Hermeticismo Cristão: A Relação Oculta entre a Igreja e o Oculto

VII. Aspectos do Hermeticismo

Teologia: Poimandres é a Inteligência (Nous) da Soberania Absoluta, também conhecido como Pai ou Sumo Bem. Ele é a Luz transcendente e imanente (não criado, cria; não manifesto, se manifesta), revelando-se unicamente aos que o procuram.

Epistemologia: o Hermeticismo emprega diversos recursos linguísticos (símbolos, metáforas, alegorias, etc.) para exprimir o que o raciocínio é incapaz de significar, mas que pode ser apreendido por vias noéticas (ou seja, pela intelecção suprarracional).

Nous: sendo entendido como Inteligência da Soberania Absoluta, compreende a totalidade das coisas reais e habita em todos os seres humanos; por meio dela, os homens piedosos partilham da natureza de Deus, em Sua bondade, soberania, geração, espiritualidade, inteligência e divindade.

Humanidade: o homem é a imagem e semelhança de Deus (microcosmo), atualizando Sua presença para os entes criados. Quando dotado de todas as potências divinas, e livre de seus vícios e paixões, sua indústria (artes e ciências) supera a capacidade dos “deuses”.

Piedade: a Piedade (Eusebeia) é a fidelidade cúltica ao divino, para que o homem conheça a si mesmo, a Deus e ao mundo, tornando-se tanto ético como religioso.

Palingênese: no Hermeticismo, a salvação ocorre por meio do pensamento correto, ou seja, pela intelecção (Noesis) e apreensão da realidade tal como ela é (Gnose). Assim, o homem piedoso, pela graça do renascimento, abandona aquilo que é perecível e permanece em Deus.

Tradição: o único meio de iniciação ao Hermeticismo é a experiência direta com Poimandres (Pastor de Homens). Sua tradição é perene, pois sempre se faz acessível aos homens que praticam a Piedade.

Sapiência: o Hermeticismo não se entorpece com qualquer problema racional-especulativo, nem se limita ao pensamento lógico-sensorial. Sua prioridade é a contemplação das realidades divinas.

Religiosidade: as práticas herméticas não estão ligadas a nenhum culto em específico. Aqueles que seguem esta via o fazem segundo sua própria capacidade natural (exterior) e espiritual (interior).

Sympatheia: o universo é uma unidade complexa, formado por diferentes elementos interdependentes, que podem ser conhecidos por meio de suas relações de afinidade e correspondência (fractalidade).

Holismo: toda a criação é viva e animada pela Alma do Mundo; esta, em sua simplicidade, recebe uma pluralidade de germens divinos, para manifestá-los e dissolvê-los segundo os desígnios de Heimarmene (Destino).

Teosofia Gnósico-Epistemológica: no Hermeticismo não há distinção entre a prática religiosa da Piedade e a Filosofia, Ciência ou Teologia. O saber teoantropocósmico abarca a totalidade de Deus e toda a criação.

Interculturalidade: concebido num contexto helenístico, no período da Pax Romana e sob os auspícios do comércio marítimo-mediterrâneo, o Hermeticismo recebeu diversas influências, das quais se destacam as egípcias, órficas, cristãs e médio-platônicas estoicizantes.

Hermetica Ratio: o Hermeticismo promove a concordância mercurial dos opostos (Concordia Oppositorum), através de uma linguagem poética que vela e desvela, unindo o que é verdadeiro e decantando o que é ilusório.