Tudo pega fogo. As grandes pirâmides cheias de detalhes reluzem em oposição ao brilho do fogaréu. Os camponeses correm enquanto os soldados, gritando, vão à batalha, atrás da vingança. É uma guerra. O céu, pintado com a cor do pôr-do-sol, está nublado, coberto também pela copa das árvores, que parecem negras enquanto ele foge, nas mãos de sua querida mãe. O seu pai está no campo de batalha. A grama, coberta agora por sangue dos guerreiros e dos civis, sujam os pés dos que pisam nela. É feio. Palavras não descrevem o horror que esta cena passa aos olhos do observador.
Por entre as árvores, correm aqueles que, agora longe de casa, só tinham esperança de viver ao fugir. A negríssima criança chora ao soar dos nervosos passos, daqueles cujas bocas são silenciosas. Naquele grupo de civis, não havia uma palavra sendo dita. As árvores inundam a visão dos que andam por entre elas. É impossível ver o que está a cinco metros de você sem ser atrapalhado por alguma árvore. O horizonte é impossível de se ver, e só o que se pode ver é a escuridão por entre as árvores. Andavam em direção ao desconhecido.
As duas tribos maias continuaram a brigar por muito tempo. Nenhuma chegou perto de acabar realmente com a outra. É um eterno ciclo de brigas e mortes. Mas eles acreditavam em uma coisa. Que alguém viria para parar o conflito. A encarnação de algum deus, que seja. Alguém ia parar. Os que desembainhavam a espada nem sabiam mais o por quê de as segurarem, e somente as balançavam como se fossem peões do rei. Aquilo tinha que parar.
O grupo de fugitivos finalmente acha um rio, e o garoto não para de chorar nem um instante. Esse rio é longe de toda e qualquer civilização, logo, começaram a fazer uma moradia perto desse rio. O cordão umbilical ainda pende do bebê, e era impressionante como a mãe havia conseguido a façanha de andar tanto tempo, estando de recuperação da gravidez. Mas ela não podia deixar o garoto ali. Todos banham-se no rio.
É esquisito, como o bebê é extremamente negro, considerando que os pais eram somente morenos. Só havia uma resposta para isso. Ele era a mensagem de algum deus.
Seu nome agora é Cacau, tanto por causa da cor, quanto por ter nascido de baixo de um cacaueiro; e ele vive agora na margem do rio. A mãe vive cuidando do filho, e uns dias depois, o cordão dele resseca e cai. É um passo. As 30 pessoas que agora habitavam aquela parte do rio, se juntavam em uma comunidade e cuidavam do coitado, além de dividirem suas funções, para tudo ser certamente coordenado.
Os anos passam, e junto deles o garoto cresce também. Ele era tratado de forma especial, o que trazia inveja dos outros garotos. Era uma pena. Ele não queria ser daquele jeito, porém não era de todo mal.
Finalmente completou 15. É um garoto meigo, corajoso e que faria de tudo por quem realmente ama. Fez de tudo para gostarem dele, mas ainda era o excluído. Aquela sociedade, que agora beirava os 70 habitantes, estava perto de sua ruína, mas eles não sabiam decerto. Muitos desertores da guerra passavam por alí, mas ninguém sabia quando a guerra realmente iria para ali. A mãe de Cacau está completamente revigorada, mas ela se tornou uma fanática pelo próprio filho. Ela o venera e faz de tudo por ele. Ele se sente tão esquisito. Ele não quer ser tão diferente assim, ele só queria que as outras pessoas o reconhecessem como igual, mas os mais velhos viam ele como a fonte de uma salvação, e os outros garotos veem ele como um porre chato do qual todos são baba-ovos. Ele não tinha um igual ali, e estar tão sozinho o fazia se doer, mas ninguém podia ver essa face sua. Ele precisava mostrar ser digno da admiração que o davam.
Cacau é um garoto forte. Vive trabalhando nas plantações ao redor do rio. Manchas brancas colorem a sua pele, fazendo um forte contraste entre o escuro da mesma. Ele está sempre cumprimentando os que passam por ele, mas ao invés de um outro cumprimento normal, ele recebe algum aplauso, uma frase de agradecimento por estar ali, e tudo isso faz ele sentir tão só... Mas isso não importa, ele precisa continuar sendo aquele homem digno de admiração que ele é.