VIII

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Quando a poeira já tinha abaixado e raramente ouvia-se o nome do jornalista em filosofias de boteco, Emilè estava recuperando a boa imagem de dama da alta sociedade, sendo convidada à bailes, cortejada durante passeios matinais, e até onde eu sei, até recebeu uma proposta de casamento, que gentilmente ela recusou.
Diferente de outras mulheres, que buscam em um marido dinheiro e oportunidades, ela não se preocupava com isso, dinheiro ela tinha, e oportunidade ela criava.

Emilè não escolhe um parceiro, ela caça um, só não encontrou um bom motivo para sair à caça.
Ela não quer joias, ou vestidos, quer somente alguém que a faça ficar de joelhos, porque é onde ela deveria estar.

E embora eu seja bom em colocar os outros de joelhos, ela não facilitaria as coisas para mim.

Porém, aos poucos pude ver que ela se aproximava de mim, se interessava por mim, e a sociedade não a via mais como a dama corrompida, apenas diziam que ela tinha um bom coração, embora não tenha sido esse bom coração que a levou a bater em minha porta na quinta feira ao entardecer.

- Sempre em horários nem um pouco usuais. - Digo abrindo a porta.

Ela sorriu e fez uma breve reverência.

- Gostaria de conhecer seu comércio.

Faço um gesto para que entrasse, e ela o fez.

- Faça as honras de me apresentar o lugar, por favor.

Andei a frente dela, e fui mostrando inúmeras coleções de artefatos, facas, armas, cigarros.
Emilè tocou algumas facas, e pegou uma para admirar.

- Bonita essa.

- Sim, essa é a minha. - Respondo.

- E porque precisaria ter uma faca? Nosso vilarejo é tranquilo, e talvez o pior mal que exista aqui, seja você, na realidade.

Deslizei a faca da mão dela, e encostei levemente em seu rosto, pude ver o olhar dela vacilando.

- Tem medo? - Pergunto.

Ela apenas concordou, e então joguei a faca de modo que cravasse na madeira antiga da parede a nossa frente.

- E é para isso que preciso dela.

Ela sorriu, quase envergonhada, e esse sorriso me deixou curioso, não consegui prever o que ela pensava ou o que pretendia fazer, e eu esperava que ela fosse fazer algo, mas apenas apontou para o sofá de couro no meio da sala.

- Posso sentar?

Assenti, e levei dois copos de Whisky para a mesa de centro.

- Espero que beba. - Digo, entregando-lhe um dos copos.

Emilè parecia relutante, mas seu olhar se iluminou quando o álcool tocou seus lábios.

- Diga.

- O que? - Ela perguntava com inocência.

- O que quer aqui, não veio conhecer minhas armas e bebidas.

- Talvez suas drogas? - Questionou com doçura, uma doçura que podíamos esperar de uma criança.

Poderia até me comover, mas apenas ri.

- Com toda certeza, não não foram as drogas.

Emilè sorriu, e cruzou as pernas.

- Você o matou, não?

Tomei o último gole do whisky, e acendi meu charuto. E antes que eu pudesse responder, ela atravessou a distância entre o sofá que estava e a poltrona em que sentei, pegou o charuto da minha boca e dirigiu até a sua, enquanto sentava em meu colo.

- O que está tentando fazer, menina? - Questiono.

Emilè soltou a fumaça de meu fumo, me olhou, e não mais a criança delicada, e sim a devassa selvagem respondeu:

- Sei que foi você. Pensei que não se importasse com a reputação dos outros.

Puxei meu charuto novamente, e coloquei a mão esquerda em sua cintura.

- Não me importo com a reputação de alguns outros. Porém, não o fiz por você, apenas não queria meu nome associado à vadias.

Ela trincou o maxilar e respondeu:

- Não sou nenhuma vadia.

Desço a mão até seu quadril, e depois sua perna:

- Então por que está aqui, sentada no meu colo?

Ela tentou se levantar, porém, a impedi.

- Vamos, responda.

Foi uma tentativa em vão, porém quando afrouxei a mão do quadril dela, ela não levantou, tirou o charuto de minha boca, jogando-o no chão e aproximou seus lábios dos meu.
Voltei as mãos em seu quadril e a puxei para perto.

O Inimigo Do TempoOnde histórias criam vida. Descubra agora