XI

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Não imaginava que poucas horas depois eu estaria lá, ajudando um desconhecido a enterrar uma vagabunda.

- Feito. - Disse olhando o jovem de cabelos claros.

Ele pegou um bolo de dinheiro e bateu em meu peito com ele.

- Pago? - Disse o jovem.

Eu sorri enquanto guardava o dinheiro no bolso. E ao apertar sua mão, coloquei em seu bolso uma amostra do meu melhor conteúdo, ao mesmo tempo que peguei seu melhor relógio que pousava em seu bolso.

Foi uma troca justa, e quando voltei para o salão, Emilè ria despreocupadamente com um rapaz, aquele maldito rapaz.

- Ash... - Disse enquanto eu cruzei seu caminho, e pude oferecer um vislumbre de um olhar seco para ela, que foi suficiente para que ela largasse o jovem, educadamente, e ir em minha direção.

- Vamos comer.. Vão servir a carne agora.

Sorri para ela, e meu olhar baixou em seu decote profundo naquele vestido preto.

- Já comi.

Emilè riu envergonhada, então ofereci meu braço a ela, para que descessemos ao segundo salão, onde havia rios de comida em cima de cada mesa, e tinham pelo menos umas 20 mesas, repletas de pessoas, não só da vila, mas de outras regiões.

Sentei ao lado da jovem, que por sua vez, ficava no lado direito de seu pai, embora ele quase não deixasse espaço para os outros devido aquele tamanho imenso.

Por baixo da mesa, sutilmente, Emilè me deu a mão, como se estivesse feliz por eu estar ali, o olhar dela dizia que sim, e conforme ela passava a mão em minha perna, sentia meu pau enrijecer na mesma medida como meu coração se derretia, e tudo que pude fazer foi colocar a mão em sua cintura, e a puxar para mais perto.

- Senhores e senhoras. - O velho rechonchudo disse.

Enquanto todos se levantavam, vi o rapaz que ajudara minutos antes se colocar ao seu lado.

- Gostaria de anunciar que meu filho, Andreas, irá assumir os negócios da Harrigan Co., e inaugurará a loja de cosméticos e perfumaria que eu e Alisa, minha amada, construímos em outras vilas.

Todos bateram palma, tão felizes, que mal notavam o nervosismo no rosto de Andreas ao me ver ao lado de sua irmã, ainda segurando sua cintura.

- E claro, gostaríamos de aproveitar, e oferecer publicamente, nossa sociedade a uma figura importante para nós e nossa família, que durante um momento de fragilidade de nossa filha, pôde ser uma pessoa confiável e caridosa. Duque Ashkore?

Não, com certeza não.

- Será um prazer, senhor. - Menti. Seria, e não seria, terminaria a noite com a garota, o dinheiro, um psicopata me devendo um favor, e uma sociedade em um comércio, mas ainda havia algo me incomodando, uma pedrinha no sapato, parado na porta do salão, olhando para minhas mãos, enquanto eu alisava a cintura de Emilé.

E quando todos bateram as palmas pela nova franquia, nova sociedade, e nem sabiam mais o que estavam aplaudindo tanto, Emilè riu, e me abraçou.

Olhares passaram por nós, um particularmente me chamou a atenção, daquela maldita raquítica do jornal, filha de Edgar. Ela me olhava inquisitiva, para o bolso do meu paletó, onde repousava um charuto.

Que azar.

Sorri pra ela quando a vi sair da multidão, e no momento que movi o corpo para segui-la, o velho colocava o braço em meu ombro, como se fôssemos velhos amigos, e me oferecia uma estadia em sua residência, que obviamente eu aceitei, com a premissa de que houvesse equipe jornalística durante a noite, para que noticiassem a grande festa. E como qualquer rico, que adora lamber um holofote, ele aceitou.

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