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Sou uma pessoa complicada, não tive propriamente a vida facilitada em certas coisas. Uma mãe ausente, um pai inexistente e uma casa enorme, mas vazia. Nunca tive problemas fosse motores fosse de qualquer outra coisa. Sempre fui uma pessoa forte, sem vícios, com uma boa educação. Sempre tentei agradar a minha mãe, ela é o meu ídolo, a pessoa mais forte que conheço, é uma mulher como não há muitas. Trabalha quase vinte e quatro horas por dia para poder dar-me tudo aquilo que preciso e até mais, para pagar aquilo que não pode dar em atenção, carinho e amor, mas a isso chama-se "comprar alguém", o que não é bom. O melhor seria arranjar o mínimo de tempo possível nem que fosse para poder ter algumas refeições comigo, mas nem isso... Não a culpo, continuo a ama-la com todas as forças que tenho, continuo a idolatrá-la acima de tudo, porque ela foi pai e mãe durante a minha vida toda, mas ninguém é perfeito.
Na escola, tentei sempre tirar as melhores notas, dediquei-me a estudar para isso. Tinha vários sonhos a cumprir, um deles era fazer a minha mãe parar de trabalhar e puder sustenta-la eu mesmo, mas sei que para isso, serei eu a ter uma vida complicada, deixarei de ter o tempo que tenho agora disponível para o que quer que seja. Ainda assim, se estudar o suficiente, poderei trabalhar naquilo que quiser, seja ou não algo complexo que me tire todo o tempo, quero entrar no mundo dos adultos o mais rápido possível.
Numa das muitas viagens da minha mãe, mais uma vez tinha que ficar ao cuidado da minha avó, pelo menos era o planeado. Alguns dias antes, a minha avó adoeceu, ficando incapacitada de tomar conta de si própria. Problemas de coração, problemas nos ossos entre outras coisas graves características de uma pessoa idosa com maus vícios. Tudo isto fez com que por obrigação fosse levada para o hospital para ser diagnosticada, mesmo que voltasse para casa dias depois, não tinha disposição para cuidar de um adolescente. Sem eu saber de nada, a minha mãe conseguiu fazer com que me hospedasse na casa de uns conhecidos seus...
Estávamos no carro, em direção ao meu suposto destino quando finalmente a minha mãe decidiu falar.
- Christian, não vais propriamente para casa de pessoas que conheces como a tua avó, mas tenta ajudar no que possas. Eles têm uma filha... Da tua idade, não a pressiones, não fales da vida exterior, pelo menos a parte má. Ela é como uma criança pequena, tens que ter cuidado com o que dizes, prometes portar-te bem?
- Mãe.. Por favor não fales como se eu tivesse dez anos, mas sim prometo. - revirei os olhos, a maneira como ela fala, muitas vezes parece que ainda pensa que sou uma criança, é desagradável.
- Não te esqueces de nada? - perguntou quando estava a sair do carro.
- Acho que não. - respondi, refletindo um pouco.
- De certeza filho? - questionou virando a cara e pondo um dedo apontado à bochecha.
Ah! Ela e as suas manias carinhosas de despedida. Debrucei-me para conseguir beijar-lhe a bochecha através da abertura do vidro.
- Tem juizinho! - gritou enquanto fazia marcha-atrás.
- Ora boa noite, Christian. - falou um homem que acabara de estacionar o carro na garagem ao lado do grande edifício.
- Boa noite Senhor. - respondi com os olhos presos no chão.
- Como sempre a tua mãe é pontual. Não queria que entrasses em casa sozinho por isso pedi-lhe que te trouxesse a esta hora para ser eu a apresentar-te sem causar muito alarido.
- Sim senhor.
- Não sejamos formais Christian, o meu nome é Grey.
- Senhor Grey... - fiz reverência, mas senti-me um pouco estúpido, não sabia muito bem como agir perante aquele homem.
- Como queiras Christian. - disse rindo.
De seguida rodou a chave na porta e duas figuras femininas apareceram, uma delas de olhos verdes reluzentes que eu já vira antes...
