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Iuri Duskin

Eu me encontrava novamente sentado em uma das mesas de jogo no famoso Casino Sochi. O ambiente era sofisticado, com mesas de jogos revestidas em panos verdes e luzes cintilantes por todo o teto. 

As pessoas que frequentavam o local eram de classe alta, assim como eu. No entanto, apesar de todo o requinte, o dono do estabelecimento era um homem perigoso e insensível. Para minha sorte, era meu amigo de infância, Alexei Smirnov, que, mesmo sendo o líder dos Bratva, sempre foi de alguma forma, ligado a mim.

Enquanto tomava um gole de uísque, senti uma mão delicada acariciando meu pescoço. Olhei para o lado e me deparei com uma bela mulher ruiva, que sorria maliciosamente em minha direção. Se minha esposa descobrisse, eu estaria em maus lençóis. 

Meus olhos, então, se voltaram para a roleta, com seus 36 números e um zero. O crupiê lançou a bolinha branca, e todos na mesa ficaram em silêncio, aguardando o resultado.

— Vamos lá, sorte! — eu disse, tentando me manter otimista.

Ao meu lado, a mulher ruiva batia palmas, torcendo para que eu ganhasse. Enquanto esperávamos a bola parar em um dos números da roleta, percebi que todos estavam tensos e nervosos. 

— Número 15!

O crupiê anunciou, e todos ficaram descontentes. Então em choque, eu percebi que havia perdido tudo o que tinha. A verdade dura de aceitar é que eu já  apostado tudo o que possuía e agora estava falido, sem dinheiro para pagar sequer o uísque que bebi. Sentia o suor escorrendo pelo meu rosto, enquanto me perguntava o que faria para sair dessa situação.

Frustrado e arrasado, olho em volta e noto uma figura sinistra se aproximando. Era um dos capangas de Alexei, o dono do cassino. O homem alto carregando inúmeras tatuagens parou ao meu lado e me sussurrou algo inaudível no ouvido, que infelizmente entendi como "venha comigo." Em seguida, me levou para um corredor longo e escuro que após alguns passos desembocou em uma sala privada nos fundos do estabelecimento.

O homem abriu uma espécie de passagem no chão, erguendo sua tampa com um rangido sinistro. Em seguida, apontou para baixo, indicando o caminho a seguir. A iluminação lá embaixo não era clara, mas era suficiente para que eu começasse a descer, pisando com cautela até tocar o chão.

O lugar não correspondia em nada ao que se esperaria de um cassino de requinte. Era um porão sombrio e fétido, o ar gelado penetrando em meus pulmões como se estivéssemos dentro de um freezer. As paredes, cobertas de reboco, exibiam sinais evidentes de mofo e umidade, criando uma sensação sufocante. Aqui, não havia vestígios do luxo presente na parte superior do estabelecimento; ao contrário, parecia mais uma ala abandonada e esquecida, um lugar onde pesadelos nasciam.

Meu coração começou a acelerar à medida que avançava, a sensação de estar adentrando uma armadilha tornando-se cada vez mais real. E então, diante de mim, estava Alexei, cercado por armas e com um olhar ainda mais frio e perigoso do que eu jamais vira antes. No entanto, algo em seus olhos sugeria uma faísca de reconhecimento, uma lembrança de tempos passados.

Talvez, contra todas as probabilidades, eu ainda tivesse uma chance de sair vivo dali.

— Você me deve muito dinheiro, meu caro amigo.

Com o coração apertado, observo atentamente o homem à minha frente, Alexei. A idade parece ter deixado suas marcas em seu rosto, com rugas profundas que contam histórias de uma vida repleta de escolhas questionáveis. Seus cabelos brancos e rarefeitos caem em delicados fios sobre sua cabeça, revelando uma aparência que esconde um caráter duvidoso. Apesar de suas tentativas de aparentar jovialidade com Botox, há algo nele que transmite sua malícia. 

O ASSASSINO DA NAVALHAOnde histórias criam vida. Descubra agora