21 Punch

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Natasha Duskin

Horas se passam, e permaneço ali, esperando ansiosamente até que finalmente escuto passos se aproximando. Levanto-me apressadamente, buscando desesperadamente por qualquer pista, qualquer indício de que Sara esteja bem.

Então, vejo a Senhora Howey se aproximando, segurando uma xícara de chá entre suas mãos enrugadas. Ela avança até o quarto de Sara, gira a maçaneta e, após alguns minutos que parecem uma eternidade, retorna na minha direção.

Minhas esperanças de obter alguma informação se renovam, e eu me coloco rapidamente à sua frente, bloqueando seu caminho, faminta por qualquer detalhe que ela possa compartilhar.

— Senhora Howey... — Chamo, minha voz trêmula de ansiedade.

Ela me encara com um olhar de desagrado profundo, como se minha presença a incomodasse profundamente.

— Vá para o seu quarto. Ela não vai gostar de te ver aqui quando sair. — A governanta fala com frieza, quase empurrando-me na direção do meu quarto.

Enquanto tento protestar, ouço a porta do quarto de núpcias se abrir. Meu coração dispara em antecipação. 

Sara emerge de lá, o rosto inchado e os olhos vermelhos do choro. O vestido de noiva de seda, que antes estava impecável, agora está colado ao seu corpo, com partes rasgadas e manchadas de sangue. Meu coração aperta ao ver seu cabelo loiro totalmente desarrumado, fios fora do lugar, e sua maquiagem borrada, evidenciando as lágrimas que derramou. É uma visão desoladora de alguém que claramente sofreu nas mãos daquele monstro. Meu desespero aumenta ao vê-la assim. 

Ela para por um momento, seu olhar encontrando o meu. A tristeza e o sofrimento nos olhos dela fazem meu coração doer, mas ela não diz nada. Caminha calmamente até a porta do quarto, como se estivesse carregando o peso do mundo em seus ombros.

Eu tento me mover para acompanhá-la, mas a Senhora Howey segura firmemente meu braço, impedindo-me de avançar. 

— Sara... O que aconteceu? O que ele fez com você? — Minhas palavras mal conseguem escapar dos meus lábios, carregadas com o medo do que posso descobrir.

Mas ela me encara com seus olhos borrados de maquiagem e lágrimas, engole em seco e faz um sinal de negação, como quem não quer conversar.

— Acredite em mim, tudo que ela menos quer agora é a sua pena. — A voz da velha senhora é firme, e ela ajusta o blazer azul do seu terninho enquanto fala.

Assinto com relutância, vendo Sara trancar a porta do quarto atrás de si. A Senhora Howey começa a andar em direção às escadas, me deixando ali sozinha, com meu coração pesado de preocupação e impotência. Sinto-me perdida diante do que aconteceu com minha irmã, sem saber como ajudá-la.

Tomada por uma angustia terrível, me movo em direção ao quarto de núpcias, abrindo a porta com força. O cenário à minha frente se assemelha a uma cena de crime, com lençóis bagunçados manchados de sangue e pedaços do vestido de noiva da minha irmã espalhados pelo chão. 

Meu olhar é atraído por uma porta trancada, e minha raiva me impulsiona a chegar até ela e abri-la. Decidida, giro a maçaneta e adentro o cômodo. Lá dentro, encontro Fióri sentado no chão próximo à banheira. 

Ele está sem o terno impecável, sem gravata, com alguns botões da camisa abertos. Seu cabelo, que costuma ser tão bem arrumado, está agora bagunçado. Ele segura a garrafa de uísque vazia em suas mãos, uma imagem que contrasta profundamente com a imagem de poder e controle que sempre projetou.

Assim que ele nota minha entrada, levanta os olhos para me encarar. Seu rosto exibe uma expressão abatida, carregando uma melancolia indecifrável. Ele engole em seco, e nesse momento, percebo uma vulnerabilidade que jamais imaginei encontrar em alguém como ele. Monstros não são vulneráveis, ou pelo menos não deveriam ser. O impacto desse vislumbre me deixa momentaneamente sem palavras.

O ASSASSINO DA NAVALHAOnde histórias criam vida. Descubra agora