Conto - Suna

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Quando criança, Suna vivia em seu planeta natal Nahü, onde todos os habitantes são meio homens, meio felinos. Suas casas eram feitas de madeira sobre as árvores, um lugar repleto de verde, montanhas e vales.

Famosos em Nahü eram os grandes e poderosos caçadores. Suas habilidades felinas aguçadas, experiência e exaustivo treinamento, permitiam-lhes capturar animais grandes e assim alimentar toda a aldeia. Visto que a vida era mantida pela caça, desde cedo as crianças eram treinadas a se tornarem futuros caçadores com foco em desenvolver ao máximo suas habilidades. Uma competição acirrada entre as famílias era muito comum. Todos disputavam o posto de Nahamma, ou família chefe. Se tornar a próxima família Nahamma garantiria muitos privilégios especiais.

As escolas eram focadas em ensinar técnicas de combate e caça. A próxima geração deveria ser capaz de defender o território e garantir alimento mesmo em épocas de frio e geada.

Suna era uma jovem extremamente atrapalhada, aquele tipo de pessoa que tropeça nos próprios pés (ou patas). Por este motivo ela se tornou uma piada entre os colegas de classe e uma grande vergonha para os seus pais. Sendo assim, a vida de Suna tornou-se muito solitária. Em casa não existia afeto. Seus pais a olhavam friamente, faziam questão de demonstrar todo o desgosto que sentiam por ela. Era como se a pequena menina fizesse por mal, como se ela tivesse culpa por ser tão atrapalhada e azarada.

Todos os dias após as aulas, Suna entrava em casa de cabeça baixa. Sua mãe deixava uma tigela com comida sobre a mesa, mas ninguém se sentava à mesa com ela. Comia sozinha e ia para o quarto aos suspiros. O seu quarto era um pequeno mundo alternativo onde com seus bichinhos de pelúcia, Suna inventava aventuras nas quais ela era a gran chefe, salvadora de todos. Tudo era perfeito!

"Ao menos uma vez na vida eu poderia ser assim." Seus olhos vez por outra pairavam soltos e brilhantes pelas paredes do quarto, imaginando como seria na vida real se fosse igual à vida imaginária.

Além de todo o desamor por parte da família, a jovem enfrenta perseguição e rejeição dos colegas de turma. Chegou a um ponto que ela achava estranho o dia que ninguém a incomodava.

Mas nem tudo era amargo e sem graça. Uma colega de turma chamada Tina, que era meio humana, meio tigresa, seja por dó, compaixão, sabe-se lá qual outro motivo poderia ser, decidiu aproximar-se dela. As duas se tornaram grandes amigas. Todos os dias elas corriam pela floresta e repassavam as aulas da manhã. Sentavam juntas próximo a um penhasco para conversar e admirar o pôr do sol esplêndido que pulsava e se escondia nas montanhas. Tina estava sempre cheia de muitas ideias e teorias, gostava de filosofar. Coisas que Suna não entendia de nada, porém, o sorriso e a empolgação de Tina a deixava muito feliz.

O coração de Suna ficou cheio de um calor gostoso, o mesmo calor que ela sentia no colo de sua mãe quando ainda era bem pequena. Quando não sabiam o quão sem futuro ela seria: "Uma aluna excepcional! Sem sombra de dúvidas."

Era assim que os professores viam Tina, como a futura gran caçadora chefe. Tinham altas expectativas sobre a garota, que além de habilidosa na caça era incrível nas lutas. Uma nova estrela da manhã estava para surgir.

Mas a vida é injusta, fatídica. Como poderia a luz e a escuridão dividir o mesmo espaço sem incitar o caos? Apenas um incidente e tudo outrora planejado, esperado, se desfez.

Só mais um dia, como tantos outros. Suna e Tina apreciando o pôr do sol. Tina filosofando, Suna contemplando a inteligência, audácia e empolgação daquela que teria um futuro muito melhor do que o seu. Uma cena bonita de se ver, se este não fosse o início de uma tormenta.

"Aquela ali não é a Tina?" grita e aponta um menino meio felino de pelagem vermelha.

"Sim, é a Tina. Como sempre com aquele trapo que carrega para todo lado" conclui outro menino com aspecto de leão.

Uma Noite Fatal (Light Novel Rebelião) Livro um - Ficção Cientifica e PoliticaOnde histórias criam vida. Descubra agora