ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 𝔙𝔦𝔫𝔱𝔢 𝔢 𝔔𝔲𝔞𝔱𝔯𝔬

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De repente, Astrea se via em seu mundo novamente, em transe. Talvez Elain a tivesse chamado, talvez tivesse a sacudido e derrubado algo, talvez ela estivesse ali, ou não estivesse. O sabor metálico invadiu sua boca em uma memória fresca e dolorosa. Havia chamas por todos os lados, gritos, homens e mulheres corriam, ultrapassando, derrubando e pisoteando uns aos outros. Crianças choravam, casas desmoronavam e afundavam na terra pútrida conforme ela caminhava afrente, o ruído das bestas sob sua cabeça, ou do bater das asas. De repente, sentia-se suja, podre. De repente, lembrou-se o porquê de tudo aquilo, os efeitos, tudo o que lhe custara, e o quanto custara ainda mais para recomeçar, para estar ali...

Astrea piscou. Havia tomado sua decisão quando encarou Elain, que a observava com os olhos arregalados. A féerica estava se balançando, ou seria sua visão? Astrea franziu os cílios, sua visão retornando ao foco quando percebeu a mesinha sobre o chão, o bule e seu conjunto espalhados junto as poltronas, enquanto a vidente a encarava incrédula, com o felino em braços ao mesmo que a coruja emitia um som baixo e repetitivo, e sua primeira reação fora levar a mão a barriga, encarando a mesma e a avaliando, ambas as mãos sobre a pele inchada quando a féerica disse

Astrea... olhe no espelho.

A mesma a encarou, a feição se empalidecendo devido ao nervoso quando lentamente, levou seu olhar e girou a silhueta levemente para o mesmo, observando o próprio reflexo, dos cabelos pálidos, o agasalho felpudo branco, sua túnica..e suas asas. Suas asas estavam de volta.

Astrea ofegou, os olhos marejados quando deu um passo para trás, quase como se houvesse levado um soco, sequer se importou ao pisar em cacos quando recuou, e suas asas a acompanharam, cobrindo-a com a familiar penagem branca e sempre aquecedora, de modo que uma lágrima escorreu a sua bochecha

Ela abriu a boca, no entanto, não emitiu nenhum som. Sentiu como se estivesse sonhando. Por todo aquele tempo, reclamara de suas asas, e quando as perdeu.. Sentia falta até mesmo de quando precisava limpar, pena por pena, calmamente, por horas afinco. Sentia inveja de Azriel, de Aegon, de Rhyssand, Cassian. E agora...

Astrea se virou de costas, o rosto ainda observando o espelho quando analisou as asas, como se nunca tivessem saído dali, e temorosamente, levou os dedos manchados de sangue as penas delicadamente, se entreolhando entre as asas e o reflexo de si mesma quando se abraçou, e como se fosse algo consciente, as asas a envolveram.

oh, eu sinto tanto.. Eu.. Obrigada, Elain.

No entanto, a vidente ainda parecia surpresa, observando-a boquiaberta por um curto período antes de se recompor e lentamente, guiá-la para outro canto do cômodo, muito delicadamente

Está ferida, Astrea.

― Minhas asas estão de volta ― e talvez por impulso, ou porque seu apreço pela féerica houvesse apenas crescido com o tempo, triplicando com os recentes acontecimentos ao se jogar para abraçá-la firmemente, de modo que Elain retribuísse com uma risadinha suave

Conseguiu ficar mais bela, estou com um pouco de inveja agora.

Parta conosco.

― O quê?

― Você ouviu. Parta conosco. Você será cuidada e compreendida por lá, e ainda não nos visitou, além de que passará muito tempo com Helaena, e ela adora você, vocês são como unha e carne.

― Eu..

― Você será aceita lá.

Elain sorriu, as bochechas corando levemente quando se afastou brevemente, encarando Astrea

𝑨 𝑪𝒐𝒖𝒓𝒕 𝒐𝒇 𝑺𝒕𝒐𝒓𝒎 𝒂𝒏𝒅 𝑳𝒐𝒗𝒆Onde histórias criam vida. Descubra agora