3 | "O maldoso segundo protagonista"

192 20 27
                                    


Sob a luz do luar que caia sobre uma pequena aldeia, longos fios prateados eram embelezados pelo vento.

À medida que o cavalo adentrava na aldeia banhada por luminárias feitas a mão, música invadia os ouvidos da bailarina. As cordas vibrando, o tilintar insistente em se manifestar, as palmas que as mãos dos plebeus faziam em meio a multidão a fazia sentir repulsa devido a nostalgia. Seus pés que outrora encantavam espetáculos de balé com passos cada vez mais desafiadores agora corriam como loucos para a salvar do perigo de estar no corpo de outra pessoa.

 Quatorze luas se passaram desde que possuiu o corpo de Sylvia Pedelian. Quatorze luas de puro inferno agonizante.

Além de Cassis Pedelian a vigiando dia e noite e a falta de uma explicação decente para como havia entrado no mundo de uma novel, ainda tinha que lidar com o corpo da protagonista que descobriu ser fraco e indisposto para o mínimo esforço possível. Sylvia era fraca, delicada e sedentária como uma verdadeira protagonista que é salva pelo príncipe. 

Nem mesmo os medicamentos que ordenou que sua criada comprasse fizeram efeito. Tanto tempo perdido fez com que sua mente entrasse em desespero. Não haviam aliados, armas ou segredos que pudesse usar para se defender. Estava sozinha.

E nada saia como planejado.

Apesar de ter encontrado uma rota de fuga, não havia lugar para onde pudesse ir. Para onde fugisse os pedelianos poderiam a encontrar ou pior, Lant Agriche poderia a encontrar. Considerando seu corpo frágil e indisposto, certamente morreria na primeira sessão de tortura proposta pelo patriarca da maldosa família Agriche.

E havia Roxana também.

— Que droga!

Resmungando baixinho em cima do cavalo a garota obrigou o animal a ir mais devagar com a ajuda das rédeas e após avistar uma taverna próxima depositou algumas moedas na mão do primeiro estranho que encontrou após constatar que ele cuidaria de qualquer cavalo próximo por algo de valor. O homem nada disse, apenas acenou com a cabeça e proferiu em voz alta "uma hora".

Era mais do que necessário. 

Se camuflando em meio a multidão que dançava e cantava com alegria, a pedeliana procurou algo que chamasse sua atenção. Considerando que vestidos e jóias não estavam em seu orçamento, estava ficando difícil encontrar o que procurava já que a feira que estava sendo realizada pelos aldeões parecia querer atrair as jovens senhoritas para que comprassem mais e mais vestidos.

E havia as barracas onde a comida de rua era servida.

— Com licença. Senhora? Sabe onde posso encontrar armas?

— Armas? Você não é muito jovem para estar interessada nisso, senhorita? — Arregalando levemente os olhos a pedeliana levou a mão direita em direção ao capuz com o objetivo de cobrir mais e mais o próprio rosto. — Siga aquele grupo de senhoritas de vermelho e vire à esquerda. Vai encontrar o que procura.

— Obrigada.

Proferindo um xingamento baixo a jovem seguiu as quatro senhoritas que usavam vermelho ignorando a conversa desnecessária. Garotos, flores e novamente vestidos. Por Deus, se encontrasse ou sequer ouvisse a palavra vestido novamente iria surtar com tantos de cores e tecidos variados. Chegava até mesmo a se perguntar como alguns tinham tanto exagero nas saias e mangas.

— Finalmente algo útil. — Encarando a enorme placa que evidenciava uma promoção a prateada entrou no estabelecimento sem bater na porta apenas para encontrar tudo o que procurava. Objetos cortantes de todos os tamanhos, arcos e flechas, espadas e até mesmo o que tanto queria, uma besta idêntica a usada por uma protagonista de outra novel. 

Flor do inferno ━ The way to protect the female lead's older brotherOnde histórias criam vida. Descubra agora