Saio do banco do motorista me tremendo pelo nervosismo e pela ansiedade em excesso. Não é possível que reprovei pela segunda vez no exame prático para tirar a habilitação de motorista e tudo porque minha cabeça só consegue pensar nas consequências da minha falha e como seria extremamente importante eu ter essa merda dessa carta. Se eu sei o que devo fazer e as técnicas certas para acertar a porcaria da baliza? Óbvio que sei! Sei que consigo passar pela baliza, pela rampa e completar todo o trajeto mas a minha mente me sabota ao ficar pensando no que eu passaria caso eu falhasse. Na verdade, o caso iria se repetir pela segunda vez e eu não saberia como reagir. De novo.
Me apoio no carro depois de fechar a porta do motorista e respiro fundo. Eu falhei de novo ao fazer o carro encostar no cone na frente e não tinha como voltar atrás e nem adiantaria implorar pro examinador ignorar o ocorrido e me deixar seguir com a prova. Tentei me recompor como dava ali no momento, ajeitei a postura mas continuei com a cabeça baixa ao abrir a porta traseira do carro e pegar minha mochila com as minhas coisas.
- Sabe... - o examinador chamou minha atenção - Você foi muito bem, não desista! E na próxima, tenta controlar um pouco mais o nervosismo que eu tenho certeza que você passa - disse tentando me confortar.
- Obrigada... - murmurei baixinho e respirei fundo antes de ir em direção ao meu acompanhante que me esperava.
Alexander estava parado no mesmo lugar perto do carro dele com os braços cruzados, o que deixava mais ainda os músculos do seu braço chamativos. Respirei fundo e segurei forte na alça da mochila ao me aproximar dele dando um sorriso sem graça.
- Eu... não consegui de novo - falei mantendo meu tom de voz baixo.
- É, eu vi - ele falou frio o que me fez dar uma leve encolhida - Mas ta tudo bem, amor! Na próxima você passa - completou rapidamente me puxando pra um abraço.
Dei uma leve estranhada na mudança repentina do tom de voz dele mas quando dei uma olhada para o lado percebi que tinha pessoas por perto.
Era sempre assim. Quer dizer, começou cerca de um ano atrás.
Namorava com Alex já tinham três anos e meio. No começo, ele era um verdadeiro príncipe e nossa relação não era tão conturbada, só haviam algumas discussões e desentendementos mas nada que uma conversa não resolvesse. Até um ano atrás...
• Flashback on •
Estava terminando de me arrumar para irmos no enterro da avó do Alex. A senhora que o criou depois que a mãe o abandonou quando ele tinha somente quatro anos dizendo que a criança dava problema demais para ela, meses depois ela foi encontrada na rua após uma overdose.
Enfim, terminei de me arrumar e fui beber um copo de água antes de sairmos. Alex estava tão distante esses dias, mas eu tentava ao máximo compreender a dor que ele sentia. Perder alguém tão próximo não deve ser mesmo tão fácil. Passei por ele que estava passando sua camisa na sala, fiz um carinho nas suas costas e dei um beijo no seu ombro. Tentava ao máximo mostrar para ele que estava ali por ele sempre que ele precisasse. Segui em direção a cozinha, enchi meu copo e fiquei olhando pela janela da cozinha, o tempo estava fechado e parecia que iria chover. Quando fui me virar acabei trombando com ele e molhando sua camisa. Eu não tinha nem escutado ele se aproximando, não imaginava que estava logo ali atrás de mim.
- Porra, Allissa! Acabei de passar essa merda! - ele gritou comigo.
- Nossa, amor... desculpa, não tinha te visto - deixei o copo em cima da bancada e peguei um pano tentando dar uma secada na parte molhada.
- Se afasta, caralho!
Logo depois dele esbravejar senti minha bochecha esquerda queimando. Ele havia me batido com o dorso da mão. Levei a mão a região e senti ela quente e sensível, o olhei com os olhos lacrimejando mas o homem na minha frente estava mais preocupado com sua camisa molhada.
