Prólogo

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Mark Lee tinha um grande problema.

Um de fios loiros que caem pela testa, e sorriso que espremem seus olhos já pequenos.

Um que cheira como uma pitada afrodisíaca de cominho e folhas de chilli.

Grande, grande problema - de ombros largos, alta estatura, braços musculosos, mas uma cintura absurdamente fina.

Problema de muitos adjetivos, mas nem um deles sendo o direito de falar em alto e bom tom; 'Meu'.



Mark também era um problema. Ele conheceu o loiro assim, e envolveu-se com ele de forma tão problemática quanto.

Agora vivia à beira de nervos, entregando-se por inteiro, para receber o mínimo que ele pudesse lhe oferecer.

O problema de se envolverem não era maior do que seu grande problema individual com o loiro. Mas eram artistas de empresas rivais, e de agendas propositalmente alinhadas para alimentar as competições indiscretas dos superiores - pela busca em fazer o público intitular o melhor prodígio.

Se o romance entre eles já era praticamente impossível em uma Indústria como essa, num país como o que viviam, um romance entre eles - sendo o solista mais requisitado da Neo Entertainment, e o artista multi-talentoso e mais aclamado da Cult Tech Company - era mais difícil ainda.

Enigmaticamente, o canadense foi (ainda assim) capaz de ter seus lábios contra o pescoço de traços tão bem delineados, e seus dedos apertando contra a pele pálida de sua cintura fina, o suficiente para lhe marcar por dias.

E de novo, e de novo. Até que tocar Jeno tornou-se um compromisso em sua agenda, escrito em uma caneta que possibilita leitura apenas com luz negra. O compromisso mais ansiado.

Era difícil compreender como acabaram com os corpos alinhados. Alguma festa super sigilosa com apenas rostos famosos, em algum galpão bem distante dos olhos dos cidadãos comuns da capital. O mais novo tinha orbes avermelhadas pela maconha, e o mais velho passos tortos pelo álcool. Eles se olharam fundo demais, e uma faísca escapou.

O querido Mark Lee por essas águas? - Lembra vividamente de como o rapaz que naquele momento tinha fios rosas se aproximou, sílabas lentas e grande sorriso no rosto. Era realmente a primeira vez de Mark por ali, descobrindo tardiamente sobre as festas, com uma lista pequena de amigos confiáveis no mundo musical.

Surpreso de ver o primeiro amor da nação por aqui. - Foi o que respondeu. Porque sim, esse era o título que o garoto (que logo comprimia seus olhos com seu sorriso) carregava. Cativante e adorável como aquele primeiro amor inesquecível; Que você nunca terá, e sempre irá cobiçar.

Seu também? - Ele ousou responder, e tolamente Mark mordia o interior da bochecha para conter um sorriso.

Foi fácil tê-lo debaixo de si naquela noite. Um no efeito entorpecente, outro no alcoólico, como bons artistas fatigados e destruídos por uma carreira pesada e limitante. Mark amava a música, com todas suas forças - mas essa força era diariamente testada nas águas violentas que a indústria musical coreana lhe fazia nadar. Jeno era outra vítima dali, num âmbito ainda maior, preso ao sistema fodido da arte antes mesmo de poder escolher se queria ou não (tendo sido um dos grandes rostos das propagandas infantis quando ele ainda era uma criança).

Jeno era tão maleável em seus dedos, entregando-se (desde a primeira vez) como se tivesse sido feito para caber entre eles, ou para engolir toda sua extensão de maneira tão libidinosa. Tão vocal, disposto a hipnotizar os pensamentos alheios em seu canto de sereia e fazê-lo acreditar que poderia ser apenas seu - mas jamais seria.

Grandes problemas - marknoOnde histórias criam vida. Descubra agora