VI

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Quando retornei do bar, ainda andava normalmente, embora sentisse que até meu suor cheirava à álcool.

Devasso, lembrei.

Raramente o álcool me afeta tanto, não costumo a ficar bêbado fácil, tão pouco agir como tal, quando quero minimamente fugir da realidade aproveito inúmeras outras opções de diversão. E foi buscando essa diversão que abri minha gaveta e montei uma carreira pra cheirar, bolei meu tabaco, e coloquei uma música calma.

Conforme a música tocava, sentia aos poucos uma calma me invadindo, a droga me consumindo, e um turbilhão de merda na cabeça.

Sem arrependimentos, peguei um frasco contendo fibras de vidro e fósforo, misturei com um pouco de cocaína pura e reservei em um saco de papel. Peguei meu Whisky 82, o sobretudo preto e com uma arma mortal no bolso esquerdo do casaco caro, saí.

No caminho encontrei a jovem que outrora me xingava, e passei a mão em sua cintura, no momento em que um colega se aproximava.

- Tinha algo em sua cintura. - Falei baixo.

Ela apenas se virou e continuou andando. Preferiu me ignorar.

Não demorou até que eu reconhecesse a rua que já estive tantas vezes.

- Meu fornecedor favorito, a que devo a honra tão tarde? - Edgar disse abrindo sua porta.

- Recebi algumas visitas depois da sua publicação, meus negócios aumentaram muito em um dia, pensei em conversarmos, e como uma boa conversa sempre tem um bom preço, trouxe um agrado.

- Espero que não seja apenas a bebida.

Sorri, batendo a mão no bolso do casaco.

- Entre.

Quando entrei a casa dele parecia extremamente confortável, o tipo de casa que eu teria, se, é claro, eu fosse um cara confortável.

Abri a garrafa de Whisky e derramei em dois copos que ele já deixara em cima da mesa de centro, e depois do terceiro copo, montei uma carreira pra ele cheirar.

- Você não vai usar?

Olhei com desdém.

- Um comerciante nunca usa de sua própria mercadoria. - E no momento em que termino observo uma bela caixa de charuto - Mas aquilo ali me chamou atenção.

Como um cão, ele pegou a caixa e me ofereceu um, que aceitei rapidamente.

O problema de pessoas ricas, é que sempre acabam sendo subalternos de outro rico, ou para se equiparar a tal, ou para manter suas aparências e esconder a sua podridão, e com ele não é diferente.

Vi Edgar cheirar sua morte, suspirar de prazer, e sorrir para mim, e enquanto ele me dizia que estava ficando sonolento e possivelmente gripado, aproveitei para guardar sua caixa de charuto no bolso de meu casaco.

- Até amanhã, Ashkore. - Ele fechou a porta.

Adeus, Edgar.

                        xxxxxxxx

No caminho de casa, passei no bar novamente, e quando todos estavam bêbados o suficiente para acreditar em qualquer porra que eu dissesse, contei a eles como foi comer a vadia de Ashkore quando ela bateu em minha porta, pouco tempo atrás.

- Lembro de ter visto vocês dois saindo. - Erik comentou.

E foi aqui, que criei meu álibi.




O Inimigo Do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora