ghost-móvel.

1.4K 128 51
                                    

É como mágica, em um casaco
com estampa de leopardo

Apenas um deslize
para baixo dele, eu espero

Perguntando se eu
posso pegar um desses

Cigarros orgânicos
que ela fuma

Envolve seus lábios em volta
de uma coca-cola mexicana

Faz você desejar que você
fosse a garrafa

Toma um gole da sua alma
e ela soa assim...

— Alma;

Nunca antes uma viagem tinha sido tão demorada, tensa, agonizante, e feliz. O céu estava cinza e as pastagens que flanqueavam a estrada na volta de Southampton tinham um tom de verde musgo que mais se parecia vegetação de pântano. O cheiro do mato encharcado pela chuva não nos atingia por conta das janelas fechadas, onde gotículas de água se acumulavam aos montes e escorriam no chuvisco fraco, posterior ao dilúvio que caíra quando saímos do hotel. Água em todos os cantos, o chão molhado, o carro molhado, eu mesma em alguns pontos específicos. Me mantinha confortavelmente afundada no banco do carona, com os pés no painel, brincando de batucar o vidro com os dedos.

Simon estava no volante, dirigia com apenas uma mão, justo a mão do relógio. Essas demonstrações que não são exatamente uma expressão de masculinidade, mas que soam sutilmente viris, ah, isso elas soam. É uma figura clássica do imaginário feminino, um homem bonito, dirigindo com somente uma das mãos onde se exibe um relógio simples, discreto e elegante. Observo em silêncio as lindas veias que descem pelos dedos e braço, saltadas, sua mão rosada cheia de ângulos retos. Seus músculos, que mesmo relaxados se destacavam na camisa cor de areia. O tecido leve sutilmente apertado em seus ombros bonitos.

A silhueta dele é impassível porém descontraída, ereto na cadeira e com as pupilas totalmente voltadas para a estrada, enquanto me dissolvo em sua postura tão fina e clássica. Simon é um lord, só lhe falta um sobretudo.

— Você quer ouvir música? Talvez distraia as suas más intenções  — ele pergunta, sem desviar os olhos espertos do trajeto.

— Más intenções? Com você eu só tenho boas. Ótimas intenções — insinuo com um ar de falsa inocência, afasto meus pés do painel para me aproximar dele, enfrentando-o, testando seus limites — Eu quero fazer você feliz. Várias vezes, muito feliz, se possível em cima do capô do seu Ghost-móvel — sibilo, me inclinando em sua direção, enfatizando nossa piadinha interna sobre o termo "ser feliz", e o novo apelidinho que dei para este carro, que podia tranquilamente ser o carro do Batman.

A mão rápida de Simon abandona a marcha para se encaixar em minha coxa, apertando-a com posse. A palma quente se arrasta para baixo do meu vestido, meus olhos reviram com a provocação e eu recuo rápido, buscando apoio no banco de couro. Mas ele me frustra. Simon apenas massageia minha coxa, dedilhando perigosamente próximo à minha virilha, mas não me toca mais do que isso. Não me dá alívio algum.

— Tenha paciência — não é um pedido. É uma ordem, e seu tom ríspido deixa isso bem claro.

— Eu estou tendo, desde ontem. Você não pode fazer isso com a sua namorada.

— Posso. Posso tudo o que eu quiser.

— Não, não pode! — vocifero cruzando os bracos ferrenhamente contra o peito. Fuzilo Simon com o olhar enquanto ele, ainda muito tranquilo, pisca. A estrada está vazia, nem sinal de outro veículo próximo à nós, a maioria dos viajantes preferem fazer esse trajeto de avião, pelo Simon me contou isso é bem comum por aqui. Ele não responde meu protesto e eu decido insistir — Não. Você. Não. Pode! —

Simon suspira profundamente, olha para mim de canto, com olhos cheios da superioridade de um verdadeiro imperador. Não fraquejo, lhe encaro firme e convicta tendo certeza de que nossa novelinha de Tom e Jerry estava só começando, Simon vira o rosto para frente e sem que eu pudesse imaginar o que aconteceria, ele simplesmente pisa fundo no acelerador e gira o volante, brincando entre embreagem o freio de mão. O carro rodopia violentamente no asfalto molhado enquanto meu coração salta pela boca, as rodas giram na pista se voltando para a direção contraria e se não fosse pelo cinto eu provavelmente seria arremessada contra a porta.

Grito, meu corpo inteiro vibra. A pista deserta e neblina torna tudo mais intenso, minha respiração sai compulsivamente e eu permaneço imóvel, fervendo em adrenalina, em choque. Ele não parece preocupado, apenas guia o carro em ponto morto para os arbustos baixos próximos à beira da estrada e tranquilamente estaciona ali. A chuva parece ter aumentado, minhas pernas grudam no banco de couro e me sinto um pouco mais viva do que antes. Isso aguçou meus sentidos de forma extraordinária, e eu capto tudo agora. Ele arranca a chave da ignição e joga por cima do painel do carro.

Ficamos ali, imóveis, os barulhinhos abafados das gotas batendo contra a lataria. A ausência agoniante do ruído grave do motor trabalhando, o ar entrando e saindo dos pulmões e deixando as janelas embaçadas.

— O que foi isso? — pergunto, pestanejando depois de alguns segundos de silêncio estático.

— Uma preliminar. Acho que precisávamos, já que vou transar com você na chuva, em cima do capô desse Rolls Royce. Não é o que você quer, bella? — descreve detalhadamente, argumentando com mais clareza do que eu imaginava. Me encolho completamente intimidada, voltando meus olhos medrosos para Simon — Você quer que eu foda você no meio da estrada, não quer? —

Ele aos poucos vai se mostrando de verdade. Um verdadeiro lobo, estrategista, furtivo, cínico. Simon se desfaz do cinto e abre a porta do carro, sai na chuva e eu o observo dar a volta no veículo com meu coração aos pulos. Ele abre a minha porta sem mais nem menos, e com a gentileza de um gentleman me estende a sua mão. Eu prontamente a aceito. Ele me leva para fora do carro, nós dois pisando na grama alta que afunda encharcada em nossos pés. O capô reluz na luminosidade prata do céu nebuloso, e este clima, ainda que um pouco sombrio, me excita ainda mais à aventura. Na frente do carro, Simon me segura pelo quadril com menos cuidado do que costuma fazer, me carrega e me põe sobre o capô maciço do carro preto.

Suas mãos rápidas saem do meu quadril e resvalam por dentro do vestido enquanto sua boca se encaixa na minha, selando um beijo intenso logo de início, suas unhas curtas agarram-se ao elástico da calcinha e ele a puxa para baixo sem dar-me tempo para pensar. Não há como fugir, sua língua toca a minha, provando meu gosto e forma, ele ergue meus joelhos um de cada vez para passar os elásticos e tirá-los dos meus tornozelos. Rompe o beijo num estalo crítico e doloroso, e me olha nos olhos, captando toda a inconsequência do mundo naquela mera troca de olhares.

— Pronta...?

Hirviente.  |  simon ghost riley.Onde histórias criam vida. Descubra agora