meu olho não está mais inchado. Está se recuperando bem. Eu só preciso viver com um curativo no rosto até minha próxima consulta semana que vem para tirar os pontos, se eles não caírem antes.
Estar com um curativo faz todo mundo notar e perguntar. E é aí que vem a parte que eu odeio.
Enquanto meu pai não consegue entrar com um processo em cima de Ricardo porque há muitas coisas para gente fazer e porque não estamos na nossa cidade, eu ainda não posso expor o que aconteceu. E eu nem sei se quero dizer para alguém. Acho que não consigo falar sem chorar. Só de lembrar, meu peito se afunda dentro de mim e me sinto mal pra caralho.
Eu quero esquecer.
Esquecer que passei todo esse tempo ao lado de um homem que na primeira oportunidade que teve fodeu com minha cabeça e me machucou.
Vocês tem noção do que é estar desde dos meus 13 anos com uma pessoa que sempre demonstrou amor por você e, por causa de ciúmes e uma situação mal interpretada, decide te agredir? Porque mesmo que tenha sido um empurrão e que não foi previsto que eu caísse e cortasse o canto do olho, a intenção claramente era me machucar.
O olhar do Ricardo naquele dia era indecifrável... era cruel.
é muito tempo. É ainda pior se eu pensar que estava apaixonada por ele desde que me entendo por mulher.
Essa palhaçada começou quando eu era só uma pirralha que não tinha opinião própria e estava se descobrindo. Desde então me prendi a um garoto.Eu fui dependente emocional de Ricardo por anos.
Mas depois de um tempo, depois de muitos términos, eu só me acostumei e me acomodei a estar com ele. Terminar agora não seria difícil. Eu estava até começando a cogitar, já que ele estava com uma mania insuportável de querer me controlar. Seria, acredito, fácil superar e foda-se.
A questão é que dessa vez não tivemos um simples término. Aconteceu algo gigantesco que minha família precisou intervir para me proteger. E Ricardo não só teve que se separar de mim como também vai receber um processo. Isso passou de todos os limites possíveis.
Arrastei bruna comigo para o último treino, Ela negou e negou e só concordou porque eu disse que precisava de ajuda com o machucado. Ela se solidarizou e veio comigo.
Agora estamos aqui, sentadas na arquibancada, esperando o treino iniciar.
– É – respiro fundo e balanço a cabeça brevemente para afastar os pensamentos ruins. Vamos falar de coisa boa, então?
- No que? — ela coloca as mãos sobre o próprio colo, interessada no que digo.
– No seu interesse romântico, que tal?
- Ah, não - ela nega de imediato. - Nada de falar dele, muito menos aqui.
Por que não? - dou um sorriso diante da reação tímida de bruna. — Você não quer ele?
Shiiii — minha irmã coloca o indicador sobre os lábios. — Ai meu Deus, Luísa. Vamos esquecer esse assunto.
Ele ainda nem chegou.
— Mas pode chegar e tem gente demais no campo.
Olho para o gramado e vejo que há alguns jogadores reunidos, mas não muitos, eles estão conversando com o meu pai que está com a clássica prancheta em mãos.
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