10 Losses

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Natacha Duskin

Desperto com uma dor lancinante em todo o corpo. Meu quarto está envolto em sombras, com apenas uma tênue luz de lua entrando pela fresta da cortina. O ambiente parece ainda mais sombrio quando minha mente volta a pensar no Fióri Smirnov, o Clyde Barrow russo que tem atormentado meus pesadelos. Seus olhos azuis frios e penetrantes parecem capazes de ver minha alma, e a lembrança de que ainda não tenho o dinheiro que ele exige faz meu coração acelerar.

Minha cabeça lateja, misturando-se à dor que se espalha pelo meu corpo. É como se cada célula estivesse gritando por alívio, mas parece que meus problemas só aumentam. Talvez eu realmente seja apenas uma nerd, feia e fracassada, como todos costumam dizer. É difícil ignorar os olhares de desdém e os comentários maldosos que ecoam em minha mente.

No entanto, entre todas as sombras, há uma luz que brilha intensamente. 

Seife. 

Por anos, fui rejeitada por todos, exceto por ele. Ele é minha âncora, meu porto seguro, e tudo o que possuo de mais precioso. Estou disposta a fazer qualquer coisa por ele, e a lembrança de sua amizade sincera me dá forças para enfrentar esses monstros que querem acabar com ele.

Levanto-me da cama com determinação, ignorando a dor que persiste em me acompanhar. Arrasto-me até o banheiro, olhando para o reflexo cansado no espelho.

Contemplo meu rosto pálido e minhas olheiras profundas. Prendo meus cabelos castanhos, cujas pontas duplas parecem pedir socorro, num coque bagunçado. Escovo meus dentes com a energia que me resta, e então tiro o pijama, trocando-o por uma calça de abrigo cinza e uma camiseta preta. Sobreponho uma jaqueta azul para proteger-me do frio cortante. Deslizo os pés em qualquer calçado ao alcance e pego tudo o que julgo vendável.

***

Já faz mais de quatro horas que caminho pelas ruas exaustivamente, tentando encontrar desesperadamente uma forma de juntar o dinheiro para pagar a dívida de meu melhor amigo com os Bratva. 

Minha fome é insuportável, e minha visão está turva. Cada passo é penoso, e a ansiedade quase me sufoca. Observo os itens que tentei vender sem sucesso, guardados em minha bolsa. É meu último dia, e ainda não consegui reunir a quantia necessária.

Determinada a encontrar uma solução, decido entrar numa loja de joias. A loja é pequena, com uma atmosfera antiga e retro. Relógios cucos adornam as paredes, e o tilintar de sinos acompanha a abertura da porta. 

Aproximo-me do balcão e encontro um senhor de cabelos grisalhos, rosto rechonchudo e um sorriso acolhedor.

— Bom dia! — Me cumprimenta, com gentileza. — Como posso ajudá-la, senhorita? — pergunta, demonstrando interesse em minha visita.

Respiro fundo e, num gesto de resignação, retiro o colar do pescoço e coloco-o em suas mãos. Sinto os olhos marejados, entregando algo tão significativo para mim. Meu avô sempre cuidou de mim, mesmo quando todos preferiam bajular a Sara; ele me tratava como sua neta favorita. Quando completei 06 anos, presenteou-me com esse colar. E agora, aqui estou eu, prestes a me desfazer da coisa mais bonita que possuo.

— Quanto consegue me dar por isso? — pergunto, encarando o senhor com uma mistura de esperança e pesar.

Ele pega o colar e o avalia em seu equipamento.

— 300.000 rublos! — responde com calma.

Engulo em seco, tentando controlar a decepção que ameaça transbordar. Era uma quantia significativa, mas ainda estava longe do valor necessário. Porém, não tenho escolha senão aceitar, afinal, Seife está em perigo. 

O ASSASSINO DA NAVALHAOnde histórias criam vida. Descubra agora