IV

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Descobri a dor do devir. A gata morrera. Juro que foi ela que me deu a boa-nova. Chorei a pensar nela toda a noite. Juro, eu já falei com ela, no passado, uma vez ou duas. Deu-me o presente da sua presença, senti-o, conversamos. Depois vi-a, a gata, inanimada dentro do saco de plástico, a abanar com cada passo. A visão nauseou-me. Como é possível não terem cuidado com o seu corpo, vazio agora, é certo, mas que foi o abrigo desta fase da sua existência? Olhei a árvore, no brilho já longe dos cadeeiros de rua, e ouvi a enxada a bater na terra. Os pensamentos abrandaram, ouso até dizer que desapareceram. Senti a plena realidade, vivi nela, existi nela.

"Que árvore é esta?", perguntei. "É uma oliveira." Sorrimo-nos.

TemperançaOnde histórias criam vida. Descubra agora