6 | Olhos de safira

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Quando o sol se fez ausente e o luar banhou o céu com suas estrelas, os pássaros repousaram e os vaga-lumes dançaram no ar.

Ainda assim Sylvia Pedelian não conseguia descansar. 

Seus pés brincavam com as duas garrafas de vinho vazias sobre o chão enquanto a saia com duas fendas lhe causava arrepios por não protegê-la do frio que as janelas abertas proporcionavam. Na mão esquerda uma taça de vinho prestes a acabar se exibia em meio as belas unhas pintadas de azul, enquanto na mão direita o pincel que usava já se encontrava com as cerdas duras pela tinta já ter secado.

O último quadro que restava no quarto infelizmente não teve o mesmo destino.

A paisagem decorada pela grama verde esmeralda era elegante e convidativa, exibindo algumas árvores e raios de sol do lado esquerdo, ao direito alguns arbustos e bem no centro uma figura alta com belos olhos azuis. Era Jeremy Agriche. O lunático e infame segundo protagonista, ou apenas o garoto responsável pelas suas noites de sono mal dormidas.

A verdade era que desde o encontro com o rapaz, Sylvia não conseguiu dormir uma noite sequer, encontrando consolo em vodka e em sua paixão pela arte que apenas a levou a pintar quadros e mais quadros com o rosto do bastardo em questão. Agora encarando o último que havia restado ofendeu a si mesma por não ter terminado de destruir a pintura com a faca que havia arremessado no canto do quarto.

A pedeliana respirou fundo usando as últimas forças que tinha para deixar o banquinho em que estava acomodada e derrubar o quadro no chão. 

Quando encarou o quarto a sua frente questionou a si mesma como havia chegado em tal estado, os quadros jogados sobre a cama, a tinta espalhada pelo chão os pincéis que havia usado faltando na maleta e o péssimo estado de suas vestimentas resumiam a palavra desastre. Ela abraçou o próprio corpo para afastar o frio e finalmente notou que a noite já havia chegado.

Era linda a paisagem do lado de fora. Parecia que a qualquer momento poderia fugir em meio aquela floresta e nunca mais ser vista por ninguém.

Ela sorriu e encarou as pinturas no chão, todas continham o rosto de Jeremy gravado em cores fortes. Nelas era visível no que sua casa havia o transformado. Jeremy Agriche não seria derrotado por uma garota magricela e Lant Agriche também não. Eram como o demônio e o anti-cristo, precisava de mais para derrotá-los.  

A pedeliana suspirou finalmente notando uma leve dor de estômago por não ter comido nada o dia inteiro. Em passos lentos caminhou até a porta do quarto onde sua única criada aguardava do lado de fora. Me traga uma sopa quente e algum medicamento para dormir, foram as únicas palavras que a lady de cabelo prateado proferiu antes de voltar para a cama em passos lentos.

A fraqueza nem mesmo permitiu que ela tirasse o enorme quadro de cima da cama, ela apenas o afastou e se acomodou em meio aos lençóis podendo sentir o cheiro de tinta fresca. 

Quando a criada adentrou pela porta com uma bandeja com sopa e alguns pães não pode deixar de notar a bagunça e o rapaz gravado nos quadros de tamanhos variados, no mesmo instante sua mente obrigou a própria boca a ficar fechada já que sua senhorita odiava curiosos e ainda que estivesse fraca sobre a cama, temia de onde a mais nova tiraria forças para a castigar.

 Com as mãos tremulas a mais velha deixou a bandeja sobre o pequeno móvel ao lado da cama e com a ajuda de uma colher levou um pouco de sopa em direção a sua senhorita que permanecia imóvel na cama. Sylvia abriu os olhos com fúria após um pequeno pigarreio todavia ao ver a colher tão próxima de sua boca admitiu a si mesma que não conseguiria levantar e ir até a mesa para comer com suas próprias mãos.

Flor do inferno ━ The way to protect the female lead's older brotherOnde histórias criam vida. Descubra agora