Prólogo 5: Traição

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Após sair da cela, Zira e Keiro andam tranquilamente pelos corredores. Keiro orquestrou tudo com muito cuidado, ele também conta com o auxílio de outros legionários igualmente insatisfeitos com a ordem atual.

De acordo com um dos informantes, nenhum legionário deveria estar no hangar quarenta e sete, porém, ali estava a última pessoa que ele gostaria de encontrar, Tina.

Ela é uma legionária nada fácil de lidar, alguém que não pode ser comprada e tão pouco convencida facilmente. Keiro pensa em mudar de rota, mas é tarde demais, Tina o avista, e desconfiada segue na sua direção. Ele começa a praguejar em voz baixa: "Droga! Não acredito que ela está aqui... Não era para ninguém estar aqui." Zira vira a cabeça na mesma direção e suspira: "Ah não, outra daquelas gatas desprezíveis. Odeio gatos!"

"Ok, não temos como fugir dela. Então mantenha a cabeça baixa e fique em silêncio." Zira obedece, pois não deseja ser reconhecida e muito menos voltar para a cela.

Tina se aproxima, seu andar esbanja confiança e elegância. Ao alcançar os dois ela os mede de cima para baixo e, ao mesmo tempo, sorri gentilmente enquanto lança uma pergunta curiosa: "Olá, Keiro! Foi bom te encontrar. Você pensou sobre o que conversamos ontem?"

Com um sorriso forçado, ele responde: "Pensei sim... E continuo pensando o mesmo." Tina muda de expressão e rebate com uma voz séria: "Você sabe que tem de ser assim. O contrário seria o caos."

Keiro dá de ombros: "Será mesmo? Como você pode ter tanta certeza?" Tina sente-se ameaçada: "Por experiência própria! Óregon me ajudou de várias formas, tenho certeza de que ajudou você também."

Ele sorri sarcasticamente: "Me ajudou? Eu não lembro de ter pedido ajuda. Não lembro de ter pedido nada." A tigresa fecha os olhos e com uma voz de resignação, continua: "É... Eu sei que tivemos de renunciar a algumas coisas, mas foi melhor assim..."

"Algumas coisas?" Keiro contesta irritado: "Ser sequestrado e resetado é pouco para você?!"

Tina se surpreende com a resposta. Ela sente algo parecido com uma descarga elétrica percorrer o seu corpo fazendo o coração disparar, ela se cala por alguns segundos.

Assim como você fica espreitando as brigas do vizinho, assim estava Zira, com os ouvidos pregados e maravilhados com aquela conversa: "Eu achava que todos os legionários concordavam em tudo, mas vejo discórdia nessa casa", pensa ela.

Tina se vê vencida, ela percebe que não adianta continuar rebatendo Keiro. Ele já decidiu em seu coração odiar Óregon, ainda que esta seja a única família para os dois. Para evitar mais debates desnecessários, ela resolve encerrar o assunto: "Tudo bem, Keiro, não vamos discutir aqui. Eu só peço que não faça nenhuma tolice..."

Ofendido, Keiro revira os olhos, assim como um filho o faz quando a mãe lhe ordena que leve o casaco: "Eu não sou tolo para fazer tolices." Tina fica séria: "Assim espero. Bom, vamos prosseguir com os protocolos de transferência."

Com o escâner em seu braço esquerdo, Tina escaneou a prisioneira. Uma luz azulada passou por todo o corpo de Zira e após um breve apito uma voz eletrônica diz: "Prisioneira Zira, código 105.236-21. Transferência concedida."

A tigresa junta as sobrancelhas e inclina levemente a cabeça para cima: "Zira? Mas esta é a prisioneira que a Keinara trouxe hoje para o reset... Por que você...?"

Keiro dá um longo suspiro, ele sabe que foi descoberto.

Um de seus aliados é o responsável pela programação da segurança de Óregon. Mesmo tendo feito perfeitamente o seu papel em modificar os registros, para o azar de ambos, Tina é a supervisora. Sempre que um prisioneiro é cadastrado no sistema, o mesmo envia de imediato uma cópia das informações para o computador pessoal do supervisor. Além disso, ela é dona de uma memória fantástica. Não esquece absolutamente nada! Ainda mais o nome e a cara de uma prisioneira que chegou a pouco tempo em seus registros privados.

Keiro pensa calmamente na melhor alternativa para vencer a situação.

Opção um: lutar com Tina. Mas essa opção não era boa, porque iria causar muito barulho, em questão de minutos vários legionários apareceriam.

Opção dois: enrolar, ganhar tempo e conseguir uma chance de tocar discretamente nela. Segunda opção escolhida.

