AMOR E DESESPERO

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Ela saiu da biblioteca tão nervosa quanto entrou. Consegui perceber o seu desespero. Não viria até mim à toa, mas me senti afrontado e com meu ego ferido. Ela nunca abaixava a cabeça para mim e no fundo eu gostava desse seu jeito. Tinha ímpeto.

Eu, confesso, sentia saudades. Há pelo menos três anos não ficávamos sozinhos, nem ao menos um toque de mãos. Mesmo diante daquela situação me peguei sorrindo quando saiu. O ambiente ficou impregnado com seu perfume. Beto entrou na sala.

- Felipe, desculpe interrompê-lo, mas Dona Gladys pediu para avisá-lo de que precisa falar com o senhor. Está no jardim.

- Tudo bem, Beto, obrigada. Vou até ela em breve. Meu coche está pronto para a viagem? Conde Augusto deve querer sair antes do entardecer.

- Sim, senhor. As malas já estão acomodadas também. - Ele me assegurou.

- Beto, tenho uma pergunta.

- Claro, senhor. Pergunte e se souber responderei.

- Como é a relação de Melissa e Alex? Sabe algo sobre isso?

- Ahh senhor... Ela é a mãe que o pequeno não teve. Como poderíamos imaginar que aquela menina mimada se transformaria desta forma? Tenho até minhas dúvidas se a mãe do menino, a finada Victoria, seria tão carinhosa e responsável. - Ele se arrependeu da última frase. - Sei que era sua esposa, mas o comentário aqui no casarão é este. Os dois são como mãe e filho, o Alex até dorme no quarto dela todas as noites.

- Como? - Me assustei com a última informação. Por isso ela tinha tanta certeza de que eu estava mentindo. Óbvio. Estando todo o tempo com ele, vê que não sou presente. Senti vergonha de mim mesmo.

- Desculpe, acho que falei demais. Senhorita Melissa fará um escândalo se souber que estou fazendo fofocas.

- Não peça desculpas. Pode falar, Beto, esta conversa ficará entre nós. O que mais? - Eu pedi que ele continuasse.

- A condessa Gladys não gosta dessa proximidade. Já deu ordens para afastá-los várias vezes, mas o menino fica doente, febril. Dizem que ela quer que ele vá pro internato para romper essa dependência do menino. Sente ciúmes. Sempre achou que Melissa iria ocupar o lugar da filha e como nunca gostou da sobrinha... Claro que não sou eu quem estou afirmando, é o comentário geral.

- Obrigado. - Ele ficou imóvel. Aguardando minha orientação.

Eles eram muito mais próximos do que eu imaginava.

Saí da sala. Fui até o jardim encontrar minha ex sogra.

- Dona Gladys, com licença. - Ela estava de costas para a casa. Não se moveu. - Como está? Que tarde linda, não acha? Com certeza faremos ótima viagem.

- Vamos parar de enrolação. - Ela foi ríspida comigo. - Fui avisada de que estava na biblioteca com Melissa. Conseguiu convence-la a mudar de ideia? - Ela tinha um olhar desconfiado, quase curioso.

- Não era esse meu objetivo. Ela veio me procurar, está desesperada, não quer ficar longe do menino. Vim até a senhora interceder por ela, sei que conseguiria convencer o conde. Deixe-a como dama de companhia sua e de Alex.

- O que? Sabe que não fica bem ter uma solteirona na família. Ainda mais desonrada. As pessoas vão falar.

- O que importa os outros? Só quero que ela seja feliz. Já deixei claro que casaria, sabe de meus sentimentos por Melissa. Estão adormecidos, mas só de vê-la fico feliz, tenho vontade de beijá-la, de protege-la.

- Poupe-me de seu romantismo. Me dá náuseas. - Respirei fundo, contendo meu ímpeto de respondê-la como merecia.

- Só quis deixar claro que seria um bom marido para ela, se quisesse, mas não quer, conversei com Melissa há pouco. Vim lhe fazer este último pedido. Deixe os dois juntos. Sei que lhe confiei a educação de Alex, mas estou na dúvida se quero enviar o menino pro internato.

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