Adormeci provavelmente em chamada e provavelmente enquanto Simon falava, se fosse importante ele iria dizer-me de novo, lembro-me apenas que ele tinha dito que ia mudar-se para casa dos avós, além disso não me lembro de ele ter dito mais nada. Sei que ele disse "talvez" quando lhe perguntei se o facto de se mudar era bom... Era possível que fosse para mais longe do que já estava de mim, também era indiferente se fosse para longe ou mais perto, iria acabar por não o ver na mesma.
Eram oito horas, mesmo sem despertador eu acordava sempre à mesma hora, se isto continuasse assim quando começa-se o colégio era bom, mas de qualquer maneira nessa altura era melhor ter sempre o despertador só mesmo para ter a certeza que não chego nenhum dia atrasada.
8:55 - Simon: Bom dia.
Um bom dia muito seco, mas nada demais, não me iria importar apenas fazer o mesmo.
8:57 - Eu: Bom dia.
Durante o dia todo limitámo-nos ao bom dia. Nenhum dos dois quis dar o braço a torcer, pelo menos eu sou orgulhosa o suficiente para não lhe dizer nada até ele dizer algo. As horas foram passando, tive as minhas refeições normais com a Megan porque os meus pais tinham saído cedo e não voltaram. Hoje ia ficar sozinha tal como nas outras vezes, Simon na escola, pais a trabalhar e Megan ocupada com a lida da casa. Sinceramente não me apetecia ficar em casa e se saísse ninguém ia dar por isso, mas se dessem podia perder toda a liberdade que me davam ou talvez não... Nunca fiz nada de errado para saber o que me iriam fazer, provavelmente nada porque sinceramente acho que tenho idade para fazer as minhas próprias decisões.
Sabia onde a minha mãe guardava o dinheiro, bastava ir buscar algum, até podia nem precisar, mas ao menos tinha para caso acontece-se alguma coisa ou precisasse de utilizar algum transporte. Tentei não passar por nenhuma parte da casa onde Megan possivelmente poderia estar. O quarto dos meus pais era no fim do corredor em frente ao meu mas até lá chegar passava pelo menos por três divisões da casa, não percebo porque tinha que morar numa casa tão grande se a maioria dos quartos nem sequer eram utilizados, para quê um escritório se normalmente ninguém está em casa? O caminho estava livre e ouvia a voz de Megan no piso de baixo, muito provavelmente estava na cozinha ou então na varanda, por enquanto não haveria problema. O problema seria sair de casa sem ela ouvir a porta.
Finalmente cheguei ao quarto dos meus pais, dirigi-me à mesa cabeceira do lado esquerdo da cama e abri a segunda gaveta onde estava um envelope com algum dinheiro, como é óbvio não iria tira-lo todo, não sabia muito bem quanto tirar, embora soubesse quanto aquilo valia não sabia quanto custava as coisas lá fora, como transportes.
Primeiro objetivo concluído, agora a parte complicada seria sair de casa sem ser notada e... Esqueci-me completamente de uma coisa. Como é que eu volto para casa se não tenho chave? Já estava à frente da porta quando pensei nesta pequena falha do plano, completamente desmotivada comecei a recuar e sem dar conta tinha a Megan à minha frente com os braços cruzados e a abanar a cabeça como sinal de desaprovação, ainda mais desmotivada fiquei, agora ela iria de certeza falar com os meus pais, porque uma coisa é guardar segredos sobre como me sinto outra coisa é quase sair de casa sozinha quando nunca o fiz. Para me surpreender mais uma vez, Megan sorriu e descruzou os braços, mostrando que em uma das mãos tinha uma chave.
- Claro que não te deixo sair sozinha, mas se queres sair, porque não? - perguntou Megan.
- Espera só uns segundos, eu já venho. - depois de dizer isto corri para o quarto dos meus pais e coloquei o dinheiro de volta ao envelope.
Quando desci de novo, Megan tinha uma pequena lancheira, provavelmente com alguma comida para o dia. Era normal dela ir sempre preparada para onde quer que fosse. Desta vez foi um passeio a pé, não utilizamos qualquer meio de transporte. Passamos pela pista onde normalmente corria com o meu pai (deixei de correr porque de manhã começou a estar demasiado frio para querer sair de casa) e parámos num pequeno parque sem bancos, apenas com relva verde onde se via ao longe pessoas com uma toalha estendida no chão e com lancheiras parecidas à que a Megan trazia.
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Nada é como parece
RomanceEla é apenas uma rapariga normal, mas vive de uma maneira completamente diferente de qualquer outra. Alguém imagina como seria viver sem qualquer contato com o mundo exterior? Sem falar com alguém da vossa idade, sem ter qualquer aparelho de comunic...