Felipe
4 anos depois...
Dei leve batidinhas na porta do escritório do Conde Augusto. Ele me acolheu quando casei com sua filha. Depois da morte de Victoria, há 4 anos, continuei morando na casa da família e ajudando na administração das propriedades. Mesmo que tenha sido por insistência de meu sogro, foi algo de grande valia para mim. Afinal, o que um jovem viúvo, com um filho recém nascido ia fazer solto no mundo, morando sozinho?
- Pode entrar. - Ouvi sua voz atrás da porta.
- Conde Augusto, solicitou minha presença? - Entrei fazendo uma reverência com a cabeça, em sinal de respeito. Ele estava sentado atrás da mesa de trabalho. Dona Gladys, sua mulher, estava recostada em seu ombro. Ela tinha um sorriso enigmático no rosto, parecia superficial. Foquei em sua expressão até que o conde começasse a falar.
- Sim, quero lhe falar sobre Melissa, minha sobrinha... - Ele começou, enquanto organizava alguns papéis e molhava a pena no tinteiro.
- Já falamos sobre isso conde... - O interrompi em um ímpeto e me arrependi imediatamente.
- Por favor não interrompa meu marido, Felipe. Sabe que ele detesta, além de ser uma extrema falta de educação. - Dona Gladys interviu pelo marido. Arregalei os olhos. Não sei como ainda ficava surpreso com seu jeito de ser. Conde Augusto não expressou nenhuma reação.
- Peço perdão! Não foi minha intenção. Sabe que lhe tenho muito respeito, além de ouvidos atentos para suas palavras e conselhos. - Me desculpei calmamente. A conhecendo bem, eu poderia ter evitado o constrangimento.
- Como eu ia dizendo, quero lhe falar sobre Melissa. Não aguento mais vê-la choramingar pelos cantos desta casa. Já falei aos dois que faço gosto do casamento. - A condessa Gladys fez uma careta, revelando apenas para mim seu descontentamento.
- Sim, Felipe, fazemos muito gosto de seu matrimônio com nossa sobrinha. Victoria se foi e só queremos a felicidade de Melissa. Não é mesmo, meu querido? - Suas palavras contradiziam sua expressão. Percebi que ela não queria desagradar o marido.
- Já tentei me aproximar, ela me evita. Mudou muito depois de tudo que aconteceu. Sofreu e ainda sofre bastante. - Eu expliquei.
- Já avisei aos dois que este assunto está proibido dentro desta casa. Até porque retomar o ocorrido deporia contra a honra de Melissa e já me basta o que passamos na época para manter o nome desta família limpo. - Augusto discorreu brevemente sobre o fato ocorrido há alguns anos. Não ousei contestá-lo.
- Eu sei, reconheço e agradeço sinceramente todo o seu esforço. Mas também, existe uma outra moça por quem tenho muito afeto. - Resolvi me abrir, mesmo receoso do que eles iriam pensar. Os conde ficou imóvel, enquanto a expressão da condessa mudou completamente, revelando completo desdém.
- O que? Como é o nome e sobrenome desta mulher? - A senhora perguntou sem medir suas palavras. Ela não conseguiu controlar suas emoções, nem mesmo estando perto do marido.
- Acredito que o sobrenome não vem ao caso no momento. - Eu tentei desviar do assunto. Percebi pelo seu tom de voz que ela não aprovaria.
- A conhecemos? - O conde finalmente falou algo.
- Se não quer contar é porque não é de boa família. - Ela continuou e senti raiva pelo seu apego às aparências.
- Não é de família conhecida, se é o que quer saber. Ficou órfã muito nova e foi criada por uma tia distante. - Os dois ficaram me olhando por algum tempo. O conde parecia estar escolhendo as palavras, enquanto sua mulher esperava ansiosamente por sua opinião antes de contestar mais uma vez.
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LAÇOS INVISÍVEIS
RomanceNo século 19, Felipe e Melissa cresceram juntos em uma pitoresca cidade do Rio Grande do Sul. Vizinhos e amigos durante toda a infância, na adolescência, se entregaram a uma paixão proibida. Ele estava prometido à prima dela, Victoria, e ela tinha q...