Uma pequena mentira emocional já seria de grande ajuda, assim ele começa a falar com uma voz melancólica: "Tina, fica calma. Ela é minha prima, e eu não poderia deixá-la aqui para ser resetada." Zira se diverte ao ouvir tamanha baboseira: "Prima... Só se for na vida passada. Mas eu saquei a dele. Confundir e atacar, é o que eu faria."

O sangue de Tina ferve, ela está realmente brava: "Ficar calma? Como? Você tem ideia da loucura que está fazendo? Parente ou não, você não pode simplesmente tirá-la daqui desse jeito!"

Keiro finge preocupação: "Também não posso ignorar a minha família."

"É por isso que Óregon reseta os legionários! Nós temos de ser imparciais, família ou não, se cometeu um crime, tem que pagar!"

Tocar na ferida. Ótima tática! Tina é uma das maiores defensoras no uso do reset em pessoas desordeiras. Os dois fazem parte de um pequeno número de legionários que não foram resetados ou que tiveram as suas memórias restauradas.

Quando jovem, Tina foi encontrada desmaiada em um pequeno espaço entre as paredes de um penhasco. O único motivo de ter sobrevivido foi o fato de ser uma legionária. Mesmo caindo sem ter onde se segurar, as suas habilidades felinas a ajudaram a desviar de pedras pontiagudas durante a queda. Ao encontrar uma brecha entre as paredes do penhasco, Tina lançou o seu corpo com toda a sua força em direção a esta brecha e caiu mais de doze metros. Por fim, atingiu um espaço rochoso batendo a cabeça com grande impacto.

A maioria dos legionários, além da telecinese, possui habilidades extra-naturais ligadas a sua espécie, e uma habilidade especial. Tina possui a habilidade especial de super força, responsável por manter o seu corpo vivo resistindo aos impactos da queda. Mas não foi o suficiente para proteger a sua mente. Algumas horas após a queda ela foi resgatada por um legionário. Sua condição mental, porém, não era favorável. A jovem estava com amnésia. Em casos assim de grande trauma, todos os pensamentos da pessoa ficam trincados e confusos. O legionário sabia que caso ele aplicasse a sua habilidade de apagar memórias na jovem, não sobraria nada na mente de Tina, e provavelmente ela ficaria demente. Por este motivo, Tina nunca foi resetada. Mas o que os anciãos não imaginaram é que ela poderia recobrar todas as suas memórias. Não apenas Tina, como também alguns outros legionários.

Esses legionários criaram um pequeno grupo de apoio chamado Luminária, eles se reúnem constantemente para debater o como lidar com essa descoberta. Keiro faz parte desse grupo e os dois foram os primeiros a terem suas memórias recuperadas. Sempre tiveram uma boa amizade, mesmo discordando bastante quanto às regras e leis de Óregon.

Enquanto Tina nervosa repassava todas essas memórias, Keiro aproveitou para segurar a mão dela, nesta hora a tigresa ficou como que encantada. Seus olhos perderam o brilho e sua boca fechou roboticamente. Com voz firme, Keiro disse: "Tina, você vai simplesmente nos deixar ir. Fique quieta!"

Assim a gata ficou quieta, congelada. Sua respiração diminuiu similar aquando estamos presos em um sono profundo. Ela podia ver tudo, mas não conseguia se mexer, nem falar.

Zira mede Tina com curiosidade: "Gostei... Domou a gatinha. Você usou o seu 'poderzinho' especial de legionário?" Keiro começa a andar rápido, quase correndo: "É, usei sim. Mas não dura muito tempo. Então vamos sair logo daqui." Zira o segue apressando o passo: "Claro, eu não quero provar da sua persuasão mágica." Keiro sorri: "Eu sei que não preciso usar dela com você, temos os mesmos objetivos." Keiro e Zira correm até a nave, dão partida e saem rapidamente da torre central.

Passados dez minutos, Tina acorda assustada: "Não! Você não pode!", mas ela está sozinha. Percebendo o que tinha acontecido, ela dá um alto rugido, liga o comunicador e alerta: "Todas as unidades, isso é uma emergência! Interceptem a nave do..." engasga-se um pouco e continha: "Interceptem a nave do legionário Keiro!" Todas as luzes começam a piscar na cor vermelha, um som forte de alarme soa por todos os corredores. Uma grande nave começa a dar partida e dentro dela, dez legionários se preparam para a caçada. As coisas estão bem complicadas em Óregon.

O coração de Tina está apertado, sufocado, as mãos tremem e ela sentegélidos arrepios em sua pelagem. Seus sentimentos estão a flor da pele, numamescla de raiva, tristeza e medo: "Aquele idiota vai mesmo realizar o quedisse... Não pode ser, como pode ser tão cabeça dura? Preciso falar com a Keinaraagora!"

Uma Noite Fatal (Light Novel Rebelião) Livro um - Ficção Cientifica e PoliticaOnde histórias criam vida. Descubra agora