A bactéria - 2

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O fogo, ironicamente, estava mais quente do que qualquer outro que eu já estive perto. Com certeza era só eu sentindo isso. Eu não consegui manter de pé enquanto encarava o cordão que pesava em minhas mãos.

Afundei oo meu rosto nas minhas palmas enquanto chorava inúmeras lágrimas. A agonia dentro do meu ser não podia mais ser contida.

O grito mais triste que eu já ouvi foi o meu próprio. Lentamente eu fui caindo na realidade. Chorar não ia trazê-la de volta, mas eu precisava focar em outra coisa para não lembrar dela.

Continuei a gritar e olhar para o pingente em minha mão. Os médicos chegaram e me pegaram pelos braços. Eu comecei a me debater numa idiota tentativa de fugir daquela situação, mas não havia o que fazer. Pelo corredor, que nunca pareceu mais estreito que agora, eu sou arrastado. Descrevi meu passado desses dias. Agora é o presente. Eu não faço ideia do que o futuro guarda pra mim.

Eles continuam me arrastando e viram pra dentro de uma sala. Essa é a mesma sala que eu estava antes. Estão me colocando dentro da área de quarentena. Droga. Estou no lugar que estava antes. A única diferença é que o que me levou a estar aqui não está mais. Minha mãe. 

Porra. Esquece. Deixa eu ver. Minhas mãos estão limpas, secas. Minhas calças estão com terra. meus pés estão com as solas pretas. Éeeee. Tem uma estante cinza. Em cima dela tem remédios.

Eu olho pro lado. A cama dela. A cama da minha mãe. Merda. Eu não vou esquecer tão rápido. Tentar pensar em tudo menos isso só me faz pensar no que estou tentando ignorar.

Os dias estão passando

1 dia já passou.

2 dias já passaram.

3 dias já passaram.

4 dias já passaram. 

Eu ainda estou aqui. Parado. Não consigo dormir. Não consigo desviar os meus pensamentos daquela cena. Olhando para frente, eu vejo algumas sombras passando pela porta. Devem ser os médicos. Eu solto minha cabeça. Meus olhos estão focando no chão.

shhhhh

Um barulho de cortina atinge meus ouvidos. Não sei o que está acontecendo. Eu só consigo ver os sapatos dessas pessoas. São três. 

Eu levanto a cabeça. Minhas pálpebras parecem coladas na minha pele.

O médico me olha incrédulo. Ah, não são três médicos. São Mariah e Messiah.

Eles pulam em meu colo e me abraçam, me perguntando se estou bem. O médico não teve nem tempo de dizer para eles não fazerem isso.

- Mas que porra é essa!? EI! VENHAM AQUI! - Ele chama o resto da equipe de médicos. Eles todos aparecem na sala, e um fraco raio de sol irrompe por entre as cortinas quase fechadas na frente da janela, do outro lado da sala.

Pelo espaço onde antes a cortina estava localizada, todos os médicos me encaram incrédulos. Talvez eu esteja em um estado horrível. Com certeza estou com olheiras e olhos vermelhos. Normalmente eu perguntaria o que foi, mas eu não estou no ânimo para isso. Depois de 4 dias atrás eu não consigo fazer nada. Não estou com ânimo para comer. Não estou com ânimo para beber nada. Eu sei que seria bom para mim ocupar minha mente com outra coisa, mas eu não quero deixar de lado. Eu quero vencer essa tristeza. Mas é impossível. Eu sei que é. E mesmo assim, minha consciência não me deixa pensar em outra coisa. Não me deixa eu me distrair desse pesar interminável. Eu abaixo minha cabeça.

- Ele está... completamente limpo! A pele dele está completamente limpa! Além disso, mesmo depois de três dias, ele está completamente saudável! Pelo menos o corpo dele... - Uma médica disse. 

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