O Escritor - Parte 1

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Fênix é um jovem adulto desempregado, que vive numa quitinete com o dinheiro que os pais mandam todo mês para ele. Sua vida é miserável, e como uma última tentativa de rearranjá-la, ele começa a escrever livros para publicar na internet. Ele, de todas as formas, deixa seu texto estilizado, corretamente ortografado e tenta desenvolver sua história ao máximo. Mas isso nunca deu certo. 

Ele estava escrevendo o segundo capítulo de uma nova história agora. Já havia publicado o primeiro, que não havia tido uma recepção muito boa. O texto podia ser bem escrito, mas não importava o quanto tentasse, não conseguia escrever bem o suficiente. Não consegue atribuir os sentimentos aos personagens de forma certa; eles pareciam superficiais. Não consegue descrever o que acontece de uma forma que cative os leitores, estes que sempre estão nos seus comentários:

"Que potêncial desperdiçado a ideia é ótima mas o cara que escreve é um lixo pqp"

"mt ruim kkkkkkkkkk tmnc"

"Acho que o escritor deveria ler mais e tentar descrever os sentimentos e os acontecimentos de maneira realista."

"mt foda kkkkkkkk 3 minutos da minha vida foram pro caralho"

"ainda não tá bom, mas com o tempo você consegue, vai lá que é tua"

Inúmeros comentários surgiam na sua história. Fênix passa por todos os comentários a espera de um que o elogie, mas sua esperança é em vão, não havia nem um comentário que o elogiasse. Ele sabia que tinha que melhorar e que vinha com o tempo... mas...

E se não chegasse com o tempo? E se eles estiverem certo? Isso deve estar muito ruim, é melhor eu desistir e achar outra coisa pra fazer, acho que isso não é pra mim. E se eu desperdiçar minha vida com isso e não dar resultados?

Sua cabeça se enche desses pensamentos. Ele considera desistir. Mais uma vez, desistindo. Fênix se sente um inútil. Mais uma vez, estava desistindo de algo na sua vida, e isso já aconteceu inúmeras vezes antes. Ele nunca chegou à lugar algum.

Sentia que se parasse de escrever, finalmente se livraria do peso de não conseguir fazer nada. A decepção de fazer e não conseguia o afetava mais do que a de não fazer nada. Então só para não deixar pela metade, resolve terminar de escrever esse capítulo para publicá-lo e seguir sua vida em outro rumo.

"Iohann finalmente estaciona o carro ao lado da calçada da casa de seus pais. A noite estava frio e o céu, melancólico, escondia todas as suas estrelas, sendo apenas visível a nuvem. Ele bate na porta da casa dos pais dele. Ele espera uma resposta enquanto ouve passos se aproximando. A porta, com um ranger se abre. A mãe aparece na porta. Ela olha para o filho. Ele olha para ela. ela começa a chorar, e junto a mãe, Iohann chora, a abraçando."

Ele decidiu reler o texto. Não estava bom o suficiente. Faltava algo. A situação que ele acabou de descrever era superficial de mais para cativar algum leitor. Não havia sentimento naquilo. Ele não sabia o que escrevia. 

Fênix estava seminu no único cômodo (menos o banheiro) que sua moradia possuía. Ele saiu de sua bolha, de seu pequeno mundo; e olhou para sua miserável "casa". Minúscula mas espaçosa. Quase não havia móveis. Mesmo o quarto sendo pequeno, ele estando na frente de seu computador de noite, sem se mover um centímetro. Parado. No canto do seu quarto com as luzes apagadas. Ele retornou a si mesmo e se sentiu uma formiga. Tão pequeno. Tão sozinho. Dando de cara com a realidade que ele era um zé ninguém. Nem ele mesmo consegue descrever o que ele sente, mas consegue chegar perto. Ele se define como desprezível.

Ele salva o texto que escreveu, desliga o laptop, que foi um presente de seus pais, e vai em direção a uma gaveta que continha algumas camisas, bermudas, uma calça e cuecas. Ele não tinha muitas roupas, e também não tinha dinheiro para ficar as comprando, mesmo assim, escolhe uma camisa e a única calça que tinha para sair. Ele decidiu se olhar no espelho para ver como estava, mas olhou em volta e lembrou que não tinha um. Havia mais de um ano e meio que não havia trocado nem uma palavra com os pais. Sua barba está mal feita, está com olheiras enormes por conta da privação de sono e um cabelo estremamente bagunçado, além das roupas amarrotadas. Ele queria colocar um sapato, mas só tinha dois pares de sandálias.

