la femme nikita.

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Nota: Não é que eu queira me gabar, mas já me gabando, o trabalho de pesquisa que fiz sobre o México pra escrever isso aqui foi incrível. Não apenas a pesquisa, mas tentei aproveitar ao máximo todas as pontas soltas que podiam ser usadas em prol da história, e eu tô bem feliz com isso. :)

Música desse capítulo: Strangelove, do Depeche Mode QUE POR SINAL É UMA BANDA BRITÂNICA, FICA AÍ A REFLEXÃO KKKKK

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— Almazia;

Qualquer pessoa de fora jamais entenderia a estrutura hierárquica de uma feira em Las Almas. Há os comerciantes mais antigos, donos das primeiras bancas do corredor no sentido de quem vem de fora. Logo em seguida vem as bancas clandestinas da família de funcionários da Central de Abastecimento do México, que desviam frutas e alimentos de lá para cá, e nenhum feirante gosta deles. Logo em seguida vem os artesãos, os vendedores de temperos, e no final os melhores preços.

O ponto é que, normalmente os funcionários do CEBA precisam de veículos discretos para chegar até aqui com a comida desviada. E a julgar pela quantidade de militares que rodeiam essas bancas e comem frutas sem pagar, é de se pressupor que sejam um bom lugar para ouvir algo.

Com a cestinha de palha no braço, paro para observar os tomates meio murchos e a salsa feia das banquinhas sem carisma. Vendedores muito mal educados, mal davam bom dia e só eram gentis se você usasse uma farda, igual a dos dois milicos parados no espaço entre uma banca e outra.

— Esses seus tomates estão bonitos — minto, olhando para o velhote esparramado na cadeira atrás da banca. Usava correntes, relógio e anéis grossos de ouro nas mãos enrugadas — Qual o preço? —

— Olha a placa — retruca seco.

— E você não faz um desconto?

— Desconto nenhum.

Tenho um ódio mortal imediato por esse velho. Ele puxa um cigarro e o isqueiro do bolsinho da camisa, acende seu Marlboro americano como um verdadeiro gigolô. Penso em com Simon ou Alejandro faria isso no meu lugar, bateriam no velho e o arrastariam para algum lugar escuro até que ele falasse. Mas eu não preciso disso, sei bem como levar as coisas com esses tipinhos.

— Você tem um sobrando? Os meus acabaram — digo, sorrindo e apontando para o cigarro.

O velho calvo finalmente tem a decência de me olhar nos olhos, franze o cenho e me analisa de cima a baixo.

— Você não é muito nova pra fumar?

— Sou velha o bastante pra muita coisa — digo, sugestiva.

O semblante do homem se clareia com um sorriso oportunista e perverso que só homens da estirpe dele têm. Suas sobrancelhas são peludas e tem um bigode enorme que encobre sua boca, os olhos pequenos esmagados pela flacidez das pálpebras caídas. Ele é o esteriótipo de um daqueles homens nojentos, que se cobrem de ouro e enchem o cabelo de gel para aliciar menininhas indefesas no interior, mas eu domino meu asco, faço o jogo dele.

— Claro que é, mocinha — diz, deslizando um de seus cigarros do bolso para a minha mão estendida.

Pego o Marlboro entre os dedos, pesco o cigarro entre os lábios. O senhor ergue-se por cima da banca com o isqueiro niquelado na mão para acendê-lo, enquanto eu trago a fumaça profundamente. Já fumei outras vezes mas nunca foi um hábito meu, o gosto e o cheiro são horríveis. Puxo a fumaça para o pulmão, e solto quando a brasa vermelha na ponta brilha bem acesa, arqueio uma sobrancelha.

— Qual o seu nome? — pergunto.

— Me chamam de Teccarito, mas pra você é só Tecca, lindeza.

Seguro o cigarro como uma madame, do jeito que aprendi nos filmes. Pisco para ele enchendo minha voz de mel e carisma. Esse é um dos raros momentos onde me sinto uma vadia de verdade.

Hirviente.  |  simon ghost riley.Onde histórias criam vida. Descubra agora