Capítulo 28

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Lumiar

Os meses passaram incrivelmente rápido, quase como num piscar de olhos, e antes que eu percebesse, estava entrando no último mês da gestação. Meu corpo havia passado por grandes transformações, ganhando peso, meus seios aumentaram de tamanho, minha barriga cresceu consideravelmente, e minha coluna já começava a sentir as dores de carregar aquele peso extra dentro de mim. Agora, no final, mal podia esperar para ver meu filho nascer e tê-lo em meus braços.
Durante esses últimos meses, decidi focar no meu trabalho, tanto no escritório quanto no ICAES. No entanto, chegou um momento em que não conseguia mais suportar a agitação da cidade. Decidi vir para Lumiar e terminar minha gestação aqui, buscando um ambiente mais tranquilo e sereno para receber meu bebê. Era hora de me desconectar um pouco e me dedicar totalmente a esse momento tão especial da minha vida.
Ao vir para Lumiar, consegui direcionar minha atenção para a pessoa mais importante de toda a minha vida, concentrando toda minha energia no meu filho e deixando para trás os problemas do mundo exterior. Nesse refúgio tranquilo, pude mergulhar profundamente na conexão com meu bebê, dedicando cada instante aos preparativos para a sua chegada. As preocupações do mundo desapareceram gradualmente, substituídas por um sentimento de paz e serenidade. Aqui, em Lumiar, encontrei o espaço necessário para me conectar com a essência da maternidade e nutrir o vínculo especial que compartilhamos, tornando cada momento uma celebração desse amor incondicional.
No entanto, não podia me desligar completamente. De tempos em tempos, algumas informações ainda chegavam até mim, revelando o que acontecia na capital. Infelizmente, descobri que Théo ainda continuava a causar problemas para Sol e sua família, perpetuando aquela briga interminável em torno da paternidade de Jenifer. Para piorar, soube que hoje eles teriam mais uma audiência, onde discutiriam os direitos e responsabilidades entre pai e filha.

- Irmã?

Ouço a voz de Lui e me viro para vê-lo se aproximando, arrastando sua mala de viagem. Meu irmão não pensou duas vezes antes de decidir participar daquela audiência e oferecer apoio à Sol. Durante esses meses, graças a Deus, os dois têm conseguido resolver suas diferenças e, aos poucos, o relacionamento entre eles está se fortalecendo. Fico aliviado por testemunhar essa reconciliação e ver que, mesmo diante dos desafios, eles estão encontrando uma maneira de seguir em frente juntos.

- Está atrasado, não? -Pergunto.

- Ainda estou no tempo. -Ele se aproxima e beija o todo da minha cabeça- Tem certeza que posso ir? Está se sentindo melhor?

- Estou, Lui. Hoje de manhã eu só acordei um pouco mais cansada, com um pouco de dor, mais nada fora do comum. É o final da gravidez.

- Tudo bem! Falou com o Benjamin?

"Não e nem queria", essa era a resposta que eu gostaria de dar ao meu irmão, mas sabia que ele não me deixaria em paz. Lui tinha um jeito peculiar de se preocupar comigo, não gostava de me deixar sozinha no Refúgio, mesmo com a presença do meu pai e toda a segurança do local. No entanto, eu sabia que hoje Benjamin não estaria disponível. Hoje, o Dr. Benjamin estaria totalmente dedicado ao seu trabalho na defesa da Jenifer e da Sol. Era um momento crucial para eles, e eu entendia que precisavam do apoio e da expertise do Benjamin.

- Falei. -Minto.

- Ah, entendi. Fico aliviado então! Se precisar de algo, Lumiar, me ligue, está bem?

- Não se preocupe, irmão! Está tudo sob controle!

Ao ver meu irmão entrar em seu carro e se afastar do Refúgio, fecho os olhos na tentativa de afastar o incômodo que estava sentindo. Com um pouco de dificuldade, me dirijo a um sofá próximo e me sento, respirando fundo. Acomodada, permito que um momento de tranquilidade invada meu corpo, tentando acalmar minha mente.

- Filha, está tudo bem?

Ouço a voz do meu pai e abro os olhos, forçando um sorriso em resposta. Ele se senta ao meu lado e começamos a puxar assunto, compartilhando histórias e lembranças. Enquanto nos envolvemos na conversa, notamos que o tempo subitamente começa a fechar, as nuvens se acumulando no céu antes azul. A atmosfera ao nosso redor se torna mais pesada, prenunciando uma possível tempestade iminente.

