Macaquinho de pelúcia

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"_ Caso também falhe com ela, não hesitarei em te matar e levá-la comigo. Tome cuidado como a trata, pois a vida dela está em suas mãos agora sensei -ele se vira e se afasta, indo em direção à porta."



Acordo com um incômodo insuportável na garganta e no pescoço, quase que alucinando de dor. Sem dúvida, de dor física, essa é uma das piores que já consegui sentir. Me sento com cuidado na maca e vejo que eu estava com soro aplicado no meu braço. Puxo o ar pelo nariz e sinto uma ardência enorme, mas ao menos agora podia respirar mais facilmente.

Olho para o lado, apenas com os olhos, afinal meu pescoço estava dolorido demais para qualquer movimento. Não havia ninguém na sala além de mim e do aparelho que media meus batimentos. Mexo um pouco o pescoço, mas uma dor horrível aparece. Tento resmungar, mas minha garganta também acaba doendo.

_ "Será que realmente vale a pena eu estar viva e sentindo essa dor horrível?" -penso e suspiro.

Me deito novamente, sentindo um aperto me invadir, mas então decido apenas continuar sentada para evitar apoiar a cabeça em qualquer lugar. Escuto a porta abrir e vejo Recovery entrar junto de Hizashi. Quando o loiro me vê, vem correndo até mim e se senta ao meu lado.

_ S/n, como você está? -eu o encaro com cara de paisagem, pois não sabia como responder já que estava com a garganta doendo.

_ Acho que ela não está conseguindo falar agora, não é? -faço um sinal positivo com a mão- Está doendo bastante? -repito o ato- Vou pegar um nitrato de prata para você. Victor disse que lhe fará bem.

Fico sentada esperando Recovery voltar, enquanto ouvia Hizashi falar sobre como as meninas estavam. Ele disse que havia explicado para elas sobre minha situação e que elas estavam morrendo de saudades e preocupação comigo. Mesmo que não conseguisse mostrar e nem dizer nada, eu estava feliz por estrem bem. Acho que significava que elas realmente se importavam comigo, não é?

Recovery volta com o meu remédio e um pouco de água, tomo os dois misturados e sinto o gosto e uma dor horrível descer pela garganta. Faço uma careta, mesmo assim tomo tudo. Entrego o copo para Recovery que o coloca na mesa do lado e faz um check-up completo em mim.

No fim, ela apenas me dá um beijo para acelerar a minha recuperação, e diz, que embora sejam queimaduras grandes, com os cuidados dela, eu estarei boa em três dias, mas claro que teria que retornar frequentemente para ela ver como estou indo.

Mic se retira do quarto pouco tempo depois, dando lugar para Hawks, que chega junto de uma sacola. Sorrio para o mesmo que estava sério, mesmo assim deixa um riso de canto escapar.

_ Você está bem? -ele se senta na maca, ao meu lado.

Movimento minha mão em sinal de mais ou menos.

_ Não consegue falar? -nego com a mão- Chamou o Victor aqui? -faço sinal positivo- Espero que ele não tenha aprontado nada dessa vez... Ah, te trouxe um golfinho para você -ele me entrega a sacola e dentro havia um golfinho amarelo de pelúcia.

Meus olhos brilham e um sorriso nasce no meu rosto, mesmo que doesse bastante. Olho para o loiro e faço um sinal em libras, dizendo obrigada, afinal sabia que ele me entenderia. O mesmo apenas sorri e se levanta, me deixando confusa.

_ Tenho que ir trabalhar agora, só vim ver se você estava bem -ele se aproxima e beija minha testa- Se cuida e presta atenção na próxima.

Fico confusa pelo beijo, e o encaro com uma cara de quem não entendeu muito bem o que aconteceu. Ele ri e acena, mas antes, chamo sua atenção dizendo para o mesmo que nada disso era culpa dele.

_ Eu sei disso, fique despreocupada comigo e se cuide por agora -ele finge concordar e vai até a porta e sai.

Suspiro desanimada pela teimosia do loiro alado, pois embora não assumisse, eu sabia que o mesmo estava remoendo a culpa pelos meus ferimentos. Fico observando o local onde eu estava e não era a enfermaria da escola, olho os cantos e tudo ao redor e percebo que não conheço esse lugar. Recovery estava arrumando alguns remédios meus em cima de uma mesa, então chamo sua atenção e sinalizo para ela que não sabia que lugar era esse.

_ Você está no hospital, mas apenas de recuperação, então não tem nada com o que se preocupar -ela diz sem desviar a atenção da pequena mesa em sua frente.

