Capítulo 1

292 41 44
                                    

                          Abner

Fazia apenas um dia que tínhamos nos mudado para a cidade de Nova Esperança, e apesar de ser um lugar completamente desconhecido para mim, eu estava feliz com isso.

Depois de finalmente terminar de arrumar meu quarto, ou pelo menos colocar tudo em algum lugar, olhei pela janela as ruas lá embaixo. Aparentemente esta era uma cidade tranquila e acolhedora, as pessoas cumprimentavam umas as outras em um tom amistoso e com sorrisos sinceros e me perguntei se demoraria para que eu fizesse algum amigo por ali.

— Bem, vamos lá!

Peguei minha mochila e coloquei dentro algumas coisas que achava que iria precisar. Então desci as escadas para o primeiro andar e fui ao encontro dos meus pais, que naquele momento estavam terminando de colocar os mantimentos nos armários.

— Será que eu posso sair um pouquinho? — perguntei chamando a atenção dos dois para mim.

— Onde você vai, rapazinho? — minha mãe questionou com as mãos na cintura.

— Quando chegamos na cidade, passamos por um parque que fica há algumas ruas daqui e eu quero ir lá — expliquei mostrando minha mochila já pronta.

— Não vejo problema algum nisso, querida — disse meu pai com sua paciência, afagando o ombro de sua esposa.

— Tudo bem — respondeu e dei-lhe um sorriso agradecido.

—Posso ir também? — Minha irmã, Chloe, perguntou aparecendo na cozinha.

— Você não, mocinha, ainda precisa terminar de arrumar seu quarto — declarou, Susan, convicta.

— Mas, mãe... — Chloe tentou persuadi-la com sua carinha de anjo, mas ela sabia tão bem quanto eu que depois que nossa mãe tomava uma decisão, não tinha volta.

— Você ouviu sua mãe, meu bem — Robert afirmou dando seu apoio como marido.

— Não se preocupe, mana — falei me abaixando até ficar da sua altura e ela olhou para mim — Da próxima vez, garanto que levo você.

— Palavra de honra? — ela estendeu seu dedo mindinho, um hábito nosso, e eu ri bagunçando seu cabelo.

— Palavra de honra — respondi juntando nossos dedos.

— Então, tudo bem! — sorriu animada.

Aproveitei a deixa para me apressar indo em direção à porta da frente.

— Volte antes do jantar! — ouvi o aviso da minha mãe.

— Pode deixar!

Era fim de tarde, o sol já estava quase se pondo e uma brisa suave passava de vez em quando pelo ar, deixando o clima ainda mais agradável. Aproveitei a caminhada para observar melhor a nossa vizinhança, vi algumas crianças brincando nas varandas de suas casas e algumas mulheres andando por ali.

Felizmente, eu havia prestado bastante atenção pelas ruas que passamos e por isso, não foi difícil encontrar o parque depois de alguns minutos.

O lugar chamou minha atenção assim que o vi, em sua vasta área estavam espalhadas árvores frondosas, também havia ali um parquinho com brinquedos onde algumas crianças se divertiam. Ao me aproximar mais, percebi que tinha um lago na parte mais extrema e posicionados em vários lugares diferentes, havia bancos onde algumas pessoas estavam sentadas.

Era um lugar muito bonito e minha intuição de desenhista me dizia que eu logo iria encontrar uma nova obra de arte ali. Assim sendo, caminhei por entre as árvores observando tudo naquele lugar, a grama no chão, as pessoas conversando ou mexendo em seus celulares, as crianças correndo e dando gargalhadas, até que algo me fez parar.

Em uma parte mais afastada, de frente para o parquinho, uma moça estava sentada em um banco, completamente imóvel. Cheguei um pouco mais perto, mas ainda deixando um boa distância entre nós. Só então percebi que ela estava com os olhos fechados, a cabeça inclinada levemente para cima e com um pequeno sorriso emoldurando seu rosto.

