Perderam-se as contas dos anos. O mundo, que uma vez foi incrivelmente civilizado, regrediu de forma exponencial, voltando à criação de vilas. Toda a humanidade foi varrida por um estranho vírus, ou bactéria. Não há mais cientistas experientes para avaliar a situação com clareza. Ainda está por aí, e sabe-se somente que é extremamente contagioso. É perigoso até mesmo viver em sociedade, pois, dividiram-se todos em pequenos distritos, para que não se propagasse ainda mais. Não se tem uma estimativa concreta de quanto a humanidade sofreu por conta dessa pandemia, mas sabe-se que há ao menos 20 anos, o agente patológico extinguiu três quartos do que uma vez foram 8 bilhões de pessoas.
Apresentar-me-ei agora. Sou Judah, filho de uma "camponesa". Depois da separação da humanidade em um sistema de vilas, pólis e distritos; a divisão social retornou à ser o que uma vez todos repudiaram; um sistema medieval. Não tão desumano quanto um, mas um que é parecido. Gosto dos textos antigos. Encontrei o que uma vez foi uma pequena biblioteca e levei todos os livros dali até minha casa. Nada muito exuberante. Volvendo ao assunto, vivemos com uma subsistência no distrito 7 da pólis de Joaquim SANCTI. Pólis são algo como cidades, mas bem menores e sem infraestrutura adequada.
Quanto ao mundo em que vivemos. Pólis são aglomerados de distritos, que por sua vez são aglomerados de casas. Muitas vezes plantamos nossa própria comida para não morrer de fome. Não há comércio e o nosso sonho era que essa pandemia acabasse para que todos possam viver sem aflição novamente. Essas mesmas pólis ficam em meio às florestas, e para locomovemo-nos, usamos trilhas feitas em meio à mata.
Decidi-me que, por hoje, já havia escrito o suficiente. Saí do meu canto de escrita, um lugar que encontrei bem longe da minha casa; parece uma biblioteca antiga. Um canto para eu me sentir como os antigos. Fecho meu diário, que escrevia usando uma caneta à tinta de polvo.
Volto a pólis e entro no hospital local. Aparecem por ali 2 amigos meus, que haviam ouvido a notícia de que minha mãe havia passado bem mal. Tudo ficaria bem, afinal sempre acaba bem, não é mesmo? Adentro a sala que ela está e sento numa cadeira, um pouco antes dos meus amigos entrarem também.
- Oi filho. - Ela diz. - Como você está?
- Eu tô bem, ué. Eu que deveria te perguntar isso. - Respondo, com certa ironia.
- Com licença.. - Dizem meus amigos, entrando na sala com certo pesar aparente no rosto.
A sala não era um local realmente hospitalar. Era uma cama com um soro e alguns utensílios. Arranjar uma vacina ou muitas seringas era algo bem difícil, então muitos enfermos eram deixados para morrer. Meus amigos traziam flores, que por não ter um recipiente alí, foram deixadas em cima de um criado mudo. Mãe virou para o outro lado e começou a tossir muito em seu próprio punho. Disse que não precisávamos nos preocupar. COnversamos um pouco e saímos dali. Ela parecia começar a dar sintomas da doença, mas nós não somos os experientes aqui para realmente saber se algo era certo. Voltei à minha casa. Depois de um tempo, meus amigos bateram à minha porta. Eu, levantando da cadeira que sentava-me na pequena sala de estar, fui à porta. A casa tinha um andar e cômodos divididos em tamanho igual.
- Ei cara, você está bem? - Diz Messiah, pesaroso. Ele parecia reparar em minha, não tão aparente, aflição.
- Não muito. Entrem - Eu disse de forma concisa. Eles adentraram a casa a passos curtos e vagarosos. O cômodo não estava iluminado e era possível ouvir o ranger do piso de madeira, que não era trocado havia muito tempo. Sentamo-nos nas cadeiras do final da sala de estar, em volta de uma mesa. - E aí? Vou arranjar uma água aí.
Fui à cozinha buscar 3 copos dágua. Água cristalina. Felizmente ainda dispunhamos de água completamente potável. Ali perto havia um rio, aonde banhamos e tiramos a água que necessitamos.