Relaxo na cama e volto a me deitar, iria tentar dormir mais um pouco. Não tinha nada para eu fazer por ali, então descansar seria meu único passatempo no momento. Me ajeito na cama e fecho os olhos. Não demora muito para isso acontecer, pois estava cansada e ainda meio zen por conta dos remédios. Acordo depois de algum tempo, quando acabo escutando vozes vindo do outro lado da porta, continuo de olhos fechados, mas uma frase chama minha atenção.

_ Infelizmente ela não terá muito tempo de vida... -arregalo meus olhos e sento com tudo na maca.

Fico parada encarando a parede, em choque pelo que escutei. Não seria possível isso, não é? A porta se abre e Aizawa entra com uma cara estranha, que ao me ver sentada, suaviza um pouco. Ele se aproxima devagar e se senta na cadeira ao meu lado.

_ Soube que você não está conseguindo falar -nego com a mão- Acha que está respirando melhor? -afirmo. Ele me encarava sério, o que me fazia duvidar de minha própria capacidade. Começo a pensar na frase que eu acabei ouvindo e desvio o olhar para o chão.

_ Tem algo te incomodando? -nego com o dedo.

Respiro fundo, sentindo a ardência muito menor do que antes, mas ainda incômoda. Me ajeito na cama e sento melhor, para favorecer minhas costas doloridas. Aizawa observava atentamente, mas não ousava dizer nada para mim, até o momento que o encaro novamente.

_ As garotas querem te ver, dizem que estão preocupadas -sorrio um pouco em imaginar as duas perguntando sobre mim, querendo saber como eu estava- Depois disso que aconteceu, acha que ainda consegue voltar para a escola?

Respiro fundo e aceno com as mãos, em sinal de dúvida. Não fazia a mínima ideia nem se iria conseguir voltar a falar, quem me dera voltar a dar aula. O moreno assente e fica em silêncio, mas um silêncio estranho, como se quisesse dizer alguma coisa. Fico o encarando e esperando que ele diga alguma coisa, mas nada sai de sua boca. Ele apenas coloca a mão no bolso e retira dali um pequeno chaveiro com um macaquinho de pelúcia pendurado.

_ Comprei para você -ele me entrega e eu seguro com todo cuidado do mundo- Não é algo grande como o golfinho atrás de você, mas como sei que gosta, resolvi comprar -ele se levanta.

Sinto minhas bochechas esquentarem um pouco e meus olhos brilharem de emoção. Eu havia ganhado um presente do homem que eu gostava, tinha algo mais incrível que isso? Olhava o pequeno bichinho encantada, tentando esconder minha felicidade ao receber algo tão simples dele. Poderia ser apenas um ato de pena dele por mim, mesmo assim, eu havia amado.

Olho para o lado e vejo Aizawa saindo do quarto, eu queria poder dizer algo, mesmo que doesse. Respiro fundo e resmungo algo apenas para chamar a atenção do maior, obtendo o resultado que eu queria. Ele para e me olha com seu rosto cansado, puxo o ar com dificuldade e solto em forma de um agradecimento doloroso.

_ O-obri.gada... -digo rouca e com uma dor forte, mas bem menor do que eu previa.

Ele me encara sério por um tempo enquanto eu apenas massageava com a mão meu pescoço, sentindo minha pele levemente enrugada devido as cicatrizes. Estava um pouco dolorido, e comecei a me arrepender de ter feito isso.

_ De nada -ele segura a maçaneta da porta- Se precisar de alguma coisa, pode me chamar. Acho que podemos recomeçar, dessa vez, sem implicações -ele respira fundo e me encara- A propósito, sobre a pessoa com pouco tempo de vida, não era você, okay? -faço uma cara de espanto e choque ao ver que ele havia percebido algo tão idiota como isso. Ele apenas me fitava calmo como sempre- Eu te dei aula por três anos, você não consegue me enganar tão facilmente assim -diz e apenas se vira novamente para a porta.

Ele sorri de canto e abre a porta, saindo do quarto e me deixando sozinha novamente. Assim que a porta fecha, fico um pequeno tempo pensando no acontecido e raciocinando o que aconteceu. Acaricio o bichinho que estava entre meus dedos e sinto os pelinhos felpudos do pequeno animalzinho.

Solto um pequeno sorriso bobo enquanto olhava o chaveiro e logo depois o levo até perto do meu rosto. Era possível sentir um doce cheiro de fruta, o que deixava mais fofo ainda.

_ "Vou colocar na chave da minha moto, achei ele muito fofo" -coloco o chaveiro em cima da mesa e me deito no colchão enquanto ficava observando o rosto do macaquinho. Não aguento muito tempo e pego novamente, mas dessa vez eu o abraço e durmo.

Minha ex pior aluna-Imagine AizawaOnde histórias criam vida. Descubra agora