Ela era linda, mas o que realmente me deixou encantado foi a paz e a tranquilidade que emanava dela. Fiquei ali a admirando sem me mover do lugar, ela abriu os olhos e fitou o céu, onde agora o sol já estava se pondo, e então, o sorriso em seu rosto foi se desmanchando até sobrar apenas uma expressão deprimida.

— Ela parece tão... triste — murmurei sentindo um pesar de repente.

Tive um forte desejo de me aproximar e perguntar se estava tudo bem, mas ao invés disso eu apenas a observei em silêncio.

Me sentindo inspirado, como há muito tempo não acontecia, me sentei ali mesmo na grama, peguei meu caderno de desenhos e comecei a esboçar o cenário que estava na minha frente. Tudo aconteceu muito rápido e depois de pouco tempo, eu já tinha meu desenho quase todo pronto. Mas assim que o sol se pôs completamente, ela se levantou e foi em direção ao parquinho, onde chamou uma menina que brincava no balanço e saiu com ela sem nem olhar para trás.

Meu primeiro pensamento foi de correr atrás dela e mostrar o desenho feito por mim, mas ele não estava terminado ainda, então decidi esperar um pouco mais, até porque, algo me dizia que aquela não seria a última vez que eu a veria.

Quando voltei para casa já estava anoitecendo, minha mente estava tão agitada que só percebi a presença de alguém na frente da minha casa quando eu já estava bem próximo. Assim que me viu, ele se virou em minha direção e colocou as mãos nos bolsos do casaco.

— Oi! Então você que é o vizinho novo? — perguntou um cara que parecia ter a minha idade.

— Acho que sim — falei com graça.

— Então... minha mãe viu você passando mais cedo e por algum motivo, achou que eu deveria ser o primeiro a cumprimentá-lo — ele deu de ombros — Enfim, meu nome é Zachary, mas pode me chamar de Zac.

Ele estendeu a mão para frente e eu a apertei de volta.

— Sou Abner. Você mora por aqui?

— Está vendo aquela casa ali? — ele apontou para uma que ficava a duas casas de distância da minha e eu assenti — Moro bem ali, então somos praticamente vizinhos.

— Tem razão — concordei com simpatia — Por que você não entra? Minha mãe vai adorar te conhecer.

— Eu e meus pais saímos daí agora há pouco — disse e tratou de explicar — Pelo que parece, meu pai é um velho amigo do Sr. Robert.

— Entendo — balancei a cabeça concordando — Meu pai nasceu e cresceu nessa cidade, mas quando completou a maioridade decidiu se mudar para estudar medicina. 

— Isso explica tudo — comentou — Bem, eu já vou indo. Sua mãe falou que vocês irão se apresentar amanhã na igreja que seu pai congregava, então a gente se vê lá!

Ele acenou com a cabeça e saiu apressado em direção à rua.

                    
                            🌺🌺🌺

Naquela noite, depois de tomar um bom banho e jantar, fui diretamente para o meu quarto e me sentei na escrivaninha relembrando os últimos acontecimentos do dia.

Minha mente levou-me diretamente ao momento em que vi a garota no parque. A sensação que tive foi tão real, que me senti um covarde por não fazer nada por ela.

Peguei o desenho em cima da mesa e o encarei seriamente, no papel havia exatamente um reflexo dela sentada no banco com os olhos fixos no pôr do sol, a única diferença, é que ela estava sorrindo de verdade.

Apoiei uma das mãos atrás da nuca e inclinei minha cabeça para trás.

— Senhor, quem é essa garota e por que parecia carregar uma tristeza tão grande?

Suspirei e sem saber mais o que pensar, fiz a única coisa que realmente conseguia me acalmar. Me ajoelhei e orei à Deus como sempre fazia, mas desta vez inclui mais uma pessoa em minha oração.

A Escolha Perfeita Onde histórias criam vida. Descubra agora