- Acordas sozinha ou precisas de ajuda? - gritou alguém do outro lado da porta. - Se não responderes vou entrar!
Virei-me mais de dez vezes para lados opostos de como estava, não abria os olhos, estava cansada e cheia de sono, parecia que só tinha dormido alguns minutos, mas sabia que tinha que acordar definitivamente, tinha plena noção que era o meu primeiro dia de aulas, ou mais correto: dia da cerimónia.
A vontade era zero para me levantar da cama, por muito entusiasmada que estivesse.
Christian continuou a bater à porta até que me levantei e fui em direção à porta, quando ia abrir para avisar que já estava acordada, ele abriu com uma brutidão que a porta chocou contra a minha cara e fez-me estatelar desamparada no chão. Ao ver o olhar chocado e arrependido de Chris quando se ajoelhou para me ajudar, mesmo doendo-me o corpo todo, a vontade de rir era enorme, quando Chris abriu a boca para me perguntar se estava bem e a voz soou totalmente desesperada, não me pude conter, o riso saiu natural, ri como nunca tinha rido antes, ri até contagia-lo e tê-lo a rir comigo sem saber o motivo. Assim que brinquei com ele por estar a rir-se de si próprio, parou de rir, ficou sério e perguntou algo como "A sério?" antes de me atacar com cócegas. A única que alguma vez me fizera isso fora Megan quando eu era mais nova. A barriga doía-me por causa do riso, e a impressão que as cócegas faziam obrigavam a debater-me e tentar soltar-me do controlo que Christian exercia sobre mim. Com um empurrão ele perdeu o equilíbrio e caiu sobre mim, tinha o corpo pesado dele e fazer pressão no meu, o rosto dele ficou quase colado ao meu por instantes, até Chris levantar-se num salto fazendo-me notar nas faces vermelhas quando estendeu a mão para me ajudar a levantar e saiu do quarto dizendo que ia ficar à espera lá fora.
Durante algum tempo ri sozinha, não percebia o porquê daquela última reação, mas de qualquer forma continuava a achar todo aquele acontecimento engraçado.
Tomei um banho rápido, vesti-me e desci as escadas para a cozinha, agarrei no copo de leite e na torrada que estava em cima da mesa como todas as manhãs, bebi o copo de leite e acabei de comer a torrada pelo caminho.
Foram os quinze minutos mais deprimentes da minha vida, não sabia o que falar e Chris não andava ao meu lado, ficava sempre uns passos à frente e parecia que não queria que me aproxima-se, então não o fiz. Temi ter feito algo que o magoasse, tentei lembrar-me de algo que o pudesse chatear, mas não me ocorreu nada, não conseguia imaginar nada que o pudesse perturbar. Fiquei a matutar no mesmo assunto até chegar à escola e chocar contra alguém que parara à minha frente. Pedi desculpa sem olhar e corri para perto de Chris que avançara sem abrandar o passo ou reparar que estava afastada.
O meu coração quase parou quando olhei em frente e vi pessoas por todo o lado, uma multidão, um aglomerado de adolescentes que pareciam baratas tontas, não paravam quietas. Daquilo não estava à espera, era um ambiente demasiado movimentado, com corredores apertados, caminhos e mais caminhos que se transformavam num labirinto, várias portas que dávam a salas, era tudo muito confuso para uma coisinha pequena como eu. Limitava-me a seguir o Chris através dos corredores para não me perder, mas a minha atenção era desviada para tudo o que era sítio, uma biblioteca, uma sala de professores, a direção, os clubes de artes, música, astronomia, ciência, teatro, todos estes nomes escritos em placares ao lado das portas seguidas ao longo dos corredores de vários pisos.
A postura de Chris continuava sempre a mesma, não sorria, não falava, não mudava a expressão séria, tentei falar, mas desisti, não tive coragem, tinha medo de olhar naqueles olhos totalmente desprovidos de emoção.
