O beijo da morte²

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Havia no bosque uma sombra que se movia com suavidade

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Havia no bosque uma sombra que se movia com suavidade. A música do violino de Dominique e a valsa de Adella se misturavam no ar e, ao pararem, puderam sentir a presença daquela figura espectral.

Adella olhou com uma curiosidade que logo se transformou em espanto e medo quando viu que era a morte que se aproximava. Dominique ainda tocava a última nota e sentia o arrepio percorrer a sua espinha, mesmo que ele nunca tivesse medo daqueles que já partiram.

- Quem sois vós? - perguntou Adella, com a voz um pouco trêmula.

- Sou a Mortalidade, a inevitável. - Respondeu ela com um sorriso que fez com que nenhum dos irmãos pudesse dobrar o joelho. - Nunca dancei a valsa antes, mas posso ver que é uma dança muito especial para vós. Posso dançar com você, Adella?

Era impossível não notar a tristeza no olhar da irmã mais nova. Sabia que aquela seria a sua última dança. Mas jamais teria imaginado que a morte poderia compor uma valsa com a sua vida, logo antes de levá-la embora.

- Claro que sim, bondosa senhora. - disse, fungando um pouco.

Talvez, se a irmã pudesse ter previsto o final, jamais teria aceitado a proposta daquela que, nesse momento, usava seu formato humano.

A valsa começou e os movimentos de Adella tornavam-se cada vez mais fracos enquanto a morte ia movendo-as em direção ao centro do bosque. Dominique, no entanto, sabia que era a última vez que tocaria violino ao lado da irmã, então resolveu fazer dela a trilha sonora mais bela que sua alma pudesse compor.

A sombra e a luz se moviam em harmonia e apenas as vozes dos anjos podiam ser ouvidos. Até que, no compasso final, a morte segurou Adella pelo queixo e deu-lhe um beijo amoroso e ardente.

O sorriso de elixir daquela figura reconfortante fez com que, por um breve segundo, os irmãos sentissem como se a palavra "eternidade" tivesse sido aberta apenas para eles dois.

- Obrigada por teu beijo, bela dama. - suspirou Adella, agradecida por ter tido a chance de viver um momento tão especial com a inevitável.

A morte não falou mais uma palavra. Apenas sorriu e guiou Adella para o outro lado do Submundo. Dominique nunca esqueceria aquele dia porque, daquele momento em diante, a alma de Adella foi parte dela e da obscuridade.

 Dominique nunca esqueceria aquele dia porque, daquele momento em diante, a alma de Adella foi parte dela e da obscuridade

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