- Bem vindo de volta p... - a rapariga de olhos verdes pareceu engasgar-se ao ver-me.
- Algum problema Mei? - perguntou o homem que no escuro me pusera medo e que agora à luz intensa do candelabro pregado no teto me parecia inofensivo e extremamente atencioso. - Bem Christian, esta é a minha filha, Mei.
- Olá Mei, parece que já nos conhecemos. - sorri enquanto me perdia no olhar verde.
- Já se conheciam? - perguntaram a Sra. e o Sr. Grey ao mesmo tempo.
- É uma história complicada, depois conto-vos. - replicou a Mei e notei no seu tom de voz um grande nervosismo.
E este foi só o começo dos dias que passei com esta florzinha de estufa.
Admito que não sou de conversas, prefiro ter o meu canto, onde ninguém me chateia, mas esta rapariga tirava-me do sério. Era fofa à sua maneira, era meiga, atrapalhada na cozinha, irritadiça e quando queria, podia ser muito chata! Os meses que passei com ela... Bem posso dizer que foram os melhores da minha vida, mas ao mesmo tempo os piores.
Mei era tal e qual uma criança, não parecia em momento algum ter noção do que provocava em mim. Por muitas pistas que desse ela era totalmente desligada da realidade. Acho que se gritasse nos ouvidos dela "apaixonei-me por ti" ela não ia perceber e provavelmente ria na minha cara como se eu tivesse acabado de contar a piada mais hilariante de sempre. Era quase uma missão impossível, fazer com que ela percebesse. Mesmo que percebesse, ela não sente o mesmo, se não sente não sabe o que é, e se não sabe o que é, mesmo que explique e ela entenda, vai continuar sem perceber...Com o passar do tempo, quando pude finalmente afastar-me dela ao ir de novo para a minha casa, Mei deu-me a entender que se interessava por mim, que se importava se eu não estivesse por perto, pareceu até ficar afetada quando pensou que eu tinha namorada e não lhe contei. Era só ilusão minha, era só devaneios... Ela importava-se por não saber mais sobre mim. Importava-se porque queria "apoiar o seu irmão"... Sim, ela via-me como um irmão, nada mais nada menos. Foi isso que me desmotivou completamente.
Nunca gostei de ninguém, nunca me quis apaixonar e quando me apaixonei, quando comecei a sentir "borboletas no estômago", como muitos descrevem, foi com a pessoa errada. Triste não? Sou o sortudo em pessoa! A cima de tudo sou a esperteza em pessoa. Gosto de uma rapariga que precisa ser ensinada para tudo o que faz, uma rapariga que precisa de apoio, não pode ficar sozinha e eu fui abandoná-la. Comecei a deixa-la ir sozinha para a escola, deixei de ter os olhos postos nela para a proteger, mesmo que a sua personalidade encantasse qualquer pessoa, mesmo tendo arranjado amigas para a apoiarem, mesmo que o Hansen a pudesse proteger... Queria ser eu a estar ao lado dela, mas afastei-me.Estava a entrar no recinto escolar quando os meus olhos cruzam com os da Mei e reparo na sua palidez, embora a sua pele fosse branca como a neve, distinguia-se perfeitamente a palidez, o olhar apagado, o corpo fraco a cada passo lento. Vi o seu corpo perder a força e os seus olhos fecharem, foi como se o meu coração saltasse da boca, corri com toda a força que tinha para evitar que aquele corpo frágil que, em câmara lenta se movia à minha frente, tocasse no chão. Não cheguei a tempo... Outra pessoa tomou o meu lugar.
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Decidi fazer um capitulozinho dedicado ao nosso Christian, já que a nossa Mei é um pouco... "desligada". Só para apimentar aqui a parte lamechas da história ❤
Au revoir ^^
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Nada é como parece
Roman d'amourEla é apenas uma rapariga normal, mas vive de uma maneira completamente diferente de qualquer outra. Alguém imagina como seria viver sem qualquer contato com o mundo exterior? Sem falar com alguém da vossa idade, sem ter qualquer aparelho de comunic...