O tempo livre acabou, dirigimos-nos para um pavilhão onde iria decorrer a cerimónia de entrada, estavam todos divididos por anos, os caloiros (primeiro ano), os de segundo ano e os de terceiro ano, "veteranos". A presidente da Associação de Estudantes apresentou-se aos que não pertenciam à escola anteriormente, começou por falar da escola, dos clubes, do ambiente em que nos iríamos enquadrar, falou das regras e de tudo o que fosse em relação à escola. Uns bocejavam ou encostavam-se o máximo possível às cadeiras para dormirem outros mal conseguiam manter os olhos abertos durante mais do que um segundo. Olhei para o lado, onde estava o Chris e vi-me obrigada a engolir uma gargalhada. Ele parecia uma criança invulnerável, dormia de braços cruzados, enterrado na cadeira. Não conseguia desviar o olhar, era uma visão única, a expressão serena deixava-me enfeitiçada, prendia-me a respiração, fez-me perder a noção do tempo...
- Estão dispensados, tentem fazer uma visita às vossas salas para não haver confusões amanhã. Espero que aproveitem bem estes anos que vos esperam. - concluiu a presidente e todos se levantaram para bater palmas menos Chris.
Tentei acordá-lo batendo-lhe no ombro e sacudindo-o, mas ele continuava imóvel, fiquei sem opções, então limitei-me a chamá-lo e a sacudi-lo até acordar.
- Dormiste bem bela adormecida? - perguntei assim que ele acordou.
- Dormi, mas o meu príncipe encantado não me deu um beijo para acordar, ao invés disso, sacudiu-me. - respondeu enquanto se espreguiçava.
Sorri e ele sorriu de volta, acho que as coisas voltaram ao normal, queria perguntar o que se tinha passado, mas deixei passar, ele iria acabar por contar , não precisava preocupar-me. Apenas não queria voltar àquele silêncio, àquele constrangimento que pairava no ar.
Saíram todos ao mesmo tempo, empurravam-se uns aos outros numa competição de "quem sai primeiro". Não percebia o porquê de tanta pressa ao ponto de se empurrarem, se bem que não sentia ninguém tocar, Chris encarregou-se de ficar atrás de mim a assegurar que nada me acontecia e que não iria perder-me de vista. Era bom sentir-me assim segura e saber que alguém está ali por nós, alguém que se importa verdadeiramente. Era por isto que o via como um irmão, alguém com quem posso contar.
- Mei? - chama Chris, interrompendo os meus pensamentos.
- Que foi? - pergunto.
- Lembras-te de quando nos vimos pela primeira vez? Naquela loja... Onde te ajudei?
- Sim porque não haveria de me lembrar?
Chris olhou para mim e ficou calado, abria e fechava a boca, tentando arranjar as palavras certas, quando a sua boca emitiu um som, fomos interrompidos por uma voz feminina aos berros:
- Christiaaaan!
Reparei que Chris revirou os olhos e voltou-se para trás, de onde vinha o som. Uma figura de uma certa fofura corria em direção a ele e este simplesmente cruzou os braços enquanto a rapariga lhe saltava para o pescoço.
- Que queres? Já começa logo pela manhã? Não me posso ver livre de ti um segundo?
- Para quem devia adorar-me não estás a reagir muito bem.
- Alguma vez disse que te adorava?
- Sim ontem à noite quando me beijas-te e agradeceste pelo que te disse!
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:o Chris garanhão, pela segunda vez uma rapariga que se mete, desta vez é mais a sério!
Acho que as coisas não vão correr lá muito bem...
ByeBye
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Nada é como parece
RomanceEla é apenas uma rapariga normal, mas vive de uma maneira completamente diferente de qualquer outra. Alguém imagina como seria viver sem qualquer contato com o mundo exterior? Sem falar com alguém da vossa idade, sem ter qualquer aparelho de comunic...