- Fique pronta logo, vou ir trocar essa bosta e já vamos sair - disse ainda bravo e saindo da cozinha tirando sua camisa para trocá-la.
Andei até a sala ainda meio atordoada. Ele tinha me batido e ainda esperava que eu saisse com ele por ai? Pelo espelho que tínhamos ali na sala vi que minha bochecha estava avermelhada, respirei fundo segurando o choro e foquei meu olhar num ponto fixo no chão. Eu tinha acabado de apanhar do meu namorado, do cara que eu confiava fielmente. Senti que ele se sentou do meu lado e passou um braço pelo meu ombro.
- Meu Deus, Ally... - ele disse com a voz chorosa - Me perdoe, eu to tão nervoso e fora de mim hoje que fiz sem pensar... deixa eu ver como está.
Respirei fundo concordando com a cabeça e me virando pra ele olhar. Ele passou os dedos delicadamente pela marca no meu rosto e suspirou.
- Me desculpa, amor, eu to muito mal com isso - ele deixou um beijo suave na bochecha - Não vai acontecer mais, nunca mais!
- Fique tranquilo... ta tudo bem, isso logo sai... - disse dando um sorrizinho - Vamos senão vamos nos atrasar.
• Flashback off •
Aquele dia eu tinha o perdoado pois realmente sabia que ele estava fora de si. Achei mesmo que seria a primeira e a última vez que aquilo tinha acontecido, mas eu estava enganada.
Nem percebi que estava dentro do carro dele e estávamos já chegando em casa. O carro estaria em silêncio se não fosse pela música que tocava no rádio, mas eu não saberia dizer qual era. Eu não conseguia me concentrar em nada, só pensar no que eu passaria assim que a porta do apartamento se fechasse.
- Sabe... eu to me cansando - ele soltou quebrando o silêncio - É a porra de uma prova básica e você é burra o suficiente para não passar nessa porra! Você sabe que eu não aguento mais ficar sendo seu motorista! Já passou da hora de você aprender a dirigir para eu poder sair para beber com meus amigos.
Susperei vendo ele estacionar dentro do condomínio e rapidamente descendo e vindo pro meu lado do carro. Ele abriu a porta com rapidez e me puxou pelo braço com força para fora do veículo me colocando contra ele com brutalidade.
- Você é uma vadia burra - ele disse com o rosto próximo ao meu - Você não serve para o mínimo!
- Você ta me machucando... - falo baixo sentindo meu braço doer.
Isso fez com que ele se afastasse rapidamente e me empurrasse em direção ao elevador. Ele estava irritado e emanava isso. Infelizmente não passamos por ninguém no caminho até o apartamento, eu nunca tive sorte o suficiente para isso. Assim que entramos e a porta se fechou, ele voltou a apertar meu braço no mesmo lugar que estava dolorido e me jogou no sofá.
- Eu vou sair porque tenho que trabalhar - disse ajeitando seu cabelo - Quando eu voltar espero que esteja pronta porque iremos sair hoje.
Ele saiu batendo a porta. Depois de escutar o elevador descendo, me permiti chorar. Tirei o moletom que usava e vi a marca que sua mão tinha deixado no meu braço. Levantei e fui passar pomada para evitar que ficasse pior.
Eu tinha que lidar com isso.
Eu não tinha para onde ir.
Notas da autoraprimeiro cap liberado!
já vou começar a escrever o próximo, me digam, o que acharam?
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Clave de Sol - Sammy Wilk
Fanfiction[CONCLUÍDA] - Segunda temporada disponível Sair de um relacionamento tóxico não é fácil. Ver alguém que você ama nessa situação e não poder fazer nada para ajudar é horrível. Nessa história Samuel Wilkson, conhecido como Sammy Wilk, conhece uma gar...