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━━━ ❧ 𝐎𝐧𝐞: 𝐂𝐨𝐮𝐥𝐝 𝐲𝐨𝐮 𝐬𝐭𝐚𝐲 𝐰𝐢𝐭𝐡 𝐦𝐞 𝐟𝐨𝐫 𝐚 𝐛𝐢𝐭?

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Uma das coisas que Zhanghao mais odiava, com todas as forças, não era apenas o fato de conviver com a telepatia descontrolada, mas também odiava, de todas as maneiras possíveis e impossíveis, o despertador de seu celular. Não por conta do som, especificamente, mas por tudo que precisaria lidar depois de ouvi-lo; era sinal que sua paz estavas prestes a acabar a partir daquele instante e ele não poderia fazer nada para impedi-lo.

De forma mais preguiçosa possível, o garoto de cabelos avermelhados coloca seu uniforme escolar, ainda sonolento, nem ligando para o estado de seu cabelo, apenas colocando seus calçados e indo em direção da cozinha tomar algo para se alimentar antes de sair para o inferno— também conhecido como escola.

"Bom dia, Zhanghao!" — sua mãe, que já estava familiarizada com a situação do filho telepata, nem preocupou-se em dizer-lhe estas palavras, apenas desejando-as em sua mente, sabendo que o garoto as ouviria de qualquer jeito.

— Bom dia, mãe — com um sorriso genuíno e doce, Zhanghao saúda sua mãe, já colocando dois pedaços de pão em sua boca.

"Esse aí... vai engasgar desse jeito..." — pensou "alto", fazendo o outro soltar uma risadinha.

Sua mãe evitava ao máximo pensar sobre qualquer coisa próximo de Zhanghao e, inclusive, evitava ao máximo ficar por muito tempo no mesmo ambiente que o filho. Ela sabia que seu poder paranormal tinha alguns limites — duração de no máximo uma hora por dia e apenas em distâncias próximas —, mas preferia evitar que determinadas coisas fossem "ouvidas" por Zhanghao, apesar de sempre lhe doer muito fazer isso.

Ele entendia sua mãe mais do que ninguém e sabia que seu afastamento era por uma boa causa, então não reclamava sobre isso, mas ele também não podia negar que sentia muita falta de simples abraços e conversas bobas e descontraídas, não apenas com sua mãe como com seus amigos também.

Amigos. Essa palavra ecoa na cabeça de Zhanghao como uma caverna vazia. Todas as pessoas que um dia foram suas amigas, em algum momento, sempre acabavam afastados do garoto cedo ou tarde. Não saber como lidar com as pessoas dizendo — em seus pensamentos — as coisas mais absurdas e cruéis possíveis era um tanto quanto torturante, principalmente quando esses pensamentos eram direcionados a sua pessoa.

Era doloroso demais encarar aquela pessoa a quem sempre se referiu como amigo, mesmo sabendo de todas as coisas ruins que pensou sobre você. Era doloroso demais fingir não saber de nada enquanto milhares de desentendidos aconteciam. Era doloroso demais fazer-se de cego e surdo para manter as pessoas por perto. No fim das contas, a solidão sempre acabava voltando a ser sua melhor amiga.

"Boa aula, filho" — já tendo lavado o resto da louça, sua mãe vai embora, desejando-lhe o melhor para o seu dia, nem dando tempo para que Zhanghao se despedisse, deixando-o novamente sozinho.

— Tchau! — gritou da cozinha, tendo certeza que sua mãe o ouviria.

Estando ciente de que seu poder paranormal o afastou das pessoas que deveriam ser mais próximas a ele, Zhanghao não poupava esforços para manter as pessoas que mais se importavam — verdadeiramente — com ele. Além de sua mãe, seu amigo, Ricky, também era uma dessas pessoas.

Desde o início Ricky estava ciente sobre Zhanghao e, claro, como toda pessoa minimante racional, apenas achou que ele era um louco, mas isso durou apenas até que o telepata repetisse exatamente as mesmas frases das quais ele pensava...

[...]

— Eu duvido — com os braços cruzados e uma cara fechada, Ricky permanecia firme e convicto que o outro era apenas um louco.

— Duvida? — encarando-o com uma expressão divertida e brincalhona, ele desafia Ricky com um simples questionamento.

