Depois das estrelas • myg + pjm

prólogo

Reino do Norte
20 luas até o Ano da Colheita no Sul

O Soberano estava sentado despreocupado sobre o trono ornamentado com ouro e pedras preciosas, o hanbok de tecidos de alta costura lhe caía bem no corpo forte e o sorriso de escárnio moldava a boca pequena. O homem a sua frente tremia igual as plantações de milho quando uma ventania se sobressaía sobre elas.

- Repita.

O escrivão mantinha os olhos abaixados, assim como a cabeça. Dali ele conseguia ouvir a respiração forte do oficial, o homem estava branco quando chegou à sala do trono, e Han suspeitava que seu desespero era sobretudo por ter de encarar o seu Rei face a face.

- Ele exige uma reunião com Vossa Alteza, disse que o que tem a dizer é do seu interesse.

- Oh, ele exige? - o sorriso brotou nos lábios finos mais uma vez, a lâmina da adaga que o Rei tinha nas mãos era vermelha e parecia brilhar reluzindo o fogo das lamparinas. Sedenta.

Han sabia que a arma era afiada. Ele mesmo havia ganhado uma amostra grátis quando cometeu um pequeno erro; tivera sorte de não ter sido seu peito o alvo, a cicatriz fina no ombro direito servia para lhe lembrar que deveria ser atento e obediente. Às vezes ele ouvia gritos vindos da sala do trono quando sua Majestade estava entediado, não se admirava pelo oficial estar a ponto de desmaiar, muitos dos que entravam ali não saíam vivos.

- É s-sobre o Reino do Sul. Sobre a Dinastia Min.

Os olhos pequenos se levantaram e encararam o homem, ele quis correr mas se manteve impassível ainda que sua nuca estivesse suada. O Rei tombou a cabeça levemente para o lado, analisando, pensando, era um verdadeiro presente dos deuses para ele e não seria ingrato de recusar.

A ponta do dedo indicador foi de encontro à extremidade afiada da lâmina.

- Traga-o!

O homem se curvou e saiu, vindo minutos depois com outro oficial, ambos seguravam os dois braços de uma terceira pessoa. Os olhos do Soberano brilharam feito fogo.

- Ora, ora, mas o que temos aqui?

Um gota grossa de sangue escorreu pela lâmina vermelha e foi de encontro ao chão. Han fechou os olhos com força assim que um arrepio agourento percorreu sua espinha, ele sabia, todas as noites a partir daquela seriam banhadas por sangue.

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