Desligou todos os aparatos de sua casa, pegou sua chave, um pouco de dinheiro e saiu de casa. Ele não tinha dinheiro nem para uma bicicleta, imagine um carro; por conta disso, foi direto para o terminal rodoviário, pegar um ônibus para a casa da sua mãe, que ficava numa cidade próxima. Ele saiu do terminal dessa cidade e pegou um ônibus para perto da casa de sua mãe, de onde seguiu a pé.

O relógio batem por aí umas 9:30 da noite. O céu está estrelado, e Fênix se viu atraído por essas estrelas. Essa visão é tão libertadora. Era como se ele fosse mais livre à noite, só que sempre estava dentro de seu quartinho à essas horas, então nunca observou de verdade. A larga rua dá espaço para uma boa parte do céu ser vísivel, esse que é observado pelo jovem com uma paixão indescritível. Enquanto anda pela rua íngreme, imagina como seria a reação de seus pais. Talvez fechassem a porta na cara dele? Ou mandariam ele embora. Vai saber. 

Ele segue subindo a rua quando um carro passa perto dele com o farol alto, o cegando e o fazendo tropeçar no meio da calçada. Não foi nada demais, mas ele percebe que já está na rua da casa de seus pais e que àlgumas casas à frente já era a mesma. 

Fênix segue, até encontrar uma casa meio bege/amarelado. Ele não sabe dizer. Relutantemente, ele aproxima o seu punho direito cerrado até a porta que está no muro da casa. Pensa em apertar a campainha.

E se eles me odiarem? E se eles me expulsarem? E se eles me acharem uma falha?

O desespero toma conta de seu corpo enquanto está a pensar se aperta a campainha ou não. Mas já estava ficando paranoico. Ele decide apertar logo porque sabia que se esperasse mais uns 3 segundos a mais, desistiria de mais uma coisa na sua vida. Quando ele apertou o interruptor que servia como campainha, se coração acelerou e a dúvida tomou conta de sua mente. Pensava em sair correndo e vazar dali, deixar isso de lado para não ver o rosto dos pais, os quais ele nem se recordava, mas temia ver o arrependimento de criar alguém como ele estampado nos rostos deles. 

A porta lentamente se abre, sem se ranger. Agora era tarde demais para ir embora. Sob o céu estrelado e a brisa fria, que dava um sentimento de nostalgia, um rosto conhecido aparecéu à porta. Ele viu o vapor saindo da boca da figura, que vestia um cachecol e tinha as bochechas e ponta do nariz vermelhos por causa do frio. A mesma figura estava boquiaberta e Fênix continuou a olhar para a boca da pessoa. Não queria olhar para o rosto todo e identificar a expressão que ele fazia, mas a curiosidade tomou conta de seus olhos e ele finalmente olha, diretamente, para a pessoa. 

Ele vê o rosto de uma mulher, na casa dos 50. O rosto não mostra tristeza, arrependimento, raiva, ódio nem decepção. Mostra somente o rosto de uma senhora surpresa. As lágrimas descem pelo rosto pálido e ao mesmo tempo avermelhado da mulher, que abre a porta com veêmencia e corre para abraçar o filho, que dá um passo para trás para não cair. Ela afunda o rosto no peito do filho, que era mais alto que ela, e começa a chorar. A brisa fria deu um sentimento indescritível para Fênix, que agora percebeu que ela não tinha ódio dele, nem decepção e nem amargura de ter criado alguém como ele. Só tinha saudades. Saudades do filho, com quem não havia trocado nem um "oi" há mais de um ano e meio. Repentinamente um senhor aparece à porta também, e faz uma cara de surpresa, para combinar com a da mulher. Ele encara o rosto do próprio filho, que involuntariamente derrama lágrimas, e isso faz com que os olhos do senhor fiquem vermelhos, mas ele não chega a chorar; afunda o rosto nas mãos, esfregando a própria face. Ao olhar de novo ao filho, chama o mesmo para entrar na casa e comer alguma coisa. 

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