"Young and rich, tall and handsome, I'm charisma boss, baby Ricky. Duvido ele dizer coisa parecida" — pensou Ricky, encarando o teto despretensiosamente, convencido de sua vitória.

— Young and rich, tall and handsome, I'm charisma boss, baby Ricky — repetiu em tom debochado, observando de soslaio a expressão do loiro mudar de convencido para espantado em segundos.

— Okay, eu não duvido mais de nada vindo de você.

[...]

Apesar de apenas encontrar-se com ele na escola, Ricky era uma das pessoas que mais conversava com Zhanghao diretamente — e uma das únicas também. Geralmente, Zhanghao apenas ficava em algum canto aleatório e silencioso, quase nunca visto por qualquer pessoa daquela escola — a não ser, claro, por Ricky.

Após caminhar cerca de dez minutos até a escola, Zhanghao vai diretamente à entrada dos fundos, onde quase ninguém ia, aguardando pela chegada do loiro enquanto aproveitava o resquício de silêncio que ainda lhe restava.

Mesmo depois de longos minutos, Ricky ainda não havia chego, o que começou a preocupar Zhanghao, já que ele não era um aluno que geralmente faltava as aulas. Logo o sinal tocaria e então a sessão de tortura iniciaria, dessa vez, sem o apoio moral de seu amigo jovem, rico, alto e bonito.

Dito e feito, o garoto não apareceu e nem sequer enviou alguma mensagem explicando o motivo, apenas deixando um Zhanghao confuso e derrotado por ter que enfrentar aquelas vozes de novo, sozinho.

Sem vontade ou determinação alguma, o garoto de cabelos avermelhados se levanta do chão, já indo em direção do corredor da morte psicológica. Chegando de frente a porta que o levaria para tortura, Zhanghao decide correr o mais rápido que pode até sua sala e tentar ignorar o máximo os pensamentos das pessoas ao redor.

Deu certo, mas não foi por esse motivo.

— Me desculpa — em uma breve reverência, o garoto, até então desconhecido por Zhanghao, diz envergonhado por esbarrar no outro, sem encará-lo nos olhos.

Imediatamente, Zhanghao nota que as vozes comuns em sua mente simplesmente somem, assim como os pensamentos do outro, que não surgiram nem por um momento sequer. Pela primeira vez na vida, ele pôde sentir incômodo pelo silêncio. Era estranho, confuso e ilógico.

— Ahm... não tem problema — o mais alto responde, tentando se recompor do susto, mas ainda com uma expressão totalmente confusa estampada em seu rosto, refletindo se as vozes simplesmente haviam sumido ou se houve um surto coletivo e todos pararam de pensar no mesmo instante.

O garoto então faz uma breve reverência, já seguindo seu caminho em direção oposta de Zhanghao. Aos poucos, as vozes que antes eram inaudíveis e inexistentes, voltaram com toda a força, misturadas entre si e fazendo sua cabeça latejar pela quantidade de pessoas presentes naqueles corredores. Assim ele constatou que não foi um surto coletivo.

Vendo de relance o garoto que antes esbarrara por acaso, sem pensar muito, logo foi de encontro com o mesmo, tentando suportar a dor que crescia cada vez mais, mas então foi gradualmente diminuída ao aproximar-se dele.

Com medo e desespero transbordados sobre si, como um pedido de ajuda silencioso, Zhanghao agarra o tecido do casaco do garoto, já sentindo as vozes sumirem ao seu redor, em compensação, assustando o mais novo que instantaneamente olha para trás, encarando-o com os olhos arregalados o de cabelos avermelhados pela primeira vez.

— Eu sei que parece estranho, mas... — diz em tom súplica, ainda que hesitante, tomando a atenção do outro sobre si, perguntando: — você poderia ficar um pouco comigo?

Era descarado e egoísta. Um Zhanghao racional nunca pediria algo desse feitio a alguém, mas um Zhanghao ansioso sim. Era seu coração falando mais alto que sua mente, mesmo não se dando conta. Era muito mais do que apenas pensamentos perturbadores e o silêncio instantâneo, entretanto, as demais coisas seriam descobertas em outro momento.

A Telepath's Diary [HAOBIN - ZB1]Onde histórias criam vida. Descubra agora