Eu nunca vou esquecer daquele choro. Das minhas suplicas em vão. Nunca vou superar o fato de não ter conhecido o rosto do meu filho. A culpa nunca iria me abandonar, pois aquelas afirmações ecoavam na minha cabeça.
"Um menino forte, vai viver."
Por que não viveu?
"Eu quero segurar meu filho. Por favor, deixa eu segurar meu bebê."
Eu nunca pude segurá-lo. Eu não tinha a quem reclamar. Eu não conhecia o rosto daquelas mulheres. Elas se foram e toda a minha esperança também.
Como sempre, eu me levantei da cama pensando naquela noite, mas dessa vez a culpa estava me sufocando mais do que o normal. Olhei para Felipe deitado, parecia relaxado. Ressonava baixinho. Sentei na cadeira de madeira e fiquei observando seus traços enquanto dormia.
Como eu tive coragem de ser feliz nos braços dele? Bastou uma vez para que tudo acontecesse. Imagine duas, três vezes então, como fizemos aquela noite.
Nosso filho estava morto. Eu não tinha direito de me expor daquela forma, correndo o risco de gerar outra criança. De gerar outro filho morto? A culpa foi minha e a história estava prestes a se repetir. Eu tinha que ter ido pro convento. Evitaria muito desgaste e sofrimento, mesmo sabendo que eu ficaria longe de Alex. Era a melhor opção.
Me encolhi em meu próprio abraço, com a cabeça entre os joelhos. Me odiando pelo que eu tinha feito.
- Amor? O que está fazendo? - Ele me perguntou com voz de sono. Levantei a cabeça olhando pra ele. - Eiii... - Ele sentou preguiçosamente. O barulho da rua já se fazia presente naquele momento. - Por que tá aí? Vem pra cá. Achei que a gente ainda ia fazer amor. - Ele ficou esticando os braços, sorrindo.
- Não podemos. - Eu respondi baixinho.
- Não é como se nunca tivéssemos feito. - Ele repetiu meu argumento, enquanto revirava os olhos, brincalhão. Eu não respondi e ele ficou receoso. - Não precisamos fazer nada, só quero que me conte o que está acontecendo ou fique perto de mim.
Ele levantou e veio até mim, depois me puxou pela mão me obrigando a voltar pra cama. Descansei em seu peito. Fiquei pensando em como dizer o que eu precisava. Por alguns minutos eu não disse nada e ele respeitou meu momento.
- Felipe... - Eu chamei, tomando coragem. Me questionei se ele havia voltado a dormir.
- Melissa! - Ele brincou comigo, me abraçando um pouquinho mais forte.
- A Rosa não tem filhos? - Ele se remexeu na cama, claramente incomodado com a pergunta.
- Não tem. - Ele tentou não esboçar reação.
- Mas nunca engravidou? - Eu continuei.
- Que eu saiba não, mas ela é viúva.
- Quantas vezes fizeram amor? - Eu forcei demais.
- Ahh Mel, por que você insiste nessas perguntas? - Ele sentou, se afastando de mim. O acompanhei e ele segurou meu rosto delicadamente, passando a barba levemente pela minha bochecha, depositando beijinhos ali e me fazendo ter calafrios. - É você que importa. É você que eu quero. Tá bom? - Mas eu não estava satisfeita.
- Por que ela não engravidou?
- Algumas mulheres tomam algumas coisas que as rezadeiras mandam, mas é perigoso. - Ele ficou olhando pra mim curioso. Parecia querer terminar aquele assunto o mais rápido possível.
- Eu já ouvi as criadas falando... de uns chás. Eu quero tomar. - Eu falei séria e emburrada, mesmo sem querer, pois eu sabia que ele não ia gostar da ideia.
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LAÇOS INVISÍVEIS
RomanceNo século 19, Felipe e Melissa cresceram juntos em uma pitoresca cidade do Rio Grande do Sul. Vizinhos e amigos durante toda a infância, na adolescência, se entregaram a uma paixão proibida. Ele estava prometido à prima dela, Victoria, e ela tinha q...