciente da posição que ocupava na hierarquia daquele mundo.
À medida que ele se aproximava das imponentes portas que guardavam a entrada principal do cômodo, os guardas reais que permaneciam vigilantes não hesitaram. Com uma coreografia harmoniosa e respeitosa, as portas se abriram lentamente, revelando os servos fardados em uniformes impecáveis que aguardavam do lado de dentro. Os seus gestos eram orquestrados com precisão, e eles se curvaram em sincronia, um tributo à presença do rei e à sua posição de autoridade.
— Alteza... — A voz perfurou o ar, arrancando o rei dos seus pensamentos. Ele se virou para encarar a dona da voz que o interrompera, os seus olhos fitando a mulher que ousara perturbar o seu momento de contemplação. — Vossa Alteza, imaginei que estivesse cansado da longa viagem.
A figura imponente do rei voltou-se completamente para a mulher, cuja presença ainda era ofuscada pelo título e autoridade que ele detinha. Um sorriso sutil dançou nos lábios do monarca.
— Hulda... — a sua voz soou calma, quase como um sussurro carregado de promessas não ditas. Ele aproximou-se da mulher, seus passos medidos e controlados, emanando um magnetismo que não deixava espaço para resistência. — Que tipo de rei seria eu se não acomodasse o nosso hóspede devidamente?
O seu semblante, embora fortemente treinado para transmitir majestade, agora trazia um toque de melancolia, como se fosse um véu suave que revelasse um vislumbre da sua verdadeira natureza por um breve instante.
— Infelizmente... — ele começou, pausando para permitir que cada palavra ecoasse com peso na atmosfera — O reino dele foi atacado. Imagino que seja o único sobrevivente... — Um silêncio estratégico seguiu-se, uma pausa projetada para incitar reações. A mulher à sua frente não pôde conter a expressão chocada que tomou conta do seu rosto.
Ela levou uma mão à boca, como se instintivamente quisesse conter o impacto das palavras que ouvira. Rowan permaneceu inabalável, observando atentamente cada nuance de emoção que cruzava o rosto de Hulda. Era um teatro meticuloso, uma dança de ilusões e segredos cuidadosamente construídos.
— Vossa Alteza, eu não imaginava... — Hulda começou, a sua voz carregada de genuína surpresa e preocupação. Ela endireitou a sua postura, tentando recuperar a compostura que fora momentaneamente abalada pela revelação do rei.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Dangerous Within
RomanceCora McLaughlin, a futura rainha das Terras Altas Escocesas, sempre viveu no limite, habilmente equilibrando as regras impostas para ser uma dama com suas próprias expectativas ousadas. Porém, a sua vida muda drasticamente quando um misterioso homem...