Melissa
Acariciei as teclas do piano delicadamente. Segurei os dedinhos do Alex, que estava sentado em meu colo, e toquei algumas notas de uma melodia infantil.
"Dó. Ré. Mi. Fá. Fá. Fá. Dó. Ré. Dó. Ré. Ré. Ré. Dó. Sol. Fá. Mi."
O pequeno deu uma gargalhada alta e gostosa e eu dei uma fungada em seu cangote. Ele ainda tinha um cheirinho de bebê que eu amava sentir.
- Titi, você gota de mim? - Ele perguntou e uma tristeza tomou conta do meu coração. Por mais que eu estivesse sempre por perto e lhe desse toda a atenção do mundo, ele se sentia rejeitado.
- Gosto muito! Amo tanto que chega a doer. Você é o meu pequeno, sabe disso, não sabe? - Eu o abracei forte.
- O papai não gota de mim. - Acariciei seus cabelos pretos delicadamente.
- Não fale assim, Alex. O seu pai te ama. Ele só está muito ocupado, trabalhando. - Tentei confortá-lo.
- Ele não blinca comigo. Ele não gota de mim, titi. - A vozinha dele era de choro.
- Ah meu amor, não fale assim. O papai quase não fica em casa, tem muitas responsabilidades. Um dia você irá entender, mas ele te ama muito. Confia em mim?
- Uhum. - Ele concordou fungando baixinho. Eu o abracei.
Fomos interrompidos por Lara, que entrou correndo na biblioteca. Ela era uma moça nova, escrava liberta, que era responsável pelos cuidados com o menino.
- Senhorita! Seu tio está requisitando sua presença no escritório. - A moça parecia assustada.
- Obrigada por me avisar, Lara. Vou levar o Alex para o quarto e já vou.
- Desculpe me meter, senhorita Melissa, mas encontrei sua tia no corredor e ela não está com o melhor dos humores, melhor não demorar. - Eu revirei os olhos.
- Quando ela está de bom humor, não é mesmo? - Eu ironizei. - Mas não fica bem você comentar isso, Lara.
- Tem razão senhorita. Eu posso levá-lo para o quarto. Ela chamou minha atenção hoje de manhã, falando que não quer vê-lo em seus aposentos, que o menino deve brincar lá fora e em seu próprio quarto, que está muito mimado e cheio de dengos. Palavras dela. Se a condessa descobre que ele dorme com a senhorita e que fica enchendo a sua cabeça com histórias, eu estou frita, vou para o tronco. - Balancei a cabeça em desaprovação.
- Lara, está falando demais. Sabe muito bem que nesta casa ninguém vai pro tronco. Uiii! Que horror. Tio Augusto e até mesmo o Filipe nunca permitiriam. Além disso você é alforriada, pare de bobagem. - Um arrepio tocou minha nuca. - Mas tem razão! Vá com ela, Alex, te vejo em breve, meu querido. - Dei um beijo em sua bochecha e deixei que descesse do meu colo.
- Titi, deixa eu ficar com você! - Ele pediu com sua vozinha infantil. Se agarrou a calda do meu vestido. Me abaixei na sua altura.
- Prometo que vou a seu encontro muito em breve. Seja um menino bonzinho e me espere no quarto para brincarmos. - Pisquei o olho e lhe dei outro beijo carinhoso.
Saí da sala dando passos largos em direção ao escritório. Observei se Filipe não viria pelos corredores na direção contrária. Ele nunca estava em casa na parte da tarde, mas valia me previnir. Para minha surpresa o vi. Imediamente diminuí meu ritmo, me escondendo atrás das sombras de um aparador no corredor e o vi socando a parede, nervoso, e depois entrando em seus aposentos. Estava com tanta raiva que não me viu. Esperei alguns segundos, para garantir que ele não sairia naquela hora. Bati na porta do escritório e aguardei. Meu coração estava disparado, a respiração ofegante. Para tio Augusto me chamar até lá devia ser um assunto muito sério.
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LAÇOS INVISÍVEIS
RomanceNo século 19, Felipe e Melissa cresceram juntos em uma pitoresca cidade do Rio Grande do Sul. Vizinhos e amigos durante toda a infância, na adolescência, se entregaram a uma paixão proibida. Ele estava prometido à prima dela, Victoria, e ela tinha q...