- Parece que teremos uma chuva forte por aqui.

- Espero que o Lui consiga chegar antes de a chuva começar.

- É verdade! Essas chuvas têm sido intensas ultimamente, causando estragos por onde passam. Se a sua mãe estivesse viva, ela diria que essa mudança repentina no tempo são os novos ventos soprando, anunciando que algo está por vir.

- Dona Dora e suas teorias...

- Ela faz falta, não é mesmo? Todos os dias me pego imaginando como seria se ela estivesse aqui. Tenho certeza de que ela estaria radiante com a chegada desse neto. Não conseguiria nem dormir de tanta ansiedade. -Ele diz, me fazendo sorrir- Estou te achando um pouco triste, está tudo bem mesmo?

- Sabe, pai, seu neto está prestes a nascer e eu sinto que ainda há tanta coisa ruim acontecendo e que pode acontecer ao nosso redor. -Engulo em seco- O Théo continua solto, vivendo sua vida normalmente, enquanto todos os crimes que cometeu permanecem impunes. Eu tenho tanto medo... -Suspiro- Ainda tem também a minha "relação" com o Benjamin, que parece piorar cada vez mais.

- - Lumiar, pare de se preocupar antecipadamente. Agora, você precisa se concentrar exclusivamente em trazer seu filho ao mundo, e o resto, você pensa mais tarde. Deixe o destino cuidar das coisas.

Meu pai me envolve em um abraço reconfortante, mantendo-me em seus braços por alguns preciosos segundos. Sinto sua tranquilidade e serenidade fluindo através de mim, enquanto ele sussurra palavras de conforto, assegurando-me que tudo ficará bem. Nesse momento, sinto-me protegida e amada, sabendo que posso enfrentar qualquer desafio que surgir no meu caminho.

                         * Bônus - Benjamin *

O dia já se encontrava em seu ocaso quando finalmente saímos da exaustiva audiência. Dessa vez, movido pela sua insolência, Théo decidiu reivindicar seus supostos direitos como pai, se é que merece tal título. Assim que o tormento chegou ao fim, apressamos-nos em deixar a sala do tribunal e nos dirigimos ansiosamente em direção a Sol, que aguardava pacientemente por notícias. Ao nos aproximarmos, Jenifer abraçou a mãe com força, transmitindo-lhe tranquilidade e compartilhando algumas informações sobre o que ocorreu lá dentro.
De repente, a voz do Lui ecoou e o cantor se aproximou ofegante. Ele cumprimentou a todos com entusiasmo e envolveu Sol em um abraço reconfortante, pedindo desculpas por não ter chegado antes.

- O trânsito na estrada estava terrível. Tentei chegar antes, mas não consegui, me perdoa. - Lui diz, visivelmente preocupado.

- Tudo bem, Lui! Fica tranquilo! - Sol responde, tentando acalmá-lo.

- A audiência acabou agora e, surpreendentemente, foi tranquila. - Comento.

- Benjamin, o que você faz aqui? - Lui pergunta, visivelmente surpreso.

- Estou trabalhando, .

- Não acredito que a Lumiar fez isso...

- Fez o quê, Lui?

- Ela me disse que você não estava envolvido no caso e que eu poderia vir para o Rio. Por que você estaria indo para Lumiar.

- Não posso acreditar que ela fez isso. - Exclamo.

- Gente, qual o problema? - Jenifer questiona - Ela é adulta, pode ficar sozinha, não é?

- O problema, Jenifer, é que a Lumiar está prestes a dar à luz. - Luz responde, um pouco irritado - E hoje ela não acordou muito bem. Estou preocupado.

- Eu vou pra Lumiar agora. -Anúncio.

Ao ouvir a notícia na pequena televisão da sala de espera sobre a forte chuva em Lumiar e os estragos nas estradas, meu coração se enche de apreensão. A ansiedade toma conta de mim, pois sei que preciso chegar lá o mais rápido possível. Não posso deixar que os obstáculos climáticos me impeçam de estar ao lado da Lumiar neste momento crucial. Determinado, começo a buscar alternativas e planejar a melhor rota para enfrentar essa tempestade e chegar a Lumiar, não importa quão difícil seja.

- Lui, por favor, cuida da Sol e da Jenifer. Eu preciso ir para Lumiar agora.

Continua >>>

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