Uns quantos zumbidos irritantes, um murro na mesa e problema resolvido. Ouvi um estrondo enorme e apercebi-me do que tinha feito. O meu telemóvel estava no chão separado da capa e da bateria, mas não estava danificado. Agarrei nele e voltei a ligá-lo.
16:19 - Simon: Tenho a certeza que já chegaste. Espero que tenha corrido tudo bem. A Karen e a Asako mandam beijos. Se puderes falamos no skype à noite...
Os meus olhos ardiam pela vontade contida de chorar. Fiz-me de forte, não vou voltar a chorar. Foi o suficiente. Eu tinha escolha. Decidi vir para aqui. Fui eu que escolhi! Respirei fundo e afastei os lençóis de cima de mim. Ainda eram quatro da tarde, tinha o dia pela frente e nem sabia o que iria fazer. A primeira tarefa era desfazer as malas.
Empurrei a porta espelhada do guarda-roupa para o lado e comecei por pendurar algumas camisas e o vestido que usara quando... Fechei os olhos e esqueci a lembrança. Não iria pensar em Simon. Não por agora.
Os ténis ficaram expostos ordenadamente pela última prateleira. O resto da roupa ficou dobrada dentro de gavetas separada por tipos. Fiquei orgulhosa de mim mesma quando terminei e empurrei a mala para debaixo da cama. Puxei a segunda mala que continha tudo o que era mais importante. Computador para cima da cama. Globo de neve para cima da mesa cabeceira. Caixa de produtos de higiene para a casa de banho que ficava dentro do quarto. Quando terminei de desfazer a segunda mala, esta foi igualmente empurrada para debaixo da cama. Aproveitei o fato de não precisar de sair do quarto para ir tomar um banho demorado. Agarrei numa roupa simples e prática e pus-me a caminho do tão desejado banho.
***
Quando voltei ao quarto tinha Megan sentada à beira da cama, pronta para as suas perguntas.
- Por onde queres começar? - perguntou de braços cruzados.
Baixei a cabeça e prendi o olhar no chão, sem nunca olhar para ela, sentia como se tivesse feito algo muito errado. Arranjei coragem e contei-lhe como tudo tinha acontecido desde que saíra do Hotel. Falei-lhe sobre o que Simon despertava em mim, falei-lhe da maneira como sinto vontade de estar perto de Christian, da maneira como quero que ele me abrace, da maneira como quero sentir-me protegida por ele e finalmente... Disse o que tinha acontecido quando Christian me viera buscar. A expressão de Megan suavizou, era um olhar de pena e eu não gostei disso, quando olhei para ela e fiz cara feia ela pareceu perceber porque mudou de posição e voltou a encarar-me séria.
- Tens a certeza sobre o que sentes ou sentias pelo Christian? - a sua pergunta deixou-me confusa e como se percebe-se a minha confusão, continuou. - Foram os teus primeiros meses fora de casa, não é como se pudesses amar logo à primeira vista. Ele esteve muito tempo lá em casa, tu afeiçoaste-te à sua presença. Criaste um carinho por ele que pode ter-te conduzido a ideias erradas. O amor não se explica e o que eu vejo é que tu sabes tudo o que sentes pelo Christian e nada sobre o que sentes pelo Simon. Pelo que percebi tu preferiste ir ver o Simon do que continuar com o Christian, se fosse dele que gostasses, no momento que ele te beijou, não achas que tinhas-te esquecido que o Simon existe?
De certa forma ela tinha razão e foi isso que impediu o meu cérebro de conseguir pensar sobre o que eu diria a seguir. Não tinha qualquer resposta possível e foi aí que pensei em como Megan é fantástica. Em como nos piores momentos só ela sabe o que dizer. Só ela consegue compreender qualquer situação e ajudar-me. Se não fosse por ela, na maioria das vezes eu iria acabar for fazer as escolhas erradas.
***
Passámos o dia nas compras, o tempo estava seco, mas escuro. As nuvens tapavam todo o azul do céu e incapacitavam-nos se sequer ver o sol.
Comprei algumas roupas por serem adaptadas ao tempo em que estávamos, umas botas para dias de chuva e como não podia faltar fomos tratar dos papeis para a transferência de escola. Sem eu saber, a minha mãe havia tratado de tudo no Japão para não ter-mos qualquer problema ao virmos para aqui. Na minha ficha de estudante era como se eu tivesse feito todos os anos escolares, omitia-se a parte de que era o primeiro ano que eu frequentava para que não dificultasse a entrada numa nova escola, já que o tipo de ensino é diferente.
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Nada é como parece
RomanceEla é apenas uma rapariga normal, mas vive de uma maneira completamente diferente de qualquer outra. Alguém imagina como seria viver sem qualquer contato com o mundo exterior? Sem falar com alguém da vossa idade, sem ter qualquer